Regra dos fotógrafos é não ver, ouvir ou falar
Roberto Stuckert passou três ensinamentos ao filho Ricardo. O fotógrafo presidencial não pode ouvir, ver ou falar. "Nosso manual é o mesmo daqueles macaquinhos", brinca Stuckão.
Tirar histórias de bastidores da boca de ambos é praticamente impossível. Perguntado, por exemplo, sobre o temperamento de Lula durante a crise do mensalão, Stuckinha desconversa. "Nunca vi o presidente passar nervosismo para os subordinados."
As trajetórias do último militar e do primeiro operário na Presidência do Brasil cruzam-se em um sobrenome. Roberto Stuckert foi o fotógrafo oficial do ex-presidente João Figueiredo e Ricardo Stuckert é o responsável pelas imagens de Lula. Símbolos de uma família que soma outros 31 colegas de profissão, pai e filho conhecem como poucos os corredores do Palácio do Planalto.
O caminho dos Stuckert rumo ao coração do poder brasileiro começou na Suíça. Após a Primeira Guerra Mundial, o bisavô de Ricardo, Eduardo Roberto Stuckert, embarcou de Lausanne em direção à América do Sul, sem destino definido. Na primeira parada, encantou-se com a Paraíba e por lá ficou. Além de fotógrafo, era pintor e tradutor. Passou o primeiro ofício aos filhos, depois aos netos.
Roberto, neto do pioneiro Eduardo, foi um dos que herdou o dom da fotografia e, aos 16 anos, já cobria sua primeira campanha presidencial, entre o marechal Henrique Lott e Jânio Quadros, em 1960. "Mesmo eu sendo muito jovem, o Lott já havia me chamado para ser fotógrafo oficial dele. Só que ele perdeu e eu tive de esperar mais 20 anos", lembra Roberto.
Nas idas e vindas da corrida eleitoral, Roberto conheceu Brasília e acabou mudando-se para a capital. Em pouco tempo ganhou prestígio e abriu uma agência de fotografia, a Stuckert Press. O escritório empregava quase toda a família e enviava o material do Planalto para os grandes jornais do país.
Foi no início dos anos 70 que conheceu Figueiredo. O general queria que Roberto o ensinasse a captar boas imagens de cavalos a paixão do futuro presidente pelos animais era tanta que ele chegou a dizer que preferia o cheiro deles ao do povo. "Eu me lembro de quando tinha 11 anos e ia com o meu pai à Granja do Torto, no sábado. Ele fotografava os bichos e eu brincava, sem saber qual seria o meu futuro", diz Ricardo, bisneto do pioneiro da família.
Três anos mais tarde, Ricardo começou a fotografar. Nascia o profissional Stuckinha, em contraponto ao pai, Stuckão. Duas décadas depois e vários veículos nacionais no currículo (como o jornal O Globo e as revistas Caras e Veja), Stuckinha cruzou com Lula durante a cobertura das eleições de 2002. Ele trabalhava na revista IstoÉ e tinha uma difícil missão produzir ensaios com os principais candidatos, que incluíssem fotos da intimidade de cada um.
Convencer Anthony Garotinho, Ciro Gomes e José Serra foi fácil. O problema era o ressabiado Lula, que já havia perdido três disputas seguidas. Após semanas de negociação com os assessores, Stuckinha recorreu diretamente ao presidente e conseguiu passar uma hora no apartamento do petista, em São Bernardo do Campo (SP). Do ensaio, saiu a melhor foto da campanha, em que Lula rosnava para a cadela Michele. Depois disso, Stuckinha seguiu na cola do candidato e ganhou a confiança do futuro presidente.
A admiração de Lula pelas fotos levaram ao convite para ser o fotógrafo oficial da Presidência. Antes de decidir se aceitava o cargo, Stuckinha recorreu ao pai. Stuckão falou do volume de trabalho e da falta de privacidade. "Você será o fotógrafo do presidente; vai ter de tomar cuidado com tudo o que faz na vida pessoal", aconselhou Roberto.
Ricardo aceitou, mas impôs uma condição: ele faria a foto oficial de Lula, remetida a todas as repartições públicas do país. Mais uma vez, a família conseguiu impor a sua marca e selou outra semelhança histórica entre dois homens tão opostos. Entre todos os presidentes brasileiros, apenas Lula e Figueiredo posaram para a foto oficial com um sorriso estampado no rosto.
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