Saúde e Bem-Estar
THC versus CBD: quais são os efeitos da maconha para a saúde
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Maconha medicinal? Por que os médicos psiquiatras não querem o nome da maconha envolvido na discussão do canabidiol? Foto: Bigstock.
Maconha medicinal?
“Quando se fala em maconha medicinal, isso não existe. É o mesmo que comparar ao veneno da cobra. Pode ser que tenha uma substância no veneno da cobra que pode ser muito boa para a saúde humana. Mas não vamos falar em ‘veneno de cobra medicinal'”, explica.
THC e quadros psicóticos
“Existem estudos sobre o uso medicinal da maconha, que usam um preparado com uma porcentagem menor de THC. O THC aumenta o apetite, reduz náusea, dor, inflamação e problemas de controle dos músculos. O CDB também auxilia na dor e na inflamação, além de controlar diferentes tipos de epilepsia, e possivelmente trata problemas mentais e até dependências”, explica a também pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria, do hospital das Clínicas da USP, em São Paulo.
Canabidiol “medicinal”
Com relação ao CBD, a discussão muda de figura — mas os efeitos da substância ainda são cercados de críticas. Em estudos recentes, o canabidiol se mostrou promissor no tratamento da esquizofrenia, na melhora da qualidade de vida de pacientes com epilepsia resistente, além de possivelmente colaborar com o tratamento da ansiedade, dos vícios e até mesmo da depressão.
Ainda assim, os especialistas olham aos dados com cautela, visto que são estudos com poucos participantes e resultados questionáveis.
“Tanto que o FDA (agência reguladora norte-americana dos medicamentos e alimentos), que é o órgão que controla a liberação das drogas, não liberou tratamento algum com o CBD, nem mesmo para [o tratamento da] convulsão. Está sendo liberado para alguns casos, mas não pode ser considerado um remédio milagroso”, explica Marco Antônio Bessa, médico psiquiatra.
No site do FDA, a agência reforça a angústia dos médicos ao avisar que as informações disponíveis sobre o CBD são bastante limitadas. Por exemplo, não se sabe ainda qual é a real ação desse princípio ativo no organismo humano, e os impactos no fígado após uma exposição prolongada à substância.
“Não tem comprovação alguma mais específica que [o canabidiol] sirva para essas indicações. Se ficar comprovado, não tem problema algum [que o paciente faça uso]. Mas a campanha pela legalização quer que a substância seja liberada sem passar pelos testes científicos”, completa Bessa, que também é conselheiro do Conselho Regional de Medicina, seção Paraná (CRM-PR).
Um editorial da revista científica norte-americana JAMA (Journal of American Medical Association), de 2015, reforça a necessidade de mais estudos envolvendo não só os princípios ativos da planta, mas com toda a maconha, antes que se discuta a liberação.
E, mais recentemente, uma meta-análise e revisão sistemática dos estudos envolvendo os canabinoides mostrou que ainda há pouca evidência de que essas substâncias ajudem, de fato, doenças mentais, como depressão, ansiedade, psicose e transtorno pós-traumático. O estudo foi divulgado pela revista científica Lancet Psiquiatria no fim de outubro.
“Um grande corpo de evidências mostram que o uso da cannabis pode aumentar sintomas de depressão, ansiedade e psicose, e levar a uma dependência. De muitas maneiras, sabemos mais sobre os riscos de longo prazo do uso regular da cannabis do que os benefícios para pessoas com transtornos mentais”, explicou a autora principal do estudo, Louisa Degenhardt, da Universidade New South Wales, da Austrália, ao site de divulgação científica Medscape.
Efeitos somados
- Formação de quadros psicóticos, especialmente esquizofrenias;
- Depressão;
- Ansiedade;
- Dificuldade no aprendizado, no registro de informação;
- Problemas de memória;
- Coordenação motora afetada;
- Alteração na capacidade de julgamento;
- Efeitos paranoicos;
- Dependência, entre usuários frequentes;
- Uso precoce, por crianças ou adolescentes, gera alteração no desenvolvimento cerebral, que pode levar a redução do QI (quociente de inteligência).
- Problemas respiratórios.
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