Beto Richa tem motivos para crer em seu taco. Vem emplacando uma vitória depois da outra. Em 2004, conseguiu sobreviver ao naufrágio do lernismo e se elegeu prefeito de Curitiba. Em 2006, como nova liderança política, foi disputado a tapa por Roberto Requião e Osmar Dias na disputa pelo governo do estado (quatro anos antes, quando ele próprio disputara o Palácio Iguaçu, no máximo da boa vontade, era uma terceira força distante). Em 2008, veio a consagração: 77% dos votos válidos na reeleição em Curitiba.
Richa soube aproveitar o momento e se candidatou ao governo antes que a coisa esfriasse. E ganhou, mesmo enfrentando os dois homens que em 2006 disputavam seu apoio. Parecia que nada iria deter o novo governador que, em muito tempo, foi o único prefeito de Curitiba a criar um novo grupo político importante, sem precisar de padrinhos, como foi o caso de Rafael Greca e Cassio Taniguchi. Pelo contrário: iniciou o seu próprio clã.
O risco que uma série de vitórias como essa traz é visível: a coisa pode subir à cabeça. E, olhando o desenrolar da campanha de 2012 em Curitiba, dá para dizer que foi isso o que aconteceu. Deixo a análise para um taxista de Curitiba, que na semana passada disse uma frase simples mas difícil de negar: "A eleição está apertada porque o governador não ficou com o Gustavo. Se eles estivessem juntos, não tinha para ninguém".
Richa parece ter pensado que era Lula, que em 2010 foi capaz de pegar uma quase desconhecida e transformá-la em presidente. Dilma Rousseff uma técnica competente, é verdade era o que se costuma chamar em política de "poste". Não tinha votos. Mas como Lula podia tudo, naquele momento, Dilma rapidamente se transformou na favorita do povão.
Beto achou que podia fazer o mesmo. Gostava de Luciano Ducci e confiou tanto no seu potencial que dispensou a possibilidade de lançar alguém que tivesse nome e votos. Gustavo Fruet, visto como a alternativa mais viável, não aceitou o jogo e foi buscar outra turma. Juntos, seria difícil batê-los. Agora, ambos estão disputando com suor e esforço a chance de irem para o segundo turno com Ratinho Jr.
Nada está definido, e pode ser até que Ducci se eleja. Mas já ficou claro que Richa não é Lula. Pelo contrário, está cada vez mais parecido é com o ex-governador Roberto Requião.
Requião, oito anos atrás, também expeliu Fruet do partido para não lançá-lo candidato em 2004. Nunca gostou de sombras. Nos anos seguintes, sem nomes para sucedê-lo ou para disputar cargos importantes, Requião acabou esfrangalhando seu "MDB velho de guerra". Continuou um colosso de votos, e se elegeu para o que quis: governo ou Senado. Mas está mais sozinho do que nunca. E seu partido em Curitiba nunca mais foi o mesmo de antes.
Richa aniquilou o PSDB de Curitiba lançando uma chapa PSB-PPS. No interior, olhando o cenário nas principais cidades, o PSDB só tem candidato forte em Londrina, onde se aliou ao belinatismo. Nas outras cidades, cedeu espaço ao PP, ao PSB e ao PPS. O projeto de Richa em 2014 continua de pé, mesmo se perder Curitiba. Mas é visível que o governador cometeu seu primeiro grande erro de cálculo.
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