O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou em sua delação premiada que o presidente interino Michel Temer negociou com ele o repasse de R$ 1,5 milhão de propina para a campanha de Gabriel Chalita, então candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo em 2012. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (15) à tarde pelo jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Na delação, Machado ainda citou outros 20 políticos de vários partidos que teriam recebido recursos por meio do esquema de corrupção na Transpetro – subsidiária da Petrobras responsável pelo transporte de petróleo, combustíveis e gás. Um deles é o senador mineiro Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB.
Na delação, Machado afirmou que o acerto do repasse para a campanha de Chalita ocorreu em setembro de 2012 e teria sido pago por meio de doação eleitoral da empreiteira Queiroz Galvão, contratada da Transpetro. Temer teria pedido ajuda porque a campanha de Chalita estaria com dificuldades de caixa. O presidente interino, segundo o relato, perguntou se Machado poderia ajudar. O ex-presidente da Transpetro se comprometeu a arrumar o dinheiro. Machado afirmou ainda que o contexto da conversa deixava claro que Temer sabia que o repasse para Chalita envolveria recursos ilícitos de empresas que tinham contratos com a Transpetro .
Doação da JBS
Em outro ponto da delação, Machado disse que Temer reassumiu a presidência do PMDB em 2014 para controlar a destinação de uma doação de R$ 40 milhões pedida pelo PT à JBS, controladora do frigorífico Friboi. Machado disse ter tomado conhecimento disso em reuniões na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas não lembra quem disse isso. O delator afirma ainda que não sabe se a JBS teria recebido algum benefício em função da doação que teria feito naquela eleição.
Segundo Machado, “o apoio financeiro do PT foi um dos fatores que fizeram com que Michel Temer reassumisse a presidência do PMDB, visando controlar a destinação dos recursos do partido”. Em 2014, houve um batalha interna no partido para definir se haveria apoio à campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. A ala que queria continuar com o PT venceu a disputa e Temer foi novamente candidato a vice na chapa.
Machado contou inclusive que, numa das reuniões na casa de Renan, encontrou o diretor da JBS, Francisco de Assis e Silva. Segundo o ex-presidente da Transpetro, “nesta oportunidade, o diretor da JBS comentou comigo que vinha ajudando em diversas campanhas políticas” e que, “no que diz respeito ao PMDB, seriam contemplados por doações da JBS a diversos senadores: Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Eunício Oliveira, Vital do Rêgo, Eduardo Braga, Edison Lobão, Valdir Raupp, Roberto Requião e outros”. Sérgio Machado não afirmou que essas doações teriam sido irregulares – apenas comentou o assunto na delação.
Em nota, Chalita diz que nunca pediu recursos ou auxílio a Sérgio Machado
O ex-deputado e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo Gabriel Chalita (PDT) divulgou nota afirmando que não pediu recursos ou qualquer tipo de auxílio ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado para sua campanha à Prefeitura paulistana em 2012, época em que era filiado ao PMDB. “Esclareço, ainda, que todos os recursos recebidos na minha campanha foram legais, fiscalizados e aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral”, escreveu Chalita.
Outro lado
Na época da divulgação do áudio em maio, o presidente interino Michel Temer negou que tenha pedido doação a Sérgio Machado para a campanha de Gabriel Chalita. Ele disse também que não foi candidato nas eleições municipais de 2012 e não recebeu nenhuma contribuição. Michel Temer disse também que nunca se encontrou em lugar inapropriado com Sérgio Machado.
Demais citados
Sérgio Machado também relatou ter pago propina, por meio da triangulação para doações eleitores oficiais, para os seguintes políticos: o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado Cândido Vaccarezza (PT-RJ), a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o deputado Luis Sérgio (PT-RJ), o deputado Edson Santos (PT-RJ), o governador interino do Rio Francisco Dornelles (PP), o ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), a ex-ministra Ideli Salvatti (PT-SC); Jorge Bittar (PT-RJ), o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), Walter Alves (PMDB-RN), o senador José Agripino Maia (DEM-RN), o deputado Felipe Maia (DEM-RN), o ex-senador Sergio Guerra (PSDB-PE, morto em 2014), o deputado Heráclito Fortes (PSB-SE), e o senador Valdir Raupp (PMDB-RO).
