A delação de Márcio Faria da Silva, ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, coloca o presidente Michel Temer (PMDB) mais uma vez como protagonista de um pedido de doações eleitorais para o PMDB em troca de ajuda para a empreiteira em contratos com a Petrobras. Detalhes da negociação foram publicados pelo jornal Folha de S.Paulo e a revista Veja na noite desta quinta-feira (15).
Segundo o relato do ex-executivo, obtido pelos veículos de comunicação, o escritório político de Temer em São Paulo foi palco de um encontro em 2010 com participação do presidente, do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de João Augusto Henriques – apontado como um dos lobistas do PMDB, e de Márcio Faria da Silva. Naquele momento, Temer era deputado federal e candidato à vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff (PT). Cunha era candidato à reeleição para a Câmara.
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Segundo informações da Folha, três fontes ligadas à investigação dizem que a contrapartida das doações ao partido foi um contrato de US$ 1 bilhão relacionado à segurança ambiental das operações da estatal petrolífera em dez países. João Augusto Henriques, o lobista, teria influência sobre a área internacional da Petrobras.
Via assessoria de imprensa, o presidente informou ao jornal que Eduardo Cunha levou um empresário a seu escritório naquele ano, mas que não pode garantir que era Márcio Faria da Silva.
As delações vazadas na última semana fazem parte de um pacote de 77 firmadas por ex-executivos da empreiteira com a Operação Lava Jato. Além das delações, também foi firmado um acordo de leniência, onde a Odebrecht aceitou pagar R$ 6,7 bilhões em compensações.
Presidente de novo sob fogo
No final da semana passada, o atual presidente também foi citado por outro dos 77 delatores da Odebrecht. Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais, disse que Temer se reuniu em 2014 com o então presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, e pediu R$ 10 milhões em doações para o PMDB. A informação teria sido confirmada em delação pelo ex-presidente da empresa, segundo apurou a Folha.
Cunha e as perguntas vetadas por Moro
Assim como na delação de Cláudio Melo Filho, o caso revelado nesta quinta-feira também foi assunto em uma das perguntas feitas a Temer, que foi arrolado como testemunha de defesa no processo em que Eduardo Cunha é acusado de receber propina para intermediar a venda de um campo seco de petróleo no Benin para a Petrobras. Em ambos os casos, o juiz Sergio Moro vetou as perguntas e o presidente não teve que responde-las.
No caso da delação de Melo Filho, Cunha havia questionado Temer: “O sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB, de forma oficial ou não declarada ?”. Yunes era assessor especial da Presidência da República e pediu demissão após ser implicado como recebedor e distribuidor de parte dos R$ 10 milhões negociados por Temer com Odebrecht.
Já no caso relevado nesta quinta, da delação de Márcio Faria da Silva, a Folha de S.Paulo apurou que Cunha havia indagado ao presidente se ele tinha conhecimento de “alguma reunião sua [Temer] com fornecedores da área internacional da Petrobras com vistas à doação de campanha para as eleições de 2010, no seu escritório político, juntamente com o sr. João Augusto Henriques”.
Cunha está preso em Curitiba desde 19 de outubro e teve 21 das 41 perguntas feitas a Temer indeferidas por Moro, sob a justificativa de que elas implicavam o presidente da República e que ele, como juiz de primeira instância, não tinha competência para investiga-lo.
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