O presidente interino, Michel Temer, afirmou que seria melhor que a conclusão do processo de impeachment de Dilma Rousseff fosse antecipada para evitar uma “saia justa” política durante a Olimpíada no Rio de Janeiro, em agosto. A declaração foi feita em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila exibida na noite da terça-feira (21) pelo canal GloboNews. Questionado sobre se a presença de dois presidentes no evento não provocaria um embaraço internacional, Temer declarou: “Não ficou bem [o cronograma do processo]. Eu diria que, se o processo de impedimento se antecipasse, seria melhor. Seja a meu favor ou a favor de Dilma”, afirmou.
Na semana passada, o Comitê Organizador da Rio-2016 afirmou que convidará tanto o presidente interino quanto a presidente afastada para a cerimônia de abertura dos Jogos, em 5 de agosto, no Maracanã. Nessa data, pelo cronograma atual, os trabalhos da comissão especial do Senado que analisa a cassação de Dilma ainda não estarão encerrados.
Novas eleições
Temer também comentou a proposta, estudada pela petista, de convocar um plebiscito sobre novas eleições presidenciais caso seja reconduzida ao cargo. “Eu não acho essa proposta útil para a senhora presidente. A interpretação que se dá é que ela deseja voltar para depois não governar”, disse.
Sobre as limitações em relação aos benefícios concedidos a Dilma durante seu afastamento, como o uso de aviões da FAB (Força Área Brasileira), Temer justificou que a presidente não tem tido atividades de natureza governamental e, portando, não precisaria desses serviços. “Ela utilizaria [as viagens] para fazer campanha divulgando o ‘golpe’. É uma situação esdrúxula”, disse. “E jamais faltou comida [para ela]”, brincou.
Temer voltou a afirmar que não agiu pela aceitação, na Câmara e no Senado, da abertura do processo de impeachment. “Não traí ninguém. Eu não fiz um movimento em relação a isso”, declarou.
Investigações
Na entrevista, Temer rebateu acusações contra ele e sua equipe – em pouco mais de uma mês de governo, ele perdeu três ministros : Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência) e Henrique Eduardo Alves (Turismo). Jucá e Silveira apareceram em gravações feitas pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado que sugerem uma tentativa de atrapalhar investigações da Operação Lava Jato. Alves é investigado por suspeita de participação no esquema.
Em seu acordo de delação premiada, Machado acusou presidente interino de negociar com ele o repasse de R$ 1,5 milhão de propina para a campanha de Gabriel Chalita (PDT) à prefeitura de São Paulo, em 2012, pelo PMDB. Temer negou novamente ter feito o pedido. “[Se fosse verdade] você acha que eu ia me servir dele [Machado], com o prestígio que tenho, para falar com o empresário?”, disse. Temer ainda afirmou que não pretende processar Machado. “Não vou processá-lo, porque ele precisa disso. Eu não falo para baixo”, acrescentou.
Ele também comentou a situação da secretária especial de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes (PMDB-AP), suspeita de integrar uma “articulação criminosa” para desviar R$ 4 milhões de suas emendas parlamentares quando era deputada. “Ela tem um processo de quatro ou cinco anos atrás que estava paralisado. Só se falou nele quando ela foi indicada”, disse.
Sobre os indícios de que o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE) tenha recebido R$ 100 mil em vantagens indevidas na campanha de 2014, Temer respondeu: “Coitado do Mendonça”.
Cunha
Na entrevista, Temer também defendeu que a Câmara encontre uma solução rápida para a situação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado afastado cujo processo de cassação está sendo discutido no Conselho de Ética. “O interessante é que a Câmara defina logo o seu destino”, disse. “Mas [apesar dessa situação], não temos tido dificuldade de aprovar projetos importantes.”