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O alerta deu um início a uma investigação formal, que resultou em um congelamento dos ativos de Cunha e de parentes em diversas contas. | Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
O alerta deu um início a uma investigação formal, que resultou em um congelamento dos ativos de Cunha e de parentes em diversas contas.| Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados

A Suíça congelou perto de US$ 5 milhões em ativos em nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de seus parentes. Uma auditoria interna do banco que guarda esses valores, cuja identificação não foi divulgada, foi responsável pelo informe que levou à abertura de ação criminal no país europeu por suspeita de lavagem de dinheiro. Essa investigação foi enviada ontem pelo Ministério Público suíço à Procuradoria-Geral da República no Brasil.

Eduardo Cunha se tornou o primeiro presidente da Câmara no cargo denunciado pelo MPF. | Ueslei Marcelino/Reuters

Saiba quais são as acusações contra Eduardo Cunha

Procuradores suíços bloquearam contas do presidente da Câmara

Nesta quarta-feira (30), o Ministério Público da Suíça transferiu para o Brasil uma investigação sobre o envolvimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com corrupção passiva e lavagem de dinheiro desviado da Petrobras. Na fase inicial da investigação criminal, procuradores suíços localizaram e bloquearam contas em nome de Cunha e de familiares do deputado. Abaixo, as acusações contra Cunha:

A 1.ª denúncia

Em janeiro, o doleiro Alberto Youssef disse que Cunha recebeu propinas de contrato com as empresas Samsung e Mitsui, representadas por Julio Camargo. Youssef afirmou que aliados de Cunha pressionaram a Mitsui e Camargo após interrupção no repasse do dinheiro.

Requerimentos

Em março, o jornal O Globo mostrou que Solange Almeida (PMDB-RJ), deputada aliada de Cunha, fez dois requerimentos em 2011 pedindo dados ao TCU e a Minas e Energia sobre auditorias, aditivos, licitações e contratos da Mitsui com a Petrobras. Em abril, registro eletrônico da Câmara, segundo a Folha de S. Paulo, apontava que o autor do documento que deu origem ao requerimento é “Dep. Eduardo Cunha”. Em maio, o STF autorizou a apreensão de registros da Câmara — e, em julho, a PGR concluiu que Cunha foi o real autor dos requerimentos.

US$ 5 milhões

Em julho, Julio Camargo disse à Justiça ter sido pressionado por Cunha a pagar US$ 10 milhões em propinas relativas a 2 contratos de navios assinados pela Petrobras eme 2006 e 2007. Segundo ele, Cunha pediu US$ 5 milhões. O delator disse não ter falado antes por medo.

“Pau-mandado”

Também em julho, Youssef afirmou ao juiz Sergio Moro que estava sendo intimidado “pela CPI da Petrobras, por um deputado pau-mandado do deputado Eduardo Cunha”. O “pau-mandado” seria o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ).

No STF

Em agosto, Cunha se tornou o primeiro presidente da Câmara no cargo denunciado pelo MPF. Enviada ao STF, a denúncia diz que ele recebeu propina de US$ 5 milhões, paga no Brasil e no exterior por meio de consultorias não prestadass, notas fiscais frias e transferência à Assembleia de Deus.

Baiano fala

Em setembro, Baiano confirmou, em delação premiada, o repasse de US$ 5 milhões a Cunha. O operador do PMDB teria corroborado “todas as acusações” a Cunha feitas por Camargo e Youssef. Moro enviou ao STF cópia de depoimento do suposto operador João Augusto Henriques, que, à PF, disse ter feito transferência ao exterior para a conta de um político. Segundo procuradores, seria Cunha.

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A instituição financeira entregou aos procuradores da Suíça, em abril de 2015, um informe em que apontava para as irregularidades e fazia duas constatações: Cunha havia criado uma estrutura para tentar esconder seu nome da conta e a renda movimentada era muito superior ao que o peemedebista havia declaro como salário.

O alerta deu um início a uma investigação formal, que resultou em um congelamento dos ativos de Cunha e de parentes em diversas contas. “O Escritório do Procurador-Geral da Suíça confirma que abriu um processo criminal contra Eduardo Cunha sob a base de suspeita de lavagem de dinheiro, ampliando em sequência para corrupção passiva”, indicou o MP suíço.

“Em abril de 2015, a Procuradoria recebeu um informe de lavagem de dinheiro por um banco suíço”, confirmou o escritório do procurador Michael Lauber.

