Palácio Iguaçu, sede do governo estadual: 3 em cada 10 servidores têm mais de 20 anos de serviço| Foto: Marco André Lima/Gazeta do Povo

Dilma adia concursos à espera da votação da nova previdência

Na esfera federal, o governo Dil­­ma Rousseff pretende mudar a previdência do funcionalismo o mais rápido possível, antes que aumente significativamente a quantidade de aposentados. O Planalto inclusive está segurando a realização de concursos. Isso porque os novos servidores já in­­gressariam submetidos às novas regras, que aliviam o rombo previdenciário. Para os atuais funcionários, continuariam a valer as normas em vigência.

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Contratações

Setor público perde atrativos

A discrepância entre os salários pagos pela iniciativa privada e o setor público, em algumas atividades profissionais, faz com que os concursos venham perdendo parte do atrativo. O bom momento da economia brasileira não colabora para a contratação de novos servidores. "Já trabalhei em cursinhos e havia muita gente que queria entrar no serviço público com formação de Direito, Engenharia ou Medicina", diz José Guilherme Vieira, professor da UFPR. Mas, por proibir o acúmulo de atividades, o setor público está perdendo o atrativo. "O Brasil vive uma situação de pleno emprego, faltando mão de obra em todos os lugares. Portanto, a estabilidade não é mais um benefício", explica ele. "As pessoas trocam de emprego sem medo, porque o encontram em outros lugares. Por isso, a estabilidade, que era o grande chamariz dos concursos públicos, perde a importância." (VB)

Estradas

Engenheiros migram para a iniciativa privada

A Associação dos Engenheiros do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (Aeder) confirma a falta de reposição dos profissionais da área pelo estado. Os servidores costumam se aposentar assim que garantem os requisitos mínimos de faixa etária e tempo de serviço e partem para trabalhos na iniciativa privada. "Há necessidade de reposição do quadro de engenheiros. Por isso, o governo precisa rever o plano de cargos e os salários oferecidos", explica Rui Assad, presidente da Aeder.

De acordo com ele, o aquecimento do mercado para os profissionais faz com que haja aumento dos salários, tornando os vencimentos oferecidos pelo governo pouco atrativos. "A iniciativa privada sofre com a carência desses profissionais no mercado. E muitos daqueles que passaram em concursos acabam deixando o cargo atraídos por essa diferença salarial", revela Assad.

Apesar da disposição do governo estadual em dialogar e convocar quem está na fila dos concursos, a defasagem ainda não compensa a saída de funcionários, diz o presidente da entidade. "Os engenheiros se aposentam relativamente novos e continuam trabalhando em outros locais." (VB)

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O governo do Paraná e a União têm de se preparar para um au­­mento significativo do número de servidores aposentados nos próximos anos – o que exigirá a abertura de concursos para repor o qua­­dro, sob risco de a administração pública ficar sem mão de obra su­­ficiente para funcionar. Quase três em cada dez servidores estaduais têm mais de 20 anos de tempo de serviço e, dos quase 125 mil funcionários do estado, 28% já superam os 50 anos, aumentando a chan­­ce dos pedidos de aposentadoria. No governo federal, a situação é pior: 40% dos servidores também estão perto de se apo­­sentar.

A administração paranaense, por exemplo, admite que nas áreas técnicas – caso da engenharia, biologia e economia – já há au­­sência de servidores. Por isso, um planejamento adequado de concursos, a reestruturação das carreiras e a preparação da previdência estadual são apontados como respostas adequadas.

"Se forem cruzados dados do tempo de serviço e idade, a saída [de servidores] pode ser expressiva. Já há dificuldade nos serviços técnicos, um quadro em que o estado não consegue competir", admite o secretário estadual da Administra­­ção e Previdência (Seap), Luiz Edu­­ardo Sebastiani.

Sem qualificação

Em muitos casos, não existe qualificação para a mão de obra disponível. "Nas últimas décadas, o profissional de carreira foi substituído. Com isso, existe quadro ge­­rencial de pouca formação e experiência", diz Antoninho Caron, professor do programa de mestrado em Organizações e Desenvol­­vimento da FAE.

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Doutor em Economia, o professor da UFPR José Guilherme Vieira explica que o ritmo de aposentadorias pode não ser tão intenso em razão da falta de interesse. "Nem todos tentam se aposentar imediatamente. Ele [o servidor] tem o di­­reito, mas aguarda a aposentadoria compulsória [por idade, normalmente]", diz.

Para Vieira, o planejamento pre­­cisa ser bem-feito, especialmen­­te em áreas prioritárias – como educação, saúde e segurança. "Na área administrativa, a tecnologia pode até substituir o trabalho de um servidor. Mas esse raciocínio não se aplica a todo o governo. Mé­­dicos, professores e policiais não podem ser substituídos."

Segundo o secretário Se­­bas­­tia­­ni, o Paraná estabeleceu uma agenda para substituir os servidores aos poucos, respeitando a capacidade financeira. "Le­­va­­mos em conta o cuidado de não abrir lacunas de atendimento ao cidadão e, ao mesmo tempo, de não criar expectativas sobre concursos", diz.

A Secretaria da Administração trabalha em uma remodelagem das tabelas salariais do estado, buscando a equiparação com a realidade atual do mercado para atrair servidores. Para a presidente do APP-Sindicato e coordenadora do Fórum de Servidores Estaduais, Marlei Fernandes de Carvalho, esse é o cerne da questão: "Os servidores não veem pers­­pectiva de fu­­turo [na carreira do estado]".

Embora seja contraditório, o governo pretende transformar es­­se cenário seguindo dois critérios: manutenção ou aumento do pa­­drão de qualificação técnica dos servidores e minimização dos im­­pactos financeiros. "Nós nos en­­contramos próximos dos limites constitucionais de gastos", justifica Sebastiani.

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Outro problema com o aumento das aposentadorias está na previdência estadual. De acordo com a análise das contas estaduais de 2010, realizada pelo Tribunal de Contas, a Paranaprevidência, que gerencia o pagamento das aposentadorias dos servidores estaduais, é deficitária por falta de repasses do próprio governo na gestão Re­­quião.

A atual gestão alega que uma possível mudança no formato de contribuição para formar o fundo de aposentadoria, de modo a equilibrar as contas, só vai ocorrer após a votação do projeto em tramitação no Congresso que mu­­da a contribuição dos servidores federais.