A CPI dos Correios começou a desmontar a versão apresentada pelo empresário Marcos Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de que todo o dinheiro usado para fazer pagamentos a políticos aliados do governo e remetido para a conta do publicitário Duda Mendonça no exterior saiu de empréstimos no BMG e no Banco Rural. Integrantes da comissão encontraram uma diferença de quase R$ 3 milhões entre o que Valério recebeu dos bancos e usou para abastecer as contas de partidos governistas e deputados ligados ao PT. O desafio da comissão agora é descobrir a origem do dinheiro.

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Valério alega em documento enviado ao Ministério Público ter contraído empréstimos no total de R$ 55,217 milhões, mas diz ter pagado aos políticos R$ 55,691 milhões. Nessa conta já ficam faltando R$ 474 mil. Somam-se a esse valor outros R$ 180 mil retirados no Banco Rural por dois funcionários da corretora Bônus Banval e não contabilizados por Valério como repasse à empresa usado pelo esquema político.

Além desses R$ 654 mil, a CPI descobriu que Valério contabilizou entre suas receitas R$ 2,268 milhões - valor que, segundo integrantes da CPI, não poderia ter sido repassado a políticos por ter sido usado para saldar encargos da operação feita por outra empresa de Valério, a Grafitti, no banco no dia 28 de janeiro de 2004. Para pagar esse débito, o empresário usou parte do empréstimo de R$ 3,516 milhões tomado pela SMP&B no dia 14 de julho de 2004 no BMG.

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Os técnicos da CPI concluem, portanto, que Valério teria disponível para distribuir a políticos R$ 52,949 milhões saídos dos empréstimos bancários. Mas o próprio empresário afirma ter pago R$ 55,691 milhões para os políticos, além dos R$ 180 mil da Bonus Banval. Ou seja, uma conta que não fecha por quase R$ 3 milhões.

O levantamento da CPI mostra ainda que a versão de Valério já se desmonta logo no primeiro empréstimo, contraído em fevereiro de 2003 no BMG. O banco teria repassado a ele R$ 12 milhões. Na segunda quinzena de abril de 2003, os pagamentos a políticos já haviam consumido esses recursos. E a conta dos empréstimos para o PT passaria então a ficar no vermelho. Entretanto, no período de 23 de abril a 6 de maio, o publicitário continuou fazendo repasses, num total de R$ 4,2 milhões, para pagar as pessoas indicadas por Delúbio.

O dinheiro, pelos documentos disponíveis na CPI, teria sido entregue à sócia de Duda Mendonça, Zilmar Fernandes da Silveira, e ao falecido deputado José Carlos Martinez, presidente do PTB. Só no dia 26 de maio o saldo da conta entre Valério e o PT voltou a ficar positivo com um segundo empréstimo de R$ 18,929 milhões feito pela SMP&B no Banco Rural.

Constatada a diferença, a comissão agora vai tentar rastrear a origem do dinheiro usado para pagar os políticos e o publicitário responsável pela campanha vitoriosa do presidente Lula. Uma das linhas de investigação, com o apoio da Polícia Federal e do Ministério da Justiça, é tentar mapear a rede de empresas por onde passou o dinheiro enviado pela SMP&B, agência de Valério, a três paraísos fiscais: Ilhas Cayman, Panamá e Uruguai.

A comissão investiga ainda a participação do doleiro Haroldo Bicalho, preso pela Polícia Federal na operação Farol da Colina, nas remessas para a conta no exterior do publicitário Duda Mendonça. Bicalho teria sido sócio da Trade Link Bank, offshore nas Ilhas Cayman, de onde saíram pagamentos no valor de US$ 897 mil para as contas de Duda. Segundo a CPI, Bicalho foi sócio da presidente do Banco Rural, Katia Rabelo, na RS Empreendimentos e Participações Ltda, empresa pela qual foi remetido dinheiro para o Panamá saído da 2S Participações Ltda, uma das empresas de Valério.

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A Athenas Trading e a Guaranhus Empreendimentos Ltda são as outras duas empresas que receberam, respectivamente, R$ 1,967 milhão e R$ 5,708 milhões da SMP&B e, segundo a CPI, remeteram dinheiro para o Uruguai. Os recursos foram enviados pela Athenas à Leagger S.A., que tem como procurador Wladimir Santos, também sócio da empresa. E pela Guaranhuns para a Esfort Trading S.A., detentora de 99% de suas ações.

- A SMP&B depositou dinheiro em tradings (empresas de comércio exterior) que fizeram remessas de recursos para o exterior. Temos de saber se há conexão entre o dinheiro que saiu da agência, por intermédio das offshores , e os depósitos feitos nos bancos que abasteceram essa conta (do publicitário Duda Mendonça) - afirmou um dos sub-relatores da CPI, Gustavo Fruet (PSDB-PR), responsável pelas movimentações financeiras.