O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, intimou nesta terça-feira, 21, os defensores da maior empreiteira do País a explicarem anotações feitas pelo próprio presidente da companhia, Marcelo Bahia Odebrecht, em seu telefone celular.
Temer diz que sigla ‘MT’ no celular de Odebrecht é apenas ‘inferência’ da PF
O vice-presidente do Brasil, Michel Temer, atribuiu a uma “inferência” da Polícia Federal a associação da sigla “MT” - que constaria de mensagens em um celular apreendido do presidente da Odebrecht, - a seu nome. “Esse MT pode ser tanta coisa, é uma sigla de muitos nomes e muitas instituições”, disse na tarde desta terça-feira, 21, a jornalistas logo após fazer uma palestra para investidores em Nova York, no qual foi questionado várias vezes, segundo participantes, sobre a situação política complicada no país.
“Não sei dizer porque atribuíram a mim. Eu não consigo entender e não tenho nenhuma relação com fatos delituosos”, afirmou Temer, destacando que “dezenas” de outras inicias também teriam aparecido nas mensagens. “Eu não tenho a menor ideia”, disse Temer, afirmando que conhece o presidente da construtora, Marcelo Odebrecht. “Eu até nem sei se a Odebrecht colaborou com o PMDB. Várias empresas colaboraram, eu mandei verificar se colaborou”, afirmou. “É uma inferência da Polícia Federal, não sei se legítima ou ilegítima”, completou.
Ainda na entrevista, questionado sobre a nova queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff, revelada hoje em pesquisa da CNT/MDA, que mostra a taxa de aprovação da dirigente em 7,7%, um novo recorde negativo, Temer afirmou que a baixa aprovação de governos é cíclica. “Vamos esperar o futuro.”
Sobre a defesa da presidente Dilma Rousseff para as chamadas pedaladas fiscais, que tem que ser apresentada até esta quarta-feira, Temer disse que os documentos estão “juridicamente muito bem montados”. Após os dois compromissos de hoje, Temer vai tirar uns dias de folga em Nova York antes de voltar para o Brasil.
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Para a Polícia Federal, há indícios de que o empresário, preso desde 19 de junho, lançou mão de uma estratégia de confrontar as investigações da Lava Jato, buscando criar “obstáculos” e “cortinas de fumaça”, que contaria com “policiais federais dissidentes”, dupla postura perante a opinião pública, apoio estratégico de integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ataques às apurações internas da Petrobras.
“O trecho mais perturbador é a referência à utilização de ‘dissidentes PF’ junto com o trecho ‘trabalhar para parar/anular’ a investigação”, alerta o juiz da Lava Jato. Para Moro, “sem embargo do direito da defesa de questionar juridicamente a investigação ou a persecução penal, a menção a ‘dissidentes PF’ coloca uma sombra sobre o significado da anotação”.
Nas 64 páginas do relatório de indiciamento de Marcelo Odebrecht, Márcio Farias, Rogério Araújo e outros executivos, a PF traça um panorama a partir das anotações do presidente da Odebrecht, de e-mails e materiais apreendidos, para apontar tal conduta do empresário - indiciado por corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e crime contra a ordem econômica.
“Considerando a aparente gravidade dessas anotações, antes de extrair as possíveis consequências jurídicas, resolvo oportunizar esclarecimentos das Defesas dos executivos da Odebrecht, especialmente das de Marcelo Odebrecht, Márcio Faria e Rogério Araújo, acerca das referidas anotações”, afirmou Moro, que deu prazo para as defesas até a próxima quarta-feira, 23.
Um dos pontos da conduta atribuída à Odebrecht para tentar neutralizar as investigações seria a “utilização de ‘dissidentes’ da Polícia Federal. No Relatório de Análise 417/2015, da PF no Paraná, consta: ‘Marcelo ainda elenca outros passos que devem ser tomados identificando-os como ‘ações B’, tido aqui como uma espécie de plano alternativo ao principal.”
Em uma das anotações, foi identificada uma suposta menção a Marcio Faria e Rogério Araújo: “( ) MF/RA: não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim Higienizar apetrechos MF e RA Vazar doação campanha. Nova nota minha mídia? GA, FP, AM, MT, Lula? Ecunha? ( )”
“Em análise sumária e embora tudo esteja sujeito à interpretação, MF e RA aparentam ser referências aos coinvestigados e subordinados de Marcelo Odebrecht, Márcio Faria e Rogério Araújo. Aparentemente, a anotação indica que ambos estariam sendo orientados a não movimentar suas contas e que, no caso de sequestro e confisco judicial, seriam reembolsados. A referência a ‘higienizar apetrechos MF e RA’ sugere destruição de provas, com orientação para que os aparelhos eletrônicos utilizados por Márcio Faria e Rogério Araújo fossem limpos, ou seja, que fossem apagadas mensagens ou arquivos neles constantes eventualmente comprometedores. ‘Vazar doação campanha’ é algo cujo propósito ainda deve ser elucidado, mas pode constituir medida destinada a constranger os beneficiários”, aponta Moro.
“Outras referências como a ‘dossiê’, ‘blindar Tau’ e ‘expor grandes’ são igualmente preocupantes”, afirmou. “Por outro lado, nada indica que essas anotações eram dirigidas aos defensores de Marcelo Odebrecht, não havendo, em princípio, que se falar em violação de sigilo legal. Não é crível ademais que ele orientasse seus advogados ou recebesse orientação de seus advogados nesse sentido. De todo modo, ainda que assim não fosse, o sigilo profissional também não acobertaria o emprego de estratagemas de defesa ilícitos, por exemplo a destruição de provas.”
Outro lado
Segundo a empresa, as defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa. Em relação a Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas, dentre outras. O Relatório da Polícia Federal presta um desserviço à sociedade e confunde a opinião pública ao estabelecer suposições a partir de anotações pessoais de Marcelo Odebrecht, quando deveria ater-se a fatos concretos. Apenas no anexo 11 do referido Relatório constam 16 variantes de termos como “presume-se”, “possivelmente”, “é possível que” e “pode ser”... A Odebrecht repudia especialmente a intenção de atribuir ao diretor-presidente da holding pretensas intenções extraídas de raciocínios especulativos, com o objetivo claro de prolongar prisão que, como a dos demais executivos que atuaram na Odebrecht, é totalmente ilegal e abusiva. Em relação ao despacho do Juiz Sergio Moro, as defesas responderão dentro do prazo legal.
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