Lava Jato

A Suíça investiga pagamentos relacionados à Petrobras desde março de 2014, quando foi deflagrada no Brasil a Operação Lava Jato. Durante meses, o Ministério Público suíço pediu que bancos entregassem à Justiça detalhes sobre dezenas de contas. Até agora, mais de 300 já foram identificadas e bloqueadas.

No caso de Cunha, a confirmação veio justamente do informe de um banco. “Depois de abrir um processo, os ativos de Eduardo Cunha foram congelados”, confirmaram as autoridades suíças.

Fontes próximas do caso indicam que os documentos enviados ao Brasil apontam para cerca de US$ 5 milhões congelados em nome do deputado e de seus familiares, em diferentes contas e com diferentes ativos. Mas o MP suíço prefere não divulgar o valor oficialmente por enquanto.

Os suíços passaram a examinar com cuidado os dados dos depósitos depois que ficou claro que Cunha aparecia como “beneficiário” de uma conta apontada pelo banco como “suspeita”. Segundo investigadores suíços, a manobra é normalmente usada por quem tenta esconder algo, seja da Justiça ou de algum ator exterior.

O banco também encontrou “disparidades” entre a renda do deputado declarada e os valores transferidos, além de registrar que parte dos depósitos vinham de contas que já estavam sendo rastreadas.

Sob pressão da Justiça, mais de 30 bancos suíços passaram a colaborar desde meados de 2014 no caso, entre eles o Julius Baer, Pictet, Cramer, HSBC e outros de grande porte. A Suíça chegou a alertar que o “caso Petrobras” teve um importante impacto na praça financeira suíça e revelou a fragilidade dos controles dos bancos em identificar a origem do dinheiro.

Berna também indica que decidiu transferir a investigação sobre o caso para o Brasil, sob a justificativa de que não faria sentido manter a ação diante da impossibilidade de pedir a extradição do brasileiro. Mas insiste que a meta da transferência do caso é a de permitir que o deputado seja investigado e julgado no Brasil.

Delatores

Outro fator-chave foi a pista dada por operadores do esquema. No início da semana, o Estado revelou que os suíços abriram investigações criminais contra os lobistas Fernando “Baiano” Soares e João Augusto Henriques, apontados como operadores do PMDB no esquema na estatal petrolífera, sempre com o foco em Cunha e com o objetivo de fechar o cerco no deputado.

Henriques, preso em 21 de setembro, disse que fez um depósito em uma conta na Suíça para Cunha. Mas não saberia dizer quem era o titular da conta. Ao rastrear o depósito, o MP suíço constatou que de fato Cunha era o beneficiário do dinheiro.

Comissões para obras da Petrobras no Benin, na África, teriam alimentado a conta, segundo a suspeita da Justiça.

Depois de uma semana de negociações entre o MP suíço e o brasileiro, os dados da conta secreta que teria Cunha como beneficiário foram repassados ao Brasil em meados da semana, assim como os detalhes de quem fez depósitos.

No total, a Suíça anunciou a existência de US$ 400 milhões bloqueados em mais de 300 contas do país. Mais de US$ 150 milhões já estão autorizados a retornar ao Brasil.

No caso de Cunha, porém, o dinheiro bloqueado apenas seria devolvido se o deputado aceitar sua entrega aos cofres públicos brasileiros ou se for condenado em última instância no País. O processo, porém, pode levar anos.

Outro fator importante no processo foi a investigação aberta também na Suíça contra o ex-gerente da área Internacional da Petrobras Eduardo Musa, novo delator da Operação Lava Jato e que também citou o presidente da Câmara. Seus ativos já foram bloqueados e procuradores tentam traçar o destino e origem do dinheiro que alimentou suas contas. No Brasil, Musa afirmou que chegou a ter US$ 2,5 milhões no banco Cramer e admitiu ter usado também o Credit Suisse e o Julios Baer.

Musa ainda disse à força-tarefa ter ouvido de Henriques que “quem dava a palavra final” em relação às indicações para a Diretoria Internacional da Petrobrás era o deputado Eduardo Cunha.

Condenado na Operação Lava Jato, Fernando Baiano fechou acordo de delação premiada e confirmou o relato de outro lobista, Julio Camargo, de que o presidente da Câmara teria recebido propina de pelo menos US$ 5 milhões por contratos de aluguel de navios-sonda pela Petrobras.

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