Mais do que risco de ser beneficiário de propina, o braço suíço do banco Merryl Lynch viu no deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) um potencial milionário do setor imobiliário e investidor do ramo de energia. O Merryl Lynch suíço foi absorvido pelo banco Julius Bär, que este ano reportou movimentações suspeitas que provocaram a abertura de um inquérito na Suíça por suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O deputado nega a propriedade das quatro contas em que, segundo os documentos do banco, ele figura como beneficiário e controlador. O Merryl Lynch classificou o deputado como ‘pessoa politicamente exposta’ -termo da lei suíça para designar alguém com risco receber recursos de origem escusa - e que exige uma investigação interna do banco para evitar que o sistema financeiro do país europeu receba recursos ilícitos.
O risco de dinheiro de corrupção foi descartado por uma analista do banco em maio de 2007, quando ele abriu a primeira conta na Suíça: ‘Ele ganhou aproximadamente US$ 2 milhões em investimentos imobiliários, investindo numa área que se tornou badalada no Rio, a Barra da Tijuca. Além disso, ele tem sido muito bem-sucedido investindo nos mercados locais’.
Foi essa análise que embasou o banco abrir uma conta para alguém que, apesar de rendimentos de US$ 250 mil anuais, pudesse ser considerado um cliente com potencial de investir US$ 16 milhões. Naquele relatório, a menção a Cunha como político consumiu somente duas linhas e, ainda assim, com erro: ‘Em 1998, ele foi eleito deputado federal, deixando a Telerj desde que deixou a [presidência da] Telerj. Ele trabalha em Brasília, no Palácio do Planalto, e volta para a sua casa na Barra da Tijuca’.
No momento da abertura da Netherton, sua quarta conta no país, o banco reportou que Cunha estava estruturando um ‘novo negócio na área de energia’.
Os dossiês bancários fazem menções a duas contas mantidas por Cunha também nos Estados Unidos: uma no próprio Merryl Lynch e outra no Delta Bank.
Abadía
O único alerta sobre a origem do dinheiro nas contas secretas pelo presidente da Câmara veio de um boato -desmentido pouco depois- de que o peemedebista teria vendido uma casa ao traficante Juan Carlos Abadía, preso no Brasil em agosto de 2007 e extraditado para os Estados Unidos.
Em outubro daquele ano, a então deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ) usou a tribuna da Assembleia para acusar Cunha de ter vendido o imóvel, em um condomínio de Angra dos Reis, a Abadía, por meio de um testa-de-ferro.
O advogado do traficante negou que o deputado tivesse qualquer ligação com o vendedor, o empresário Alexandre da Cunha Gomes.
Na investigação interna do banco, foi anexado um parecer de que não havia indícios de ligação do deputado com o vendedor do imóvel.
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