A possibilidade levantada pelos senadores Romário (PSB-RJ) e Acir Gurgacz (PDT-RO) de rever suas posições em relação ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) acendeu o alerta vermelho do presidente interino Michel Temer (PMDB). A informação é do jornal O Globo. Caso confirmada a mudança de votos, a petista não seria mais cassada, já que são necessários 54 senadores para afastá-la e, na primeira votação, 55 foram favoráveis ao afastamento de Dilma.
A especulação sobre os votos dos senadores abre mais uma preocupação para Temer, que, em apenas 20 dias na Presidência, já viu a queda de dois dos seus ministros por influência da Operação Lava Jato. A condução do governo interino e as denúncias envolvendo o alto escalão do Palácio do Planalto podem ser fatores que levaram os senadores a cogitar troca de votos.
Fatos novos
Em entrevista ao jornal O Globo, Romário citou “novos fatos políticos” como influentes na votação no Senado. “Assim como questões políticas influenciaram muitos votos na primeira votação, todos esses novos fatos políticos irão influenciar também. Meu voto final estará amparado em questões técnicas e no que for melhor para o país”, disse.
Já Gurgacz negou em nota que teria mudado o voto, mas afirmou que ainda está indeciso. Segundo noticiado, ele teria informado ao partido que irá se posicionar contra o impeachment. A sinalização do senador fez com que o Diretório Nacional do PDT adiasse a decisão sobre punição disciplinar aos que votaram contra a orientação do partido, que é favorável a Dilma.
O paranaense Alvaro Dias (PV), adepto do impeachment, afirma que o risco de mudança de quadro “é uma realidade”, mas que “a lógica favorece a manutenção da situação já colocada”. “O que há é uma flutuação permanente em função da temperatura do momento político. Há os que se aborrecem com revelações do atual governo, mas também refletem sobre o que ocorreria diante do retorno de Dilma”, diz. Para o senador, a indefinição deve permanecer até o momento da votação final, que deve ser apertada.
Já a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) aponta que alguns parlamentares já apontavam, quando da admissibilidade do processo de impeachment , que poderiam mudar de posição, conforme o entendimento individual sobre o cometimento de crime de responsabilidade da presidente afastada. “O clima parece estar mudando, tanto pela posição inicial dos senadores quanto pelo impacto das questões políticas do governo interino”, diz.
Trapalhadas
A cúpula do PT aproveitou a “trapalhada” peemedebista para afirmar, em nota, que a “agenda ética” do interino “se esfarela” após o vazamento de conversas entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e integrantes do PMDB. Para os dirigentes petistas, os áudios “confirmam o caráter golpista do impeachment” de Dilma. A liderança do PT na Câmara também denunciou outros ministros na Comissão de Ética da Presidência.
Do outro lado, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), recém-empossado líder do governo, divulgou um vídeo em que expõe argumentos pelo impeachment de Dilma e, com duras críticas, mostrou que esse será seu compromisso. “É para que eu possa contribuir com o bom desfecho desse processo. Eu não quero que a Dilma volte. Eu não quero que o PT volte. Isso seria uma tragédia para o país”, ressaltou.
Nomeação de ministros investigados pela Lava Jato foi um risco, diz especialista
O cientista político Leon Victor de Queiroz, da Universidade Federal de Campina Grande, aponta que o governo interino errou quando assumiu o risco de nomear ministros investigados na Lava Jato, já que não há controle sobre a operação. Assim, para ele, as articulações pela volta de Dilma podem ganhar força. “Pode ser improvável, mas não é impossível [o retorno dela]”, avalia.
Segundo Queiroz, além das “trapalhadas” do novo governo que pesam na opinião pública, como a queda dos ministros e dificuldade de “andamento” das diferentes áreas, alguns senadores já demonstravam dúvidas em relação ao julgamento final de Dilma na primeira votação do impeachment. “Aparentemente, eles queriam pagar para ver, admitindo o processo, mas deixando em aberto a possibilidade de reversão posterior”, afirma.
“Os parlamentares devem usar todo o tempo de afastamento da presidente [até 180 dias] para ver como é o novo governo. Se for tão desastroso, o quadro pode até se reverter”, aponta. Para o especialista, porém, o cenário de instabilidade seria imprevisível se confirmada a volta da petista, pois não é descartada a possibilidade de condenação das contas de campanha dela de 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).