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Pedro Simon, senador | Moreira Mariz/Agência Senado
Pedro Simon, senador| Foto: Moreira Mariz/Agência Senado

Sem descer da tribuna por 4h30, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez nesta quarta-feira (10) um pronunciamento de despedida do Senado e dos seus mais de 60 anos de vida pública. Emocionado e sem conter o choro, Simon destacou a atuação de Joaquim Barbosa como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento do caso do mensalão e do juiz federal Sérgio Moro, no caso da operação Lava-Jato. O senador gaúcho disse que os dois foram "abnegados" na luta de combate à corrupção. Ele disse que ainda sonha com uma reforma política e com a ética na política.

Simon foi aplaudido de pé e secou os olhos com um lenço, mas não conseguiu conter o choro. Ele completará 85 anos no 31 de janeiro de 2015, coincidindo com o fim do seu quarto mandato, sendo três consecutivos. São 32 anos de mandato como senador, estando desde 1990 nesta Casa. Simon ficou das 14h50m às 19h16m discursando. Ao final, ganhou de presente o microfone que usou por tantos anos, dos senadores e dos funcionários.

No plenário, estava presente toda da família do senador, como a mulher Ivete, os dois filhos e a neta. Dezenas de senadores fizeram apartes em homenagem ao senador. Durante todo o discurso, Simon citou palavras de São Francisco, fazendo inclusive uma adaptação da chamada Operação de São Francisco, e ainda versos dos poetas Mário Quinta, seu conterrâneo, e do chileno Pablo Neruda. "Bem-aventurado Joaquim Barbosa! Bem-aventurado Sérgio Moro! Bem-aventurados todos aqueles que, abnegados, gritam e lutam contra a corrupção e contra a impunidade! Bem-aventurados os que, apostolados, empunham a bandeira da ética na política. Bem-aventurados sejam todos os que, por meio de assinaturas e da pressão sobre o Congresso Nacional, alcançaram êxito na aprovação da Lei da Ficha Limpa", disse Simon, com os conhecidos gestos com os braços e sempre enfático. "O Supremo Tribunal Federal deu um enorme passo ao combater o que eu sempre defendi ser o maior de todos os males brasileiros: a impunidade. O julgamento do mensalão pode ter sido um divisor de águas."

Aos colegas, começou contando que desde "guri" já participava da vida política, comparecendo ao enterro de Getúlio Vargas, em 1954. "Em seis décadas, vou experimentar, pela primeira vez, uma vida sem o meu nome nas urnas. Votar, sem ser votado; escolher, sem ser escolhido.No meu primeiro minuto daquele dia, terei eu 85 anos. E a minha querida neta Isabela, presente de Deus que veio ao mundo exatamente no dia do meu aniversário, completará três anos", disse Simon, emocionado: "Quis Deus que a minha presença nos acontecimentos mais importantes da história de nosso País acontecesse. Foram seis décadas de vida pública. Saio daqui como entrei: ainda um aprendiz."

Simon subiu à tribuna às 14h52m. Quando encerrou a primeira parte do discurso, foi aplaudido de pé. "Bravo! Bravo!", gritava o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), dizendo que o gaúcho foi seu "professor e irmão". Durante o discurso, Simon citou ainda o escândalo da Petrobras: "Os escândalos da Petrobras, pelo que aquela empresa significa na nossa história de luta pela soberania nacional, é algo assim como uma punhalada traiçoeira em quem tem, de fato, coração valente. Que não morre, mas sangra."

Tendo participado da Assembleia Nacional Constituinte de 1988, Simon disse que "sonha" com uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva para fazer uma "verdadeira reforma política, ética e moral do povo brasileiro". Ele disse que deixa a vida pública, mas que o "malfeito permanece na política brasileira". Diante dos colegas, Simon disse que o Congresso fez "ouvidos moucos" para os gritos das ruas, das manifestações. "A Lei da Ficha Limpa foi uma das votações mais inteligentes e mais memoráveis do Senado, um grande passo rumo à moralidade na representação política", disse Simon.

Neste ano, Simon enfrentou o desgaste de ter uma derrota avassaladora no Rio Grande do Sul. Ele havia desistido de disputar, mas voltou atrás quando o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) foi alçado a vice na chapa de Marina Silva na campanha pela Presidência da República.

Foi uma fila interminável de discursos em homenagem ao senador. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), lembrou a luta de Simon pela redemocratização ao lado de Tancredo Neves. "Vejo o enorme paralelo, entre a trajetória de Tancredo e a sua trajetória. E talvez, por isso, durante tantas décadas militaram juntos. Com mandato desde o ano de 1959, é hoje entre nós o mais bem acabado exemplo de que a vida pública e a honradez, a vida pública e a ética, a vida pública e o compromisso com aqueles que mais precisam são absolutamente indissociáveis", disse Aécio Neves.

"O senhor vai embora, o senador Sarney vai embora e eu ficarei sozinho. Somos os veteranos", acrescentou o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). A bancada gaúcha estava em peso ao lado de Simon: os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Ana Amélia (PP-RS), além do eleito Lasier Martins (PDT-RS), que assumirá a vaga de Simon. "Foram 12 anos ao seu lado!", disse Paim.

"Sou um admirador inconteste de sua trajetória brilhante", destacou o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP). No PMDB, onde Simon sempre teve embates com figuras como o próprio senador José Sarney (PMDB-AP), coube ao senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) as maiores homenagens. Fundadores do partidos, os dois sempre se referiam a ele como "MDB". "O senhor está sendo muito pouco ouvido", disse Jarbas.

O amigo Luiz Henrique (PMDB-SC) fez dois apartes e citou Lupicínion Rodrigues e sugeriu que deixassem a cadeira de Simon vazia no plenário de forma permanente.

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