O candidato de oposição à presidência da República José Serra (PSDB) está em pleno fogo cruzado depois que deixou da liderança das pesquisas de intenção de voto e viu a rival governista Dilma Rousseff (PT) passar à frente pela primeira vez.
É consenso entre analistas que se debruçam sobre o julgamento do desempenho do tucano que ele atua em uma linha tênue entre se posicionar de maneira contrária ao governo e atender aos anseios de uma população que deseja, segundo sondagens, o avanço dentro de uma situação que lhe é favorável.
A menos de quatro meses da eleição, Dilma atingiu 40 por cento intenções de voto e Serra, 35 por cento, como indicou o Ibope. A petista foi vencendo pouco a pouco a barreira dos baixos índices, enquanto o tucano atingiu sua máxima (40 por cento) em abril.
"Serra tem o discurso da continuidade, mas está na oposição", apontou à Reuters o cientista político Marcus Figueiredo, professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
A contradição é resumida no comentário de outro cientista político, Sebastião Velasco e Cruz, da Unicamp, que previu para a oposição um discurso "melhorista", em que praticamente tudo seria mantido em um futuro governo, mas com melhorias.
Pesquisas do Ibope, segundo Márcia Cavallari, diretora-executiva do instituto, indicam que o eleitor está buscando um candidato que consiga avançar dentro da continuidade.
A executiva cita o aumento do poder de compra, maior acesso a serviços e possibilidade de planejar o orçamento sem viver apenas a cada minuto, como na época da inflação disparada.
"É uma situação mais difícil para ele (Serra) achar o discurso na campanha porque o desejo da continuidade é grande", afirmou.
De um postulante claramente de oposição se esperaria mais um projeto alternativo, para se diferenciar da candidata petista, identificada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não se trata de uma alternativa dizer que vai continuar o Bolsa Família e melhorar", exemplifica Figueiredo, para quem o tucano não oferece propostas radicais, como maior inserção do Brasil na globalização, simplesmente por ser nacionalista e não acreditar nelas.
A diretora do Ibope não julga, no entanto, que o cenário eleitoral esteja fechado. Acredita que até agora Dilma cresceu e se consolidou, mas os próximos passos terão o ingrediente da campanha eleitoral oficial de rádio e TV, que tem início em agosto, além da realização de debates entre os candidatos.
Mauro Paulino, diretor-geral do instituto Datafolha, já vê características de segundo turno, pela troca de votos entre os dois principais candidatos. "A única forma de angariar voto é roubando do outro", disse.
Ele acredita que o comportamento da candidata Marina Silva (PV), em terceiro nas pesquisas, também conta para apontar o cenário. Se ela cair da faixa atual de 10 a 12 por cento para 7 por cento, por exemplo, a chance de solução no primeiro turno cresce.
Pesquisa Ibope publicada nesta semana mostrou Marina com 7 por cento no cenário que considera também os candidatos dos chamados partidos "nanicos".
Efeito Ciro Gomes
A subida de Dilma tem ainda outro fator. Ausente da disputa presidencial, o deputado Ciro Gomes (PSB) deixou uma herança de votos que não consegue ser computada pelos institutos pela simples razão de que este efeito não é medido pelas pesquisas. Não se pergunta se o eleitor que afirmava votar em Ciro dá seu voto agora a Serra ou Dilma.
Paulino, do Datafolha, afirmou em abril, quando Ciro abandonou a possibilidade de entrar na disputa presidencial, que havia uma tendência de Serra absorver seus votos, alegando que, no segundo turno, naquele momento, a maior parte dos eleitores do PSB do primeiro turno iriam para o tucano.
Agora Paulino crê que a migração tenha sido em direção a Dilma, uma vez que é ela que está crescendo, mas não tem como indicar a proporção.
Para o professor Figueiredo, Dilma levou mais votos de Ciro do que se esperava, já que os eleitores do deputado demonstravam descontentamento com pontos do governo Lula.
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