O seqüestro do repórter da TV Globo, Guilherme Portanova, pode ter sido orientado por Maurício Hernandez Norambuena, seqüestrador do publicitário Washington Olivetto. O chileno será ouvido na investigação do caso, assim como líderes do crime organizado em São Paulo e seus advogados.
A Secretaria de Administração Penitenciária não confirma, mas Norambuena estaria preso na penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes, onde estão alguns líderes da facção, como Marcos Camacho, o Marcola.
No documento em que denuncia 25 líderes do crime organizado pelos ataques ocorridos em São Paulo desde maio, o Ministério Público pede às autoridades que separem os criminosos que possuam conhecimento de 'técnicas terroristas'. Não é a primeira vez que é feita uma ligação entre os recentes ataques do crime organizado e o seqüestrador chileno, que cumpre pena de 30 anos pelo seqüestro de Olivetto, ocorrido dezembro de 2001. Durante as investigações sobre a primeira onda de atentados no estado, em maio, a polícia chegou a afirmar que a organização criminosa teria aprendido a operar por 'células' com Norambuena.
Norambuena foi chefe da FPMR (Frente Patriótica Manuel Rodríguez), organização de extrema esquerda, derivada do MIR chileno, que acabou se transformando numa quadrilha de crimes comuns.
Métodos terroristas
"Este tipo de organização é de todo assemelhado a métodos terroristas e envolve autonomia, flexibilidade e isolamento com relação a outras células, de modo que a identificação de uma não leva necessariamente à identificação dos demais", diz o documento do MP ao descrever a hierarquia e distribuição de funções dentro da facção criminosa.
O documento do MP pede ainda que seja feito controle sobre visitas de advogados e familiares recebidas por líderes do crime organizado, além de imediata instalação de bloqueadores de celulares nos presídios. Segundo os promotores, a atividade dos criminosos seria reduzida se as ordens levassem semanas para chegar ao restante da quadrilha, não minutos. Para o MP, já existem bloqueadores capazes de cumprir a função e que podem ser atualizados quando mudar a tecnologia dos aparelhos.
O MP afirma ainda que os criminosos já não precisam mais de linha de telefonia fixa para operar suas centrais de comunicação, mas apenas de celulares.
No documento encaminhado à Justiça, o Ministério Público informa que o crime organizado abandonou a estrutura piramidal de comando e passou a atuar por células de comando por áreas da cidade, descentralizando as atribuições mas mantendo unidade de comando.
Além dos "pilotos", teriam sido acrescidas à organização as figuras das "torres" (líderes que tomam decisões de última instância), sintonias (pessoas responsáveis pela comunicação dentro da quadrilha), disciplina (indivíduos que cobram dos demais a tarefa que lhes fora destinada), e bicho-papão (pessoa que arrecada o lucro das ações criminosas). O MP reafirma que advogados agem como pombos-correio da facção, como foi detectado na CPI do Tráfico de Armas. A advogada Maria Cristina Rachado, que prestava serviços a Marcos Camacho, está entre os indiciados pelo MP.