Já era de conhecimento, devido ao vazamento de gravações de Machado, que ele também citaria na delação o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores Jader Barbalho (PMDB-PA), Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA) e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).
O que eles dizem
Políticos acusados pelo ex-presidente da Petrobras Sérgio Machado de receber propinas negaram terem cometidos irregularidades.
O advogado dos senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB -MA) e do ex-presidente José Sarney, Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, disse que os três negam ter recebidos recursos de Machado. “A delação é bastante ampla e tem que ver qual é a credibilidade dela, tendo em vista que ela foi feita para livrar os filhos [de Sérgio Machado] da cadeia. A delação tem que ser vista com muitas reservas”, disse à reportagem.
O senador José Agripino Maia (DEM-RN) afirma que as doações recebidas “foram obtidas sem intermediação de terceiros, mediante solicitações feitas diretamente aos dirigentes das empresas doadoras”. Ele ainda afirma que, como presidente de partido de oposição, não teria nenhuma “contrapartida a oferecer a qualquer empresa que se dispusesse a fazer doação em troca de favores” do governo. Por fim, reafirma que as doações recebidas têm “origem lícita” e foram declaradas à Justiça Eleitoral.
O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) afirmou que “Machado nunca arrecadou para as minhas campanhas, nunca pedi que ele arrecadasse. Ele cita meu nome de forma genérica, sem dizer qual empresa [doou], qual o valor [foi doado]. Isso nunca existiu”.
O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) confirma ter recebido doações da Queiroz Galvão, mas afirma que elas foram legais. “Pedi doação para minha campanha, até porque todo candidato pede. Mas pedi doações legais, recebi e declarei tudo na Justiça Eleitoral. O que recebi da Queiroz Galvão está declarado na minha prestação de contas: foram R$ 332,5 mil em 2014. Esses valores estão errados [Sérgio Machado diz que os repasses ao deputado foram feitos via Queiroz Galvão: R$ 200 mil em 2010 e R$ 200 mil em 2014]. Eu não sabia da relação que Sérgio Machado estabelecia com as empresas. Uma coisa é pedir doação legal e declarar, que foi o que eu fiz. Outra coisa é participar de um esquema criminoso”, afirmou.
A reportagem não conseguiu falar com a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), mas ela já havia se manifestado sobre o caso. Disse ter pedido “ajuda pessoal” a Sérgio Machado, mas negou que existam irregularidades em sua contabilidade eleitoral. Segundo ela, todos os repasses recebidos são públicos e registrados e os pedidos foram transparentes e aprovados pela Justiça Eleitoral. “Atuo no setor naval há 35 anos e, por isso, estive de forma republicana diversas vezes com Sérgio Machado discutindo melhorias ao setor devido à importância da Transpetro. Na campanha de 2008 conversei com Machado sobre a possibilidade de sua ajuda pessoal, sim. Mas afirmo que não há qualquer contribuição da Queiroz Galvão em minhas campanhas através de Sérgio Machado, apenas de duas subsidiárias em 2014 por contato direto através do PC do B”, afirmou Feghali, em nota.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), rebateu nesta quarta-feira as acusações feitas contra ele pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado em sua delação premiada. De acordo com o senador, seu nome é citado em uma delação “que não prova nada”. Mesmo assim, Renan elogiou a decisão do Supremo Tribunal Federal de tornar público o conteúdo das acusações feitas por Machado. “[A delação] cita mas não prova nada. Com relação a mim, eu nunca autorizei ninguém parar falar em meu nome em nenhum lugar e todas as doações que recebi, para campanhas eleitorais, foram doações legais e com contas prestadas e aprovadas pela Justiça, de modo que eu não tenho absolutamente nada a temer”, disse.
O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) repudiou as acusações. Em nota, ele afirmou que “nunca solicitou ao delator doações para campanhas eleitorais”. Raupp classificou como “mentirosas e descabidas” as citações feitas ao seu nome.
O ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) ainda não respondeu ao pedido da reportagem.
Heráclito Fortes (PSB-PI) está em missão oficial no Panamá e disse que só irá se manifestar nesta quinta-feira (15), quando retornar ao país.
A reportagem também deixou recado no gabinete do deputado Felipe Maia (DEM-RN), mas não obteve resposta. Os demais citados não foram localizados.