Nos sete anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Partido dos Trabalhadores (PT) teve crescimento de 44% no número de filiados, segundo os dados disponíveis no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O mesmo balanço, resultado da comparação entre os filiados em outubro de 2002 (quando Lula foi eleito pela primeira vez) e dezembro de 2009, mostra que o PMDB, principal aliado do governo federal nesses dois mandatos, encolheu 11,5%. O desempenho da oposição nesse período foi irregular: enquanto o PSDB teve aumento de 5,9%, o Democratas teve queda de 8,2% no total de filiados.
Partidos menores tiveram altas taxas de crescimento. O PV, por exemplo, mais que dobrou seu tamanho. No período analisado, o número de filiados cresceu 152%. O PC do B cresceu 53,2% e o PR, 25,7%. O PSOL, que foi criado em 2005 após o escândalo do mensalão, cresceu oito vezes até o final de 2009.
A amostragem selecionada aborda os partidos que tiveram os crescimentos ou variações mais significativas no período, que reflete também parte das mudanças no campo político brasileiro. O intervalo foi marcado por turbulências no PT, com o escândalo do mensalão, e a organização de dissidentes em um novo partido. Partidos identificados com a direita também sofreram mudanças. As principais foram a criação do DEM (ex-PFL) e a junção do PL e Prona no PR.
Divergências
O número de militantes informado pelo PT ao portal G1 diverge das estatísticas do TSE, que são alimentadas com dados dos próprios partidos.
O G1 consultou os outros partidos sobre o número de filiados. O PMDB e o PSDB informaram que os dados estão corretos. Assim como o PT, o PV também acredita que o número de filiados é maior, divergência causada pela desatualização dos dados. O DEM não respondeu ao questionamento da reportagem. O PSOL informou que tem cerca de 45 mil filiados, incluindo "filiações internas" que não são informadas para a Justiça Eleitoral, como militares e menores de 16 anos.
Juventude de carteirinha
Com base nesses dados, a reportagem procurou as maiores legendas para saber o que pensam os jovens que estão entrando na política e que estão dispostos a vestir a camiseta do partido nas próximas eleições.
O sociólogo Marco Aurélio Nogueira, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), é cético ao analisar o número de filiações aos partidos. Ele avalia que o número de eleitores cresceu mais nesse período do que o número de eleitores filiados. Ele aponta que, proporcionalmente, a participação política era maior há sete anos do que agora.
Crescimento desequilibrado
Os números do TSE confirmam parte da análise do especialista. De acordo com o TSE, o aumento no total de eleitores no período foi de 14,5%. Em outubro de 2002, o Brasil tinha 115.253.834 cidadãos aptos a votar. Os filiados representavam 9,7% desse total. Pouco mais de sete anos depois, o número subiu para 132.054.280 e os filiados representavam 9% da base de eleitores.
"A minha hipótese é que estamos muito mal. Se você olhar um ano antes das últimas eleições, tinha muito pouco militante fazendo campanha, a maioria era contratada. Há dez anos, as pessoas iam por convicção. Hoje, é para ganhar sanduíche", decreta.
Em relação ao crescimento na militância de alguns partidos, Nogueira também não vê muitos méritos. "Seria estranho se o PT, sendo um partido há oito anos no governo, não tivesse crescido. Qualquer partido cresceria. Agora, se você ainda por cima coloca os traços típicos do governo petista federal, fica ainda mais fácil. O Lula é o soul líder, é um cara que tem 80% de aprovação. Ele tem uma capacidade de atração de pessoas muito grande".
Sobre o PSDB, o sociólogo relativiza o crescimento de quase 6% no número de eleitores filiados. "Não diria que esse é um dado que pudesse orgulhar o PSDB. É um percentual pequeno dado que é ele o maior partido de oposição", diz. Para Nogueira, os números do PC do B e do PPS podem indicar que a esquerda esteja abrindo mão de "exigências de caráter ideológico" nas filiações.
O professor Cláudio Gonçalves Couto, do departamento de Política da PUC, vê o mesmo viés no crescimento do PV. "Ele mudou de estilo nos últimos anos, passou a ser um partido que abriga lideranças de todos os tipos, cresceu fisiologicamente. Em alguns lugares do país, o PV abriga políticos que poderiam estar no PMDB, no PSDB, no DEM", diz.
Veja o que dizem os partidos
O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), atribui o crescimento do número de filiados à visibilidade dada pelas administrações petistas, incluindo, é claro, a principal vitrine, o governo federal.
"As pessoas veem o PT governando, e quem avalia positivamente está mais disposto a se filiar. Isso também acontece em prefeituras e governo estaduais. Quando o PT está governando, as pessoas têm mais possibilidade de ter contato prático com a política do PT", analisa.
Ele concorda que outro fator é o processo de eleições diretas no partido. Por esse processo, as chapas que comandarão os diretórios nacionais, estaduais e municipais são eleitas com os votos dos militantes, o que pode estimular um aumento de filiações com o objetivo de ajudar a eleger determinado grupo.
"Todo ano que tem eleição existe o esforço de algumas correntes de aumentar o número de filiados. Faz parte do processo democrático interno. Agora, nós temos feito um trabalho de triagem pra evitar filiações despolitizadas", pondera.
Bandeiras atuais
Segundo o integrante da diretoria do PV Marco Mroz, secretário de relações internacionais e um dos coordenadores da campanha da senadora Marina Silva (AC) à Presidência da República, o partido cresce impulsionado pela "revitalização do programa". "Nossas bandeiras sempre foram atuais, mas nunca foram tanto atuais como agora. Mas temos que dar um passo além. Uma atuação forte na eleição presidencial é importante", disse. Em uma breve avaliação dos novos filiados, ele diz que há três perfis principais: os que buscam concorrer a cargos públicos, especialistas que pretendem contribuir em determinadas áreas na formulação de propostas e os filiados que acreditam que o partido vai crescer e chegar ao poder. "Ele não está vindo pelo lado fisiológico, está vindo pela perspectiva de se mudar o eixo", avalia. No PSDB, o secretário-geral do partido, deputado Rodrigo de Castro (MG), diz que a avaliação da evolução do número de filiados é positiva. "Ficamos satisfeitos: houve um crescimento e justamente em um período em que o partido saiu do governo federal", disse. "Mostra vitalidade do partido."
Entretanto, ele admite que um dos problemas dos tucanos é aproximar os filiados da ação prática. Em alguns casos, ele admite que há uma distância grande entre filiados e atividades desenvolvidas pelo partido. "Já tivemos vezes em que não tínhamos contato com nossos filiados."
Apesar de não ser identificado por ser o partido com a maior base militante do país, o deputado desmistifica a concepção de que ela não é mais tão importante. "A militância ainda é fundamental. Há novas formas de mídia, mas no fim há a mesma necessidade de contato com as pessoas."
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