Depois atingir picos de preço ontem, soja, milho e trigo, principais commodities agrícolas negociadas no mercado internacional, tiveram um dia de perdas na Bolsa de Chicago nesta quarta-feira. O trigo liderou a queda, devolvendo parte dos ganhos acumulados ao longo da semana, com investidores ajustando suas posições à espera de dois importantes relatórios que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulga nesta quinta-feira (30).
Previsões estendidas apontando para um clima quente e seco nas Planícies do Sul – região que concentra a maior parte das lavouras norte-americanas de trigo de inverno –, que haviam carregado as cotações do cereal para o maior patamar em duas semanas no pregão do dia anterior, recuaram hoje e, com mais chuvas nos radares meteorológicos, o mercado voltou a apontar para baixo.
A possibilidade de um mês de abril mais úmido na região e dados divulgados pelo governo norte-americano mostrando que o impacto das geadas nas plantações sulistas de trigo foi menor do que o esperado atenuaram os temores de quebra de safra. “A condição das lavouras de trigo realmente não é tão desastrosa, e isso deixou o mercado um pouco inquieto”, disse à Dow Jones Newswires Don Roose, presidente da US Commodities, de West Des Moines (Iowa), acrescentando que “temos de umidade à caminho e ainda temos enormes suprimentos de trigo não só nos EUA, mas em todo o mundo”.
Conforme levantamento da empresa norte-americana Zaner Ag Hedge, o relatório de estoques trimestrais que o USDA solta amanhã deve mostrar um salto de 19% nas reservas norte-americanas no cereal em 1º de março, para algo próximo a 37 milhões de toneladas, graças à demanda de exportação decepcionante.
A série de notícias negativas fez com que cereal encerrasse o dia com desvalorizações de dois dígitos nos principais vencimentos. O maio/16, que puxa a fila de contratos em Chicago, foi o que mais caiu: perdeu 12,75 pontos e fechou o pregão trocando de mãos a US$ 4,64 por bushel.
Nos pits vizinhos, soja e milho acompanharam o tom negativo e também terminaram os negócios em queda. Com desvalorização de 7 pontos no dia, o maio/16 da soja encerrou a quarta-feira valendo US$ 9,16 o bushel, depois de bater no maior preço em sete meses na sessão anterior. O primeiro contrato do milho teve leve queda de 2,5 pontos e finalizou os negócios valendo US$ 3,73 o bushel.
Investidores aproveitaram o dia para ajustar suas posições antes da divulgação relatório de intenção de plantio para a safra 2016/17. Analistas acreditam que, mesmo com os estoques domésticos inflados, agricultores norte-americanos devem ampliar a área destinada aos dois cultivos na próxima temporada.
Eles avaliam que o USDA deve mostrar, no documento de amanhã, um plantio de 33,75 milhões de hectares para a soja (+0,8% sobre 2015/16) e de 36,7 milhões de hectares para o milho (+3%). Os números compilados pela Zaner Ag Hedge, de Chicago, superam as projeções extraoficiais anunciadas um mês atrás pelo governo dos EUA. Durante o Agricultural Outlook Forum, o USDA estimou o plantio norte-americano em, respectivamente 33,39 milhões e 36,42 milhões de hectares.
Pressão ampliada
A expansão da área de cultivo nos EUA tende a ampliar o excedente global que mantém os preços internacionais dos grãos em rota de queda há três anos. Depois que cotações recordes em 2012 provocaram um boom na produção mundial, soja e milho já não remuneram os custos de produção no Meio-Oeste. Mas, em momento de mercado em retração, os agricultores norte-americanos resistem em fazer cortes de produção porque temem que isso agrave seus prejuízos no curto prazo, prolongando a crise.
Cortando gastos com redução do pacote tecnológico e confiando que o clima irá colaborar para bons rendimentos, eles esperam que a produção maior compense os preços menores para fazer a conta fechar. De acordo com o USDA, a renda agrícola norte-americana deve cair 3% este ano, para o menor nível em 14 anos, seguindo dois anos de forte retração (de 27% em 2014 e de 38% em 2015).
Mas não é apenas a sobreoferta que tem deprimido as cotações e esmagado a renda dos produtores norte-americanos. Na outra ponta, o enfraquecimento da demanda pelo produto norte-americano também pesa. O dólar forte tornou as exportações do país menos competitivas no mercado internacional quando comparado aos preços praticados por concorrentes como Brasil e Argentina, que contam com o suporte de uma moeda subvalorizada.
Uma conjuntura que deve ser refletida em um dos documentos que o USDA divulga amanhã: o relatório trimestral de estoques físicos. Analistas esperam que as reservas norte-americanas de soja sejam ampliadas ao mais alto patamar desde 2007 e que os estoques de milho em 1º de março atinjam o maior nível para o período em quase 30 anos. Nas contas da Zaner Ag Hedge, os EUA tinham, no início do mês, 42,5 milhões e 198,74 milhões de toneladas de grãos, respectivamente. Os números são superiores aos registrados uma no atrás (33,67 milhões e 196,86 milhões de toneladas) e, no caso, no milho, marcam o segundo maior volume da série histórica do USDA, iniciada nos anos 20.
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