Curitiba Levar dinheiro para passear de avião pelo Brasil não tem sido uma boa idéia, diriam o deputado João Batista Ramos da Silva (PFL-SP), pego com R$ 10 milhões, e o assessor parlamentar petista José Adalberto Vieira da Silva, flagrado com R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil dentro da cueca. Vieira acabou descoberto porque subestimou, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, um procedimento simples, que não leva mais de 15 segundos para quem não tem nada o que esconder, é claro.
Diariamente, uma média de 4 mil pessoas embarcam em vôos que saem do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em Curitiba. Todas elas têm a bagagem de mão examinada por um aparelho de raio X e cruzam um pórtico detector de metais. No Afonso Pena, cada conjunto desses é operado por uma equipe de cinco pessoas, explica o superintendente em exercício do aeroporto, Luiz Alberto Bittencourt. Ainda há outro aparelho para os funcionários e mais dois, com o dobro do tamanho, para vistoriar as malas despachadas no check-in.
O raio X detecta qualquer tipo de material orgânico e inorgânico, conta Bittencourt. Duas telas, uma colorida e a outra em preto-e-branco, mostram ao operador formatos e cores ou tons diferentes de acordo com o material de que é feito o objeto. "Se achamos algo suspeito, abrimos a mala. Em certos casos, chamamos a polícia para fazer isso", diz o superintendente, ressaltando que tais situações são pouco freqüentes. Normalmente a vistoria flagra pequenos objetos como tesouras, canivetes e cortadores de unha, que não podem ser levados na bagagem de mão. Se for possível, eles devem ser despachados, do contrário acabam abandonados no aeroporto. "Até abridor de carta já tivemos de confiscar", conta o advogado Fábio Rodrigues, procurador da Infraero.
Enquanto a reportagem estava no aeroporto, uma tesoura escolar foi encontrada na mochila de uma menina. Ela e a mãe tiveram de levar de volta o objeto para o pai.
Se até um cortador de unha já chama a atenção, Adriana Sbrissia teve uma grande surpresa ao identificar um objeto em forma de granada dentro de uma mala. Acionados todos os procedimentos de segurança, descobriu-se que se tratava de uma arma, mas de sedução: um perfume cujo frasco tinha o formato do explosivo. "Aconteceu comigo mais de uma vez", recorda Adriane, que trabalha no Afonso Pena há oito anos. Outros alarmes falsos são provocados por relógios de parede que trazem, abaixo do mostrador, duas espingardas cruzadas.
Adriana também já encontrou algemas, não exatamente para uso policial. "Alguns passageiros até riem, outros ficam constrangidos. E nós temos de ser profissionais e não gargalhar na hora", diz a funcionária. Bittencourt conta um episódio em que outro "brinquedinho" começou a vibrar dentro da mala no exato momento em que passava pelo raio-X. "Acabou abandonado no banheiro no masculino", diz, acrescentando que não foi bem no Afonso Pena que isso aconteceu. Barbeadores elétricos também já ligaram sozinhos dentro de malas.
Se o raio X pega quase tudo, o pórtico detector apenas flagra objetos de metal, e está regulado para não disparar por causa de uma aliança ou fivela de cinto. Às vezes, roupas com muitos adornos metálicos acabam acendendo a luz vermelha. Nesse caso, outro funcionário usa um bastão detector para uma pequena revista. Talvez, se o assessor parlamentar Vieira da Silva tivesse escondido todo o dinheiro dentro da roupa, teria escapado ileso.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião