Para os empreendedores de primeira viagem, um dos passos primordiais depois de colocar a operação em funcionamento é estudar e compreender como funciona o cálculo do ‘valuation’. Em linhas gerais, ele pode ser definido como o quanto vale sua empresa ou, ainda, qual o potencial de lucro o seu negócio oferece.
É um desafio que, mais cedo ou mais tarde, o empreendedor deseja se deparar. Já de antemão, sinalizo que o valuation transcende qualquer matemática simples, já que compreende uma combinação de diferentes elementos e está ligado à captação de investimentos, talvez um dos principais desafios de um empreendedor em early stage (estado inicial).
Sócio-fundador do fundo de investimentos SeedCamp, Carlos Eduardo Espinal comenta em artigo que o maior determinante do valor de uma startup é o potencial da indústria em que ela atua, que incluem o equilíbrio entre oferta e procura dentro do segmento de atuação da empresa, se houve exits (saídas) recentes e quais os portes das vendas, além da disposição pessoal do investidor para fechar o negócio e o tamanho da necessidade e da urgência deste empreendedor em contar com esse dinheiro.
Sobre o mesmo tema, o empreendedor Bernardo Arnaud, que escreve para a EU-Startups.com, revista online líder na cobertura do segmento de startups na Europa, comenta que é importante observar que a valorização dos empreendimentos em startups costumam mudar com elementos como competição entre startups similares e também com períodos de recessão econômica. O primeiro caso, a abundância de capital, aumenta as avaliações positivas e o segundo caso, como um cenário de recessão, reduz a disposição dos investidores em assinar cheques.
Conforme explica a Investopedia — portal norte-americano que desde 1999 se propõe a descomplicar o mercado de investimentos, para startups com pouca ou nenhuma receita (ou lucro) e futuro incerto, se faz especialmente desafiadora a tarefa de atribuir um valor de mercado, enquanto empresas maduras de capital aberto podem se valer de índices concretos como o EBITDA (em português, lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
Para aquelas startups em early stage que ainda não dão nem mesmo lucro, pode ser ainda mais complexo determinar o valuation, sendo necessário recorrer a uma métrica chamada ‘fluxo de caixa descontado’, que envolve a previsão de quanto fluxo de caixa a empresa produzirá no futuro e um cálculo de retorno sobre investimento (ROI) que, por conta do risco de qualquer empresa falir, pode apostar, sofrerá vários descontos na caderneta do investidor.
Em meus investimentos-anjo — e também via G2 Capital — considero alguns destes fatores comuns compartilhados por quase todos os investidores de risco, mas também tenho alguns aprofundamentos e dicas pessoais valiosas na hora de determinar o valuation de uma startup em estágio inicial. Compartilho alguns deles abaixo.
Avaliar o setor em que a empresa está inserida é muito importante, principalmente para realizar o cálculo. Isso porque, se você está em um mercado altamente aquecido, vão existir similares para quase tudo. Sendo assim, investidores podem olhar a tração (volume de negócios significativo), os números e projetar o quanto a startup pode crescer e o quanto outras cresceram no mesmo período.
O ponto mais importante do valuation. Quem está por trás da ideia vale mais do que a ideia em si. Após muitas apresentações de pitch percebi que o perfil do empreendedor, os seus valores e os da sua equipe são um ponto importantíssimo a ser analisado.
Além desse perfil, é comum que os investidores analisem elementos como experiência no mercado; formação educacional; relação entre os fundadores; equipe técnica; humildade e pé no chão; pensamento grande e fluência em inglês.
Essa é uma parte essencial para situar o investidor do lugar onde ele está entrando. Se você está inserido em um mercado com excelentes oportunidades e está super em alta, onde os clientes estão dispostos a gastar frequentemente, com certeza será um diferencial. Portanto, esse é um fator muito importante para avaliar o potencial do negócio, e automaticamente impacta no seu valuation.
Em alguns casos, esse é um pré-requisito para investimento. Quando não existe o mínimo de tração, o investimento não é interessante para as duas partes, já que é uma transação arriscada para o investidor, e a empresa fica bem mais barata. Quando se tem muita promessa e pouca ação, também é um sinal de alerta, boas ideias sem execução, são apenas ideias.
Tenha em mente que os investidores vão te ofertar o menor valor possível, para ver o quanto de progresso você consegue com esse dinheiro. Uma early stage acha muito dinheiro R$ 1 milhão de investimento, mas vai descobrir rapidamente que com um burn rate (o quanto de dinheiro o empreendedor gasta mensalmente para bancar a operação) de R$ 100 mil, esse montante possibilita que ela se sustente pelo período de apenas um ano.
Também concordo que, quanto maior a necessidade e a urgência do investimento, o valor de mercado fica menor. Por isso, vá atrás de investimentos antes de precisar realmente, assim o seu valuation será mais alto.
Primeiramente, vamos às definições: smart money (dinheiro inteligente) é quando um investidor vai além do dinheiro e colabora com mentorias, divulgação e parcerias. Já o dumb money (expressão que designa dinheiro ‘estúpido’) é apenas dinheiro, um investimento essencialmente financeiro, com interesse exclusivamente nos resultados. Assim, a assinatura de quem investe também é muito importante, aumentando o valuation da empresa.
Uma dica de ouro que eu dou é: cláusula anti-diluição. Isso quer dizer que, se alguém compra 30% da sua empresa quando ela valia R$ 1 milhão e colocou essa cláusula, significa que ela vai ter 30% do seu projeto durante todas as próximas rodadas de investimento. O retorno do capital pode ser de 10, 15 ou 20 vezes, mas depende de rodadas de investimento. Investidores buscam segurança, mas há outros mecanismos de proteção.
Para finalizar, importante frisar que, durante esse momento de avaliação de seu valor de mercado, o empreendedor deve controlar seu otimismo. Não é recomendável jogar os índices operacionais lá em cima, buscando um valuation superior à realidade do seu negócio.
Investidora especialista em startups de impacto social, Lolita Taub comenta que, quando um negócio aparenta ser bom demais para ser verdade em sua primeira avaliação de valor, provavelmente prejudicará todos os envolvidos nas próximas rodadas de investimento.
E a explicação é simples: agindo desta forma, a grande probabilidade é que, nos próximos rounds, não se consiga alcançar os marcos financeiros aguardados, o que provocará, como consequência direta, a diluição dos acionistas originais. Se isso acontecer, é esperado que estes investidores bloqueiem o novo financiamento. E nenhum fundador deseja isso.
Outro problema decorrente de uma avaliação sem contato com o mundo real diz respeito ao momento de fazer as saídas (exits). Se os investidores esperarem valores mais altos que os possíveis, fatalmente impedirão a venda da empresa ao se depararem com números inferiores.