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Lombo de cordeiro, batata-doce roxa e molho de beterraba, um dos pratos principais do menu do Ponto Gin.

Anacreon de Téos

Panela do Anacreon

A encantadora cozinha de Júlia Schwabe nas noites do Ponto Gin

17/05/2023 17:29
Sabe quando você tem uma
expectativa lá em cima e fica com receio de o resultado não corresponder à
altura? Já me aconteceu algumas vezes, com a combinação de trabalhos de chefs
inspirados e sommeliers (ou bartenders) bem respaldados. E aí, chega na hora e
realmente não é tudo aquilo que o potencial poderia sugerir.
Não, não... não é disso que estou falando agora, apenas me lembrei que sempre existe o risco. Felizmente, não foi o que ocorreu quando fui conhecer a nova unidade do Ponto Gin, que acaba de ser inaugurada ali no Bigorrilho – quase divisa com o Batel. Expectativa por quê? Porque o bar estaria por conta de uma das feras da coquetelaria curitibana: Gabriel Bueno (ex-Cosmos, no C La Vie). E, na cozinha, simplesmente a chef Júlia Schwabe – por um bom tempo fiel escudeira do chef Lenin Palhano, no Nomade e no Obst.
Júlia Schabe, a talentosa chef do Ponto Gin, que acaba de ser inaugurado.
Júlia Schabe, a talentosa chef do Ponto Gin, que acaba de ser inaugurado.
Com formação em gastronomia pela Le Cordon Bleu, em Melbourne, na Austrália, a chef premiada pelo Golden Whiskeria Award já trabalhou em um dos cinco maiores restaurantes daquele país, o Cutler & Co. Ela chega integrando o time do bar com um menu que acompanhará as mudanças da cidade a cada estação.
O resultado desse trabalho das
duas frentes amalgamado é mesmo arrebatador. Gabriel Bueno assume o bar, ao
lado do seu parceiro Rafael Kyoshi, com o objetivo de proporcionar coquetéis
que utilizam ao máximo o frescor e insumos escolhidos, além da utilização de
diferentes técnicas que tragam a união da complexidade à leveza e suavidade. E
Júlia cria à vontade, utilizando ingredientes em diferentes texturas do que
seria o convencional, tirando o máximo sabor possível de cada.
Como em um dos snacks,
descrito como Siri (detalhando como
Siri | Coentro| Laranja) – R$ 57, 6 unidades. A interessante combinação desses
três ingredientes – a acidez da laranja aparece na boca no momento final e
agrada muito – é servida sobre uma base, que, a princípio, poderia ser de
massa, harumaki ou algo assim, crocante. Mas, não. É um naco de acelga infusionada
com dashi temperado com suco e licor de laranja (olha ela aí de novo). O detalhe
é que utilizada apenas a parte branca da acelga, que tem mais consistência.
Divino!
Siri, coentro e laranja sobre base de acelga infusionada no dashi.
Siri, coentro e laranja sobre base de acelga infusionada no dashi.
Ostras nativas ao natural, com vinagrete de caju e leite de coco.
Ostras nativas ao natural, com vinagrete de caju e leite de coco.
Outro snack que chama a
atenção e força repetição é das Ostras (Ostra
| Vinagrete de Caju | Leite de Coco) – R$ 71, 4 unidades. São ostras pequenas,
nativas – sempre as mais saborosas -, vindas do Paraíso das Ostras, no
sul da Ilha de Santa Catarina, Florianópolis. Ao fundir seus sabores com a
acidez do caju e a cremosidade do leite de coco, atinge-se o umami, prazer
puro.
Ainda tive a chance de provar
outros dois. Primeiro, o Cupim Sando
(Pão de Leite | Cupim | Picles | Molho de Gouda) - R$ 70, 4 unidades. É uma
variação do clássico Katsu Sando, tão
difundido entre os países asiáticos. Aqui, a chef utiliza, com propriedade, o
nosso tão brasileiro cupim, fechando em bom resultado. E ainda veio o Tempura de porco (Porco | Doce de
Pimenta | Mostarda) - R$ 73, 6 unidades. O tempura é feito com folhas de
mostarda e o porco é desfiado, espalhado por cima, com a pimenta doce e uma
rodelinha de pimenta dedo-de-moça.

