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Um país menos doce

Entre produzir açúcar ou etanol, Governo Temer ‘disse’ à indústria o que fazer

O presidente do Brasil, Michel Temer ,ao lado do ministro da Agricultura, Blairo Maggi | EVARISTO SA/AFP
O presidente do Brasil, Michel Temer ,ao lado do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (Foto: EVARISTO SA/AFP)

Os principais produtores de açúcar do mundo estão em alta, com uma exceção: o líder mundial, Brasil. O país deve aumentar a produção de 39 milhões de toneladas para 40 milhões. Já o segundo maior produtor, a Índia, deve ampliar de 22 para 27 milhões de toneladas. A União Europeia, de 16,5 para 20 milhões. A estimativa é do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.

Há algumas justificativas para o ‘singelo aumento’ da produção brasileira. A primeira delas é o clima favorável do outro lado do mundo para a produção da cana-de-açúcar. Favorecido pelas chuvas na Ásia, o suprimento global de açúcar deve crescer mais de 13 milhões de toneladas na safra 2017/18, chegando a 185 milhões no total, conforme indica o USDA. Com o maior volume, os preços no mercado internacional caíram.

Outra justificativa vem dos automóveis. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a proporção de cana-de-açúcar destinada à fabricação de etanol totalizou 53,01% desde o início da safra 2017/2018 até 16 de dezembro. Na segunda quinzena de novembro, essa proporção alcançou 63,17%.

“Tivemos momentos de safra bem açucareira de abril a setembro, quando a prioridade foi produzir para atender contratos do ano anterior. Mas em setembro houve reversão para a produção de etanol”, explicou à Gazeta do Povo o diretor Técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.

Etanol mais competitivo

A mudança de cenário, além do preço do açúcar, se deve ao aumento da competitividade do etanol nas bombas dos postos de combustíveis.

“O RenovaBio deu mais previsibilidade para a expansão da oferta de etanol. E quanto mais expandimos, menos dependente ficamos do açúcar, que no futuro deve ficar numa proporção menor do que é hoje [comparada à produção etanol]”, destaca Rodrigues, referindo-se à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), recém aprovada pelo presidente Michel Temer.

Esse projeto de lei (PL 7863/2017) prevê metas de redução de emissão de gases pelos combustíveis, o que inclui a adição de etanol anidro à gasolina em, no mínimo, 30% até 2022 e em até 40%¨até 2020. Atualmente, está em 27%.

Outra ‘mão’ do governo foi na questão da gasolina, quando assinou o decreto que aumenta impostos sobre combustíveis. “A partir do momento em que a Petrobras começou a praticar preços internacionais [para a gasolina] e o governo aumentou a carga tributária, aumentou a competitividade do etanol”, diz Rodrigues. O aumento do PIS/Cofins para os produtores de etanol foi leve: em julho, passou de R$ 0,1200 por litro para R$ 0,1309. Para a gasolina, foi de R$ 0,3816 por litro para R$ 0,7925.

Batalha comercial pelo açúcar

O foco no etanol não quer dizer que o Brasil deixou o açúcar de lado (pelo menos por enquanto). O diretor da Unica denuncia a criação de subsídios de países asiáticos produtores como Tailândia, China, Índia e Paquistão, para exportarem a produção excedente a preços mais baixos.

Rodrigues destaca que essa não é uma condição natural do mercado, que cria protecionismo para esses países. “O setor preparou toda uma documentação para o Governo Brasileiro. Pode haver um acordo privado entre países senão [a discussão] vai acabar na OMC (Organização Mundial do Comércio)”, afirma.

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