Procuradores da Suíça não acharam uma só conta secreta, mas quatro, pelo menos, cujo controle é atribuído ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo investigadores que atuam no caso. O valor depositado nas contas soma US$ 5 milhões. Uma dessas contas tem como beneficiários Cunha e sua mulher, a jornalista Claudia Cruz, que foi apresentadora de telejornais da Rede Globo ente 1989 e 2001. Uma das filhas do deputado também está entre os titulares de outra conta.
Na quarta-feira (30), o presidente da Câmara se recusou a comentar se tinha conta no exterior. Em março deste ano, em depoimento à CPI da Petrobras, ele disse que não tinha dinheiro fora do Brasil.
Os valores depositados nas quatro contas foram bloqueados pelas autoridades suíças por causa da suspeita de que receberam recursos de suborno, que chegaram àquele país por meio de processos de lavagem de dinheiro.
As contas foram abertas em nome de empresas offshores, que ficam em paraísos fiscais para dificultar as investigações, já que esses países, diferentemente da Suíça, não costumam colaborar com apurações sobre lavagem de dinheiro e corrupção.
Para evitar receber dinheiro de terrorismo, de drogas e de suborno, a Suíça exige que toda conta tenha um beneficiário final. Em quatro delas o beneficiário é Cunha, segundo autoridades que investigam o caso.
O Ministério Público da Suíça começou em abril a investigar a suspeita de que Cunha escondera dinheiro naquele país. A Suíça não irá prosseguir a apuração criminal sobre Cunha, como ocorre com outros suspeitos da Lava Jato. O país decidiu mandar para o Brasil todo o material encontrado sobre o presidente da Câmara para que a apuração seja feita aqui.
O advogado de Cunha, Antonio Fernando de Souza, disse em nota que não comentaria as contas encontradas na Suíça. Souza afirmou que pretende defender Cunha no inquérito contra o presidente da Câmara instaurado no Supremo Tribunal Federal. Já Cunha informou que desistiu da viagem que faria para a Itália.
Pressão
Um grupo de parlamentares de PT, PSol, PSB, PMDB e Rede apresentou na quinta-feira (1.º) um requerimento em que solicitam a Cunha informações sobre as suspeitas.
O requerimento também será apresentado à Procuradoria-Geral da República e, caso Cunha não se manifeste até a próxima semana, os parlamentares apresentarão ao Conselho de Ética da Câmara um requerimento para que o presidente mostre seus dados bancários e fiscais. Esse requerimento, no entanto, teria que ser aprovado pelo conselho.