Pratos consistentes

A exploração da abóbora em três texturas e outros tantos sabores - com stracciatella e farofa de semente de abóbora e sálvia.
A exploração da abóbora em três texturas e outros tantos sabores - com stracciatella e farofa de semente de abóbora e sálvia.
Mas o menu vai bem mais além
dos snacks. Apresenta pratos a serem compartilhados, mantendo o alto coeficiente
de satisfação e surpresa. O que mais me encantou foi o denominado Abóbora com stracciatella (Abóbora
Cabotiá | Stracciatella | Sálvia) – R$ 74. Stracciatella – acho que a maioria
sabe, mas não custa lembrar – é aquele creme delicadíssimo, feito de leite de
vaca ou búfala, que, depois de coalhado, é maturado no próprio soro por algumas
horas, antes de ser transformado em fitas. Para melhor exemplificar, é o recheio
da burrata.
Pois o prato tem a abóbora em quatro texturas, que se completam entre si: gomo, fita e purê. Elas são acompanhadas de uma folha de cavolo nero (também chamada de couve toscana) levemente tostada e uma farofa de semente de abóbora com farinha panko e sálvia.
Registro também para outros pratos que chegaram à mesa. Como Carne cruda (Carne Bovina Crua | Coalhada | Lavosh) - R$ 80. A carne crua, picada em ponta de faca, é bem temperada, tem cenoura, folhas de agrião, ganha companhia da coalhada e é servida com uma fatia do pão lavosh – que, feito por ela mesma, é um pão fino, geralmente ázimo, da Armênia e de outros países do Oriente Médio. Também gostei muito do Cordeiro (Lombo de Cordeiro | Batata-Doce | Molho de Beterraba) - R$ 125. O molho é, ao mesmo tempo, delicado e consistente e o prato tem folhas de couve kale e é decorado com rodelas de beterraba rajada.
Carne cruda, com pão lavosh e coalhada.
Carne cruda, com pão lavosh e coalhada.
Claro que também tem
sobremesas. Duas, para ser mais exato: Cheesecake
basco
(Torta de Queijo | Frutas Vermelhas) - R$ 25, e Mousse de chocolate (Chocolate | Creme Inglês de Camomila | Avelã)
- R$ 30.
Menu adorável, como só se
poderia esperar de uma chef tão talentosa quanto Júlia Schwabe.

Taças coloridas

Bem, o Ponto Gin é um bar – acho gastrobar uma palavra muito gasta e utilizada indevidamente – e, como bar, tem de brilhar nas bebidas. Certo? Certíssimo. E brilha muito na coquetelaria de Gabriel Bueno e seus asseclas. Todos em um trabalho muito harmonioso atrás do balcão, como se estivessem tocando uma verdadeira sinfonia. Bonito de ver.
House Martini, criação do bartender Gabriel Bueno.
House Martini, criação do bartender Gabriel Bueno.
Mais bonito ainda de provar. Gabriel – desde outros tempos e outros bares – tem, além do talento para criar e reproduzir coquetéis (ou drinques, como queira), um carinho muito grande pelo que faz e por quem atende. É gentileza pura. Isso certamente passa um sabor a mais ao cliente. É aquilo que vem fora das taças coloridas: alto astral.
Os drinques são todos autorais e cada um mais interessante que o outro. Há releituras dos clássicos, mas sempre com um toque de inspiração própria. Como o House Martini (R$ 55), um dos que provei. Tem como referência o Martini tradicional, clássico, mas leva, além do Gin Tanqueray Ten, maçã verde e, no lugar do Martini, Jerez fino. E azeitonas, é claro. Muito bom, já está entrando para o rol dos meus favoritos.
Mas quando disse ao cordial
bartender que meu coquetel favorito era o Negroni,
ele replicou na hora, propondo a livre interpretação que faz na casa, o Cardinali twist (R$ 45). Se o Negroni é
feito com porções iguais de gin e campari, a criação de Gabriel Bueno leva,
além desses dois elementos (o gin é infusionado com salsão), vinho Chardonnay,
maçã verde e azeitona. Tudo muito bem combinado, entrosado. Gostei.
Gabriel Bueno, o criativo bartender do Ponto Gin.
Gabriel Bueno, o criativo bartender do Ponto Gin.
Ao todo são 13 drinques
oferecidos, todos criados pelo pessoal da casa. E os clássicos? Perante tanta
opção e tantos desafios, será que alguém pediria aquele clássico de sempre? Mas,
se pedir, a turminha faz. Com a mesma classe de sempre.

Despojado e convidativo

O Ponto Gin está estabelecido
onde antes era o Cosmos, mas o ambiente está totalmente modificado. E muito
aconchegante, com tons escuros no mobiliário, tijolos à vista nas paredes e no
balcão do bar. Lembra em muito e puxa para o projeto do antigo e primeiro Ponto
Gin, que funcionava no Shopping Hauer (atualmente tem outro, só de drinques, na
Mercadoteca).
O novo Ponto Gin tem
capacidade para 62 pessoas sentadas às mesas ou, então, à frente do bar,
perante os bartenders.
A cozinha funciona no segundo
piso, separada por uma parede de vidro, que permite ao cliente observar todo o
trabalho da chef Júlia Schwabe e de sua brigada de trabalho. O que não deixa de
ser sempre fascinante.
Cardinali twist, coquetel inspirado no Negroni.
Cardinali twist, coquetel inspirado no Negroni.
(E vai ter uma novidade, para
uns dois ou três meses. No imóvel ao lado, onde até há pouco funcionou o
restaurante Bistrozinho, voltado para crianças, estão iniciando as obras para o
que virá a ser o Ponto Vin, especializado em vinhos em máquinas e torneiras.
Mas isso é um assunto para outra ocasião. Fica apenas o registro.)
O novo bar funciona de segunda
a quinta, das 19h à 00h, e sexta e sábado, das 19h às 02h.
Confira o menu e a carta de
drinques neste
link
Ponto Gin
Alameda Presidente Taunay, 543
– Bigorrilho
Instagram: @pontogin
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