Escuta flagra secretários de Agnelo Queiroz
Dois dos principais secretários do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), jantaram no dia 7 de abril de 2011 com Cláudio Abreu, ex-representante da empresa Delta Construções no Centro-Oeste e a quem o contraventor Carlinhos Cachoeira passou informações sobre investigações sigilosas.
Citada nos grampos da Operação Monte Carlo, a empreiteira número um do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recebeu, no ano passado, R$ 884,4 milhões da União. O volume de recursos do governo federal para a Delta Construções cresceu 1.417%, de 2003 até 2011 em valores corrigidos pelo IPCA.
Segundo relatórios de inteligência da Polícia Federal na Operação Monte Carlo, há indícios "de que a maior parte dos valores que entram nas contas de empresas fantasmas [ligadas ao grupo do empresário] são oriundos da empresa Delta Construções".
De 1.º de janeiro até quarta-feira, a Delta recebeu R$ 156,8 milhões do governo federal dos quais R$ 156 milhões destinados às obras do PAC.
No governo federal, o Departamento Nacional de Transportes (Dnit) é o principal cliente da Delta: com R$ 138,5 milhões somente em 2012. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse na quinta-feira que as denúncias envolvendo a Delta Construções têm de ser investigadas.
"Em um determinado momento, o PT avaliou que as denúncias [do caso Cachoeira] eram fortes o suficiente para mudar o foco do mensalão. Mas eu acho que a ânsia de tentar sepultar o mensalão pode colocar o governo em uma situação muito difícil. Se pegar o que [a Delta] recebeu no governo Fernando Henrique, era um valor irrisório. É uma empresa que cresceu alucinantemente nos últimos anos", avalia Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas.
A Delta tem cerca de 300 contratos no setor de construções em 23 estados do país. Alguns contratos firmados no Distrito Federal têm despertado suspeitas (leia mais na próxima página). No Rio de Janeiro, o volume de empenhos cresceu 533% durante o governo de Sérgio Cabral (PMDB), de R$ 67,2 milhões em 2007 para R$ 554,8 milhões em 2010.
Em 2011, a Delta recebeu do governo Cabral R$ 358,5 milhões. Mas nesse montante não estão contabilizados os pagamentos que a empresa recebe pela reforma no Maracanã obra tocada em parceria com outras empresas, em consórcio. O projeto foi orçado em R$ 859,9 milhões. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou indícios de graves irregularidades no processo de licitação do estádio.
Outra irregularidade foi encontrada nas obras da nova sede do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Em agosto de 2011, a Controladoria-Geral da União (CGU) recomendou ao órgão que cobre da Delta a "devolução dos valores pagos com sobrepreço" e "em duplicidade". Segundo a CGU, houve sobrepreço estimado em R$ 23,5 milhões na obra do hospital.
Histórico
A empreiteira, que surgiu em Recife, na década de 60, chegou ao Rio de Janeiro no governo Anthony Garotinho, em 1999. Mas as relações chegaram ao ápice na gestão de Sérgio Cabral, as quais até viraram alvo de uma investigação por parte do Ministério Público daquele estado.
O questionamento começou em junho, depois da queda trágica de um helicóptero que seguia para Porto Seguro, na festa de aniversário de Fernando Cavendish, controlador da Delta. Na ocasião, morreram a mulher do empreiteiro e a namorada de um dos filhos de Cabral, que fora à Bahia em um jatinho Legacy, de Eike Batista. O MP arquivou a investigação.
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