Já se passavam 20 dias desde que Michel Temer (PMDB) havia assumido a Presidência. Num jantar oferecido a 45 parlamentares, o presidente interino se dirigiu ao deputado-cantor Sérgio Reis (PRB-SP) e pediu que cantasse o clássico sertanejo “Chalana”. Disse que precisava relaxar. E desabafou: “A coisa está muito pesada”.
INFOGRÁFICO: 1 mês de Temer em 15 fatos
Nada mudou desde então. Na verdade, a “coisa” pesou ainda mais: os aliados dão sinais cada vez mais evidentes de insatisfação com o Planalto e a Procuradoria-Geral da República colocou Brasília em ebulição ao pedir a prisão de grandes “caciques” do PMDB.
E assim o governo Temer completa um mês neste domingo (12), atravessando uma turbulência política e tentando se equilibrar em meio ao risco de novas revelações da Lava Jato, uma grave recessão econômica, desaprovação popular e trapalhadas administrativas. No horizonte do interino, o risco de cair. Ou seja, de não se tornar efetivo, caso o cenário no Senado mude e leve a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) a retornar ao Planalto após o julgamento final do impeachment, em agosto.
Mais erros
“É um governo de mais erros do que acertos”, diz o senador Alvaro Dias (PV-PR), que mesmo sendo a favor da cassação de Dilma declarou independência em relação à gestão Temer. “O principal problema foi a escolha dos nomes para compor o governo.” A nomeação de citados na Lava Jato para a Esplanada, diz o senador, afeta a credibilidade do novo governo e traz a crise para dentro do Planalto.
O resultado é que a instabilidade política que atingiu a gestão de Dilma perdura na atual administração. Além disso, Alvaro afirma que outro fator de desestabilização do presidente é a manutenção do sistema de barganha, de distribuição de cargos para ter apoio político. “Ele parece muito mais preocupado em garantir o impeachment [de Dilma] do que com a qualidade de gestão.”
Deputado do mesmo partido de Temer, o paranaense João Arruda reconhece que a ampla base montada pelo presidente interino cria problemas. Segundo ele, há forte pressão de senadores e deputados por cargos e vantagens para seguir apoiando o governo. “Gostaria que não fosse assim. Mas é.”
Maior acerto
O senador Alvaro Dias (PV-PR) diz que o principal acerto do governo Temer foi a nomeação de uma equipe econômica formada por técnicos. Apesar disso, ele lembra que as propostas do presidente interino para recuperar a economia ainda não saíram do papel e nem mesmo estão claramente definidas.
No início da semana que passou, para conter a pressão pelo loteamento do governo, Temer avisou que congelaria as nomeações para estatais. A reação foi imediata. Integrantes de alguns partidos da base avisaram que, se não houver nomeações de apadrinhados, não se vota nada no Congresso. A ameaça ainda não se concretizou. Mas coloca em dúvida o futuro do governo, caso o impeachment se efetive.
Nos bastidores do Senado, o clima de “faca no pescoço” é ainda pior para Temer. Na quarta-feira (8), o jornal Folha de S.Paulo informou que senadores que votaram a favor do afastamento de Dilma dizem que podem mudar de posição se não tiverem seus interesses atendidos. Temer teria reclamado de estar “exaurido” com a “chantagem explícita”. Na votação da admissibilidade do impeachment, foram 55 votos a favor do afastamento de Dilma. Se ela “conquistar” dois senadores, volta para o Planalto.
Apostas
João Arruda acredita que, apesar do placar apertado, a chance de Dilma voltar é pequena, embora exista. Para ele, na hora da votação, a tendência é que mesmo aqueles que ameaçam mudar de voto acabem ficando com Temer porque, com ele, haveria mais perspectivas futuras de terem suas demandas atendidas. “A Dilma não tem mais credibilidade”, diz o peemedebista.
Agora na oposição, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) aposta numa virada. “Há muitos senadores revendo a posição por achar que a situação piorou.” Segundo ela, é cada vez mais forte no PT a ideia de que Dilma pode ter o voto de mais senadores desde que se comprometa a pedir a convocação de eleições presidenciais ou de um plebiscito para discutir o assunto.
Já Alvaro Dias prefere não apostar qual será o desfecho do impeachment. “No plenário, há muita flutuação de posições.” Para ele, o fator decisivo serão os desdobramentos da Lava Jato. A operação se aproximou de Dilma nos últimos tempos. Mas também ronda o novo inquilino do Planalto. A “coisa” pode ficar ainda mais pesada para Temer.
Para população, novo governo apresenta mais do mesmo
O presidente interino Michel Temer não tem apoio popular. Apenas 11,3% dos brasileiros aprovam sua administração, segundo pesquisa CNT/MDA divulgada na última quarta-feira (8). Além disso, a maioria da população ainda não viu nenhuma diferença entre os governos de Temer e de Dilma Rousseff: 54,5% avaliam que a gestão dele é igual à da petista.
O levantamento ainda revela uma forte desconfiança dos brasileiros em relação à corrupção na atual gestão – algo que levou a população a sair às ruas para pedir “Fora, Dilma”. Dos entrevistados na pesquisa, 46,6% acham que a corrupção com o peemedebista será igual à do governo de Dilma. Outros 18,6% acreditam que será maior. E 28,3% que será menor.
A pesquisa CNT/MDA foi realizada entre os dias 2 e 5 de junho. Foram entrevistadas 2.002 pessoas em 137 municípios de 25 estados. A margem de erro é de 2,2 pontos porcentuais para mais ou para menos.