Opinião

Campanha na rua?

18/08/2022 19:33
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Desde o dia 15 de agosto, candidatos nas eleições de outubro deste ano estão autorizados a pedir voto. É a data que marca o início da campanha eleitoral. Os partidos políticos poderão, então, “colocar a campanha na rua”. Mas qual será o papel das ruas nas eleições deste ano? Depois de uma eleição municipal realizada em meio à pandemia de Covid-19 e praticamente sem campanha de rua, em 2020, e de uma eleição geral, em 2018, decidida pelo engajamento nas redes sociais e nos grupos de mensagens instantâneas, que importância as campanhas darão para os grandes eventos públicos e o corpo a corpo com o eleitor?
O período de convenções partidárias já mostrou uma mudança significativa na estratégia eleitoral para este ano. Tradicionalmente, partidos e candidatos disputavam quem fazia a convenção mais concorrida, no maior espaço, com o maior número de militantes e simpatizantes, e com o discurso de tantos políticos de relevância quanto fosse possível angariar para o evento. Era a primeira demonstração de força da candidatura e marcava a largada da campanha eleitoral. Neste ano, apesar de alguns partidos ainda terem mantido este padrão, muitos já transformaram a convenção em apenas um ato burocrático, obrigatório pela legislação para formalizar as chapas. Houve partido que fez a convenção de maneira virtual e outros que reuniram, apenas, os caciques com direito a voto, em uma sala fechada, com pouco mais de uma dezena de pessoas.
Com tetos de arrecadação e de gasto para cada campanha e a proibição de doações eleitorais por empresas, o custo de se realizar um grande evento público pesou na decisão desses partidos, que prefeririam reservar suas cotas do fundo eleitoral para ações mais concretas de convencimento do eleitorado, em período em que a legislação já permita pedir votos.
Além de “mais baratas”, as campanhas eleitorais também estão mais curtas, são apenas 45 dias até a data da votação, 2 de outubro. Debates, entrevistas, gravação do programa eleitoral, compromissos oficiais, reuniões da equipe entre outros eventos limitam a agenda dos candidatos, diminuindo as oportunidades de eventos de rua. Showmícios já estão proibidos há algumas eleições, o que vem limitando, também a presença de público dos comícios dos candidatos, e o público que continua comparecendo aos eventos, tende a ser o do eleitorado já engajado na campanha, poucos votos são conquistados nestes eventos.
Junto a tudo isso, o resultado das duas últimas eleições no país e, também, centenas de exemplos pelo mundo, mostram como uma boa campanha de mídia digital pode ser decisiva para a eleição. Muito mais barata, mais rápida, direta e com a possibilidade de chegar a muito mais pessoas, a campanha digital, seja nas mídias tradicionais ou nas mais diferentes redes sociais, tende a ser a grande aposta dos candidatos neste ano.
Para o eleitor interessado no pleito, esta forma de se fazer campanha é uma grande vantagem. É possível conseguir informações sobre os candidatos em tempo real e, até, interagir com os mais engajados. Para a população que ainda não tem acesso aos recursos digitais, a informação sobre as eleições fica limitada e seu voto pode se tornar um prêmio ao candidato que ainda conseguir dedicar tempo e esforço para o corpo a corpo. Mas o grande problema de uma campanha concentrada na mídia, além do risco da propagação em massa de fakenews, é com o eleitor desinteressado pelo processo eleitoral.
Desligando a TV antes da novela, bloqueando perfis políticos nas redes sociais e saindo das dezenas de grupos de WhatsApp em que poderá ser colocado contra a vontade neste período, o cidadão poderá passar os próximos 45 dias em sua rotina normal, praticamente sem ser envolvido pelo clima de eleição.
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