Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, afirmou, em seu acordo de delação premiada, que criou um sistema próprio para entrega de dinheiro a políticos quando não se tratava de doações de campanha declaradas à Justiça Eleitoral.
A entrega da propina, segundo Machado, funcionava da seguinte maneira: ele procurava “diretamente o dono ou o presidente” da empreiteira e pedia o dinheiro; após a resposta positiva, inventava o nome de uma pessoa que iria procurar os recursos em endereço e data previamente indicados pela empreiteira; Machado depois procurava o político ou um preposto dele e passava as informações do local da entrega do dinheiro e o codinome que ele havia inventado anteriormente e que deveria ser usado na apresentação.
Dessa forma, disse o delator, a empreiteira não tinha certeza sobre a identidade do político beneficiado e também o político não tinha certeza sobre qual empresa estava pagando a propina. “Nenhuma das partes (empresa e políticos) sabia quem era quem, a não ser no caso das doações oficiais”, afirmou o delator, em depoimento. Machado disse que, dessa forma, ele desempenhava o papel de intermediário que fazia a propina circular da empresa para o político. Alguns dos nomes inventados foram Francisco, Ricardo, Abílio, Fernando, André, Antonio e Pedro.
O delator contou ter adotado o esquema também nos supostos pagamentos que disse ter realizado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Afirmou que algumas vezes repassou os dados para a coleta do dinheiro pessoalmente a Renan. Disse que viajava para Brasília com esse objetivo, em reuniões na casa do senador marcadas por seus assessores.
No entanto, segundo o delator, quando a viagem não era possível o senador “enviava um representante à Transpetro no Rio de Janeiro para obter as informações”. Machado disse que a pessoa que costumava ir ao Rio se chamava Everaldo. Há um assessor legislativo lotado no gabinete do senador Renan chamado Everaldo França Ferro.
No caso do senador Edison Lobão (PMDB-MA), Machado disse que também foram usados codinomes. Ele afirmou que costumava fazer reuniões mensais ou bimestrais com Lobão na sede do Ministério de Minas e Energia. Depois disso, Lobão “mandava seu filho Márcio” lhe procurar na Transpetro, quando então Machado relatava a data em que seria feito pagamento. “Em geral, a pedido dele [Lobão], os pagamentos eram encaminhados para um escritório à rua México, no centro do Rio”, disse o ex-presidente da subsidiária da Petrobras.
No seu relacionamento com uma empresa que também passou a fazer pagamento de “vantagens ilícitas”, denominada Lumina Resíduos Industriais, Sérgio Machado disse que foram criadas senhas pelas quais os emissários dos políticos eram recebidos. Algumas das senhas lembradas por Machado foram “Arara”, “Melancia” e “Sol”. Os pagamentos “geralmente ocorriam em São Paulo e sempre em endereços diferentes, como flats, hotéis e casas”.
Em depoimento, um dos filhos de Machado, Expedito Machado da Ponte Neto, confirmou o sistema de codinomes. Ele disse que a partir de 2008 seu pai lhe pediu que ajudasse “com a logística da arrecadação de propinas para ele no Brasil”. O pai lhe entregava o endereço, a data e a hora “com codinomes da pessoa que buscaria a propina e da pessoa que entregaria”.
Expedito disse que “terceirizou” a um amigo seu de faculdade e “ex-parceiro de negócios”, chamado Alexandre, a tarefa de pegar os recursos. Expedito disse que Alexandre não sabia a real origem ilícita do dinheiro. Ele lembrou-se de “ter mandado buscar propina” nos hotéis George V, na praça Roquete Pinto, e Quality Inn, na capital paulista.
Expedito mantinha “um controle de anotações de pagamentos” para prestar contas ao seu pai. Porém, disse que posteriormente destruiu esse controle.
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