Com o corpo todo enfaixado e um crucifixo nas mãos, Rogério Mendes de Oliveira, de 33 anos, lembrou na quinta-feira com tristeza os momentos que antecederam a tragédia no ônibus 350 (Passeio-Irajá), na noite de terça-feira. No atentado, ele viu a mulher, Wania da Lúcia Barbosa, de 33 anos, e a filha, Vitória, de 1 ano e um mês, morrerem carbonizadas. Além de Rogério, que teve 40% do corpo queimado e corre risco de morrer, outros sete feridos continuam internados com queimaduras.

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- Pensei que era assalto, mas eles jogaram um líquido nos bancos e tudo começou a pegar fogo. Eu disse à minha mulher: "Filha, segura ela (a criança) porque vou ter que quebrar a janela". Quando olhei para trás, elas já estavam queimando. Não teve jeito. Em chamas, eu pulei e pedi ajuda, mas disseram que não havia mais o que fazer, porque o ônibus estava destruído. Foi terrível - contou Rogério, que está internado no Hospital do Andaraí.

Rogério sente dores e tem dificuldade para falar. O chefe do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital do Andaraí, Luiz Macieira, explicou que a previsão de tratamento é de pelo menos 60 dias. Também internada no CTQ, Viviane Souza Eusébio, de 21 anos, corre risco de vida. Ela teve queimaduras em 50% do corpo.

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- O estado dela é ainda mais grave que o do Rogério - disse Luiz Macieira.

Outro paciente em estado muito grave é o guardador de carros Fábio Pereira de Oliveira, de 31 anos. Internado no Hospital Souza Aguiar, no Centro, ele teve 70% do corpo queimado. Também estão internadas na unidade a cobradora de ônibus Ana Crispim Dias, de 48 anos, e Erika Lizandro Bernardo, que tiveram até 45% dos corpos atingidos pelas chamas.

O enterro de Wania e da filha Vitória foi realizado nesta sexta-feira, no cemitério de Irajá. O gerente de supermercado Luiz Antônio Carvalho Vieira foi sepultado na quinta-feira no Cemitério de Sulacap. As duas outras vítimas seriam a diarista Lídia da Silva Lopes, de 51 anos, e o estudante Anderson Fernandes da Silva, de 26. A confirmação depende de exames da arcada dentária das vítimas.

A servidora da Marinha Karina de Araújo Duarte, de 20 anos, que teria alta na quinta-feira, continuará no Hospital Semiu, em Vicente de Carvalho, até sábado. Mesmo sem ter sido atingida pelo fogo, o calor provocou bolhas em todo o seu rosto.

- As partes que estavam cobertas pela roupa não ficaram queimadas. Mas ainda sinto muita dor - disse ela.

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No Hospital Balbino, em Olaria, continua internada a secretária Patrícia Costa dos Santos, de 29 anos. As queimaduras foram tão fortes que ela precisou passar por uma cirurgia plástica. No Hospital Pró-Vita, em Cascadura, Francisca Souza Lopez, de 30 anos, continuará internada sem previsão de alta. Seu quadro é estável.

Mesmo sem ferimentos, o motorista do ônibus, de 50 anos, precisou ir ao médico na quinta. Segundo parentes, ele não consegue dormir direito e está muito traumatizado. A viação Rubanil informou que ainda não há data certa para o motorista voltar a trabalhar. A empresa disse que ele terá acompanhamento de psicólogos.

Igor Pereira, passageiro que arrombou a porta traseira do ônibus, salvando muitas pessoas, também não tem conseguido dormir:

- Acordo toda hora com muitas dores no braço, que está queimado.

A irmã de Karina, Erika de Araújo Duarte, disse na quarta-feira que Karina viveu momentos de terror com a explosão do coquetel molotov arremessado por bandidos dentro do ônibus 350. Falando do hospital onde Karina está internada, Erika relatou por telefone ao Globo Online o que ouviu da irmã sobre o ataque:

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- Ela estava dormindo dentro do ônibus e acordou com o povo gritando "desce!, desce!". Ela foi correndo para trás da porta traseira, mas o motorista desceu e não abriu a porta. Até então, ela achava que era um assalto. Aí ocorreu a explosão. Ela viu a bola de fogo e pessoas tentando pular pela janela. Ela ia pular também, mas aí a porta abriu e todo mundo começou a se empurrar para descer.

Segundo Érika, quando Karina chegou em casa, no Irajá, sua família ficou desesperada:

- Depois que desceu, alguém deu um copo d'água a ela, que pegou um táxi e veio para casa para ir com a gente para o hospital. Ela chegou pretinha por causa da fumaça, ficamos desesperados.

A passageira Áurea Rodrigues, de 50 anos, funcionária da Fiocruz que teve as mãos e os braços queimados, também relatou momentos de pânico:

- Foi uma verdadeira cena de terror. Um dos piores momentos que já passei na minha vida. As pessoas pulavam pelas janelas, apavoradas. Graças a Deus, consegui escapar pela porta traseira do ônibus - contou

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No dia seguinte ao antentado, o RJTV, da TV Globo, também entrevistou algumas vítimas. Uma senhora que voltava do trabalho ficou com queimaduras nas mãos e nos braços.

- Era muita gente gritando, todo mundo em pânico. Eu ainda consegui pegar minha bolsa - contou ela.

- Chegaram agredindo e tentaram agredir as pessoas. Muito horror, o fogo foi muito rápido - disse outra.