A lista fruto da delação premiada da Odebrecht – que aponta o pagamento de caixa 2 e de propina a políticos, partidos e outros segmentos da sociedade “desorganizada” – não poupou nem mesmo o agronegócio. Ou melhor, os representantes do agronegócio, a começar pelo atual ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi (PP-MT). Ele também é senador licenciado, foi governador do Mato Grosso e produtor rural e é um dos maiores empresários do agronegócio do Brasil e do mundo. Blairo Maggi teria recebido R$ 12 milhões na campanha de reeleição ao governo do Mato Grosso em 2006. Kátia Abreu (PMDB-TO), a titular que lhe antecedeu na pasta, também não escapou. A ex-ministra é acusada de receber R$ 500 mil em dinheiro ilícito na campanha de 2014.
É o agro mais uma vez sofrendo o efeito colateral de problemas de natureza política, que insistem em perseguir o setor. Demandas de gabinete, desