Na segunda visita a Salvador no semestre - esteve na cidade em 6 de agosto -, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) voltou a criticar a antecipação da campanha eleitoral, mas admitiu que "gostaria" de ser presidente do País. "Se você me pergunta: 'você gostaria de ser presidente da República?', eu diria: gostaria. Eu me acho preparado para isso, eu saberia como desempenhar", contou. "Mas isso não é uma escolha pessoal, é uma escolha da população, das circunstâncias. As circunstâncias estão dadas e teremos novas. Vamos aguardar, continuar trabalhando, discutindo, debatendo. Que é o que eu tenho feito."
Serra cumpriu agenda de candidato na capital baiana. Logo após chegar à cidade, no fim da manhã, concedeu uma entrevista de 45 minutos à rádio Tudo FM. Em seguida, almoçou com colegas de partido e apoiadores, reuniu-se com o prefeito ACM Neto (DEM) e, no início da noite, proferiu uma palestra sobre desenvolvimento econômico para integrantes da Associação Baiana de Supermercados (Abase).
Apesar de criticar a antecipação do processo eleitoral, o tucano não poupou o governo federal e o PT de críticas. "A questão eleitoral começou cedo demais no Brasil e isso não foi bom nem para o governo", avalia. "A (presidente) Dilma (Rousseff) passou dois anos perplexa com a herança que recebeu do governo (do ex-presidente) Lula, do qual ela participou, e passou dois anos mais, agora, fazendo campanha. Governar, que é bom, não aconteceu. Não foi bom para o País e nem para eles, porque botou todo mundo em evidência e aí tudo é julgado em função da eleição."
O ex-governador também afirmou que o PT se transformou em um "partido tradicional". "O PT posa de esquerda, mas é só pose, é um partido tradicional", disse. "Sua diferença com os outros é que ele é corporativo. Não tem utopia nenhuma de sociedade, de desenvolvimento, de igualdade, de nada, mas tem a organização. É um partido que quer se apropriar do poder, tratar o governo como se fosse uma propriedade privada."
Para Serra, "a oposição não deveria ter entrado" no jogo eleitoral. "É tudo muito prematuro - e uma das consequências foi essa surpresa do fenômeno de juntar a futura Rede, da Marina Silva, com o PSB, do (governador) Eduardo Campos", argumentou. "Começar tão antes (o processo eleitoral) prejudica o Brasil. E a própria oposição também fica desnorteada, porque fica na correria em todos os lugares para definir (os candidatos)."
O tucano afirma que seu partido ainda não decidiu qual será o candidato e não esconde a esperança. "No PSDB, vamos tomar essa decisão a partir de março e qualquer especulação maior daqui até lá não leva a lugar nenhum", disse. "Ninguém se inscreveu como pré-candidato. O improvável acontece. O improvável não é impossível."
Pesquisa
Serra também comentou a pesquisa Ibope divulgada na tarde desta quinta-feira, 24, na qual aparece com mais intenções de votos que seu colega de partido, o senador mineiro Aécio Neves, nos cenários apresentados. "A pesquisa segue as outras. Quando estão meu nome e o da Marina, estamos no mesmo nível. Quando entram os outros candidatos (Aécio e Campos), que nunca disputaram, estão abaixo, o que é normal. Ainda tem muita coisa para acontecer."
Para o ex-governador paulista, o fato de ele ser conhecido no País é um capital político do PSDB. "Meu grau de conhecimento junto à população é o mais alto depois do Lula e da Dilma no País, minhas opiniões são ouvidas, levadas em conta", argumentou. "Tudo o que eu possa fazer só fortalece o PSDB, nossa posição do ponto de vista da presença junto à população e, futuramente, do ponto de vista do debate eleitoral."
Ele negou, porém, que as viagens que vem fazendo possam ser interpretadas como campanha. "Estou fazendo a mesma coisa que fiz sempre, tenho feito palestras pelo País", disse. "Mas como houve essa antecipação absurda da disputa eleitoral, feita pelo PT, pelo Lula particularmente, elas adquirem outra conotação diante da imprensa, mas não tem nada de mais."