Com a homologação dos acordos de colaboração premiada dos executivos da Odebrecht, assinado nesta segunda-feira (30) pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carmen Lucia, a Lava Jato deve tomar uma proporção ainda maior ao longo do ano. Isso porque, apesar do sigilo sob o conteúdo, com a homologação do acordo, os cerca de 900 depoimentos dos 77 executivos podem ser utilizados para abertura de investigações, pedidos de quebras de sigilo e deflagração de novas fases da Operação Lava Jato.
O material foi encaminhado à Procuradoria Geral da República (PGR), que vai analisar o conteúdo e tomar as próximas providências. Parte dos depoimentos pode ser remetida à força-tarefa de Curitiba – se envolverem crimes relacionados à Petrobras e pessoas que não tenham prerrogativa de foro – e outros estados. A expectativa de investigadores e advogados que atuam no caso é que a delação dos executivos devem dobrar o volume de trabalho da Lava Jato.
Em dezembro, os depoimentos do ex-diretor Claudio Melo Filho vazaram e abalaram a classe política em Brasília, com a citação de 48 políticos, muitos do altíssimo escalão da República. Além de Temer, Melo Filho citou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o secretário do Programa de Parcerias de Investimento, Moreira Franco, o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
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O nome do presidente Temer aparece 43 vezes no depoimento. Segundo o executivo, o presidente teria pedido R$ 10 milhões à empreiteira para o PMDB na campanha de 2014. O ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, confirmou o depoimento de Melo Filho.
TSE
O presidente Michel Temer vê a delação como um risco no processo de cassação da chapa Dilma-Temer, em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há um temor no Planalto de que os executivos da empreiteira levantem novas suspeitas sobre a origem das doações feitas à campanha, fortalecendo a acusação de que houve abuso de poder econômico.
Listão da Odebrecht
O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Barbosa Silva Junior, outro delator, tinha em mãos uma planilha que mostra doações da empresa a cerca de 200 políticos de 24 partidos – incluindo congressistas, ministros, governadores, prefeitos, entre outros. A expectativa é que ele tenha detalhado informações contidas na planilha, apreendida em março do ano passado pela Polícia Federal (PF) na Operação Xepa.
Na lista estão políticos de vários partidos, muitos relacionados a apelidos. O senador José Sarney (PMDB) aparece relacionado ao codinome “Escritor”. Renan Calheiros, o “Atleta”. Eduardo Paes (PMDB), prefeito do Rio de Janeiro, tem como codinome “Nervosinho”. Eduardo Cunha (PMDB) , presidente da Câmara dos Deputados, é o “Caranguejo”. O senador Humberto Costa (PT-PE) é “Drácula”. O também senador Lindbergh Farias (PT) aparece como “Lindinho”.
A soma dos valores relacionados aos políticos aparece na tabela com o valor de “R$ 55,1 mil”, mas pela quantidade de nomes sugere que a quantia possa ser, na verdade, de R$ 55,1 milhões.
Paranaenses
Há a possibilidade de nomes paranaenses aparecerem nos depoimentos da delação dos executivos da Odebrecht. Na planilha encontrada com Benedicto Barbosa Junior no ano passado, há menções a doações eleitorais para candidatos à prefeitura de Curitiba em 2012. Os três candidatos que ficaram nos primeiros lugares são citados na planilha. Gustavo Fruet (PDT) teria recebido R$ 300 mil, Ratinho Junior (então PSC) R$ 250 mil e Luciano Ducci (PSB) R$ 500 mil. Os três negam irregularidades na campanha.
Na planilha aparecem ainda outros nomes paranaenses: o governador Beto Richa (PSDB), a senadora Gleisi Hoffmann (PT), o ex-ministro Paulo Bernardo (PT), Jorge Samek (ex-diretor brasileiro de Itaipu), Marcia Lopes (irmã do ex-ministro Gilberto Carvalho que disputou a prefeitura de Londrina em 2012 pelo PT) e os deputados federais Luiz Carlos Hauly (PSDB) e Ricardo Barros (PP).
O nome de Gleisi já apareceu depois do vazamento de parte dos depoimentos do executivo Marcelo Odebrecht, em dezembro. A paranaense teria recebido R$ 4 milhões da Odebrecht para sanar dívidas da campanha ao governo do estado em 2014. O pagamento teria sido feito a pedido da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), durante o segundo turno das eleições presidenciais. A senadora nega irregularidades.
Lula e Dilma
A relação da empreiteira com os ex-presidentes petistas Lula e Dilma Rousseff também deve ser detalhada nos depoimentos. As informações devem ser dadas pelo patriarca da empresa Emílio Odebrecht e pelo ex-presidente Marcelo. Esse último teria confirmado também o pagamento de mesadas no valor de R$ 50 mil a um dos principais assessores de Dilma, Anderson Dornelles – que nega as afirmações de Odebrecht.
Tucanos
Além de políticos do PT e PMDB, os depoimentos dos executivos devem acertar em cheio figuras do PSDB. Um dos alvos potenciais da delação pode ser o senador Aécio Neves, presidente nacional do partido. Benedicto Barbosa Junior afirmou à força tarefa da Lava Jato que trocou mensagens com Marcelo Odebrecht sobre doação eleitoral a Aécio em 2014.
Barbosa disse que na mesma oportunidade comentou sobre preocupação de Aécio em relação a possível investigação contra o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ).
Executivos da Odebrecht também afirmaram à força-tarefa que repassaram R$ 2 milhões em dinheiro vivo, por meio de caixa dois, às campanhas de 2010 e 2014 do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Muito além da Petrobras
As delações também devem atingir em cheio o BNDES e o FI-FGTS, duas fontes de financiamento federal das obras da empreiteira. E, de quebra, implicar uma série de governos de outros países no esquema de corrupção, pois a empresa tem obras em 17 nações estrangeiras – várias delas financiadas pelo BNDES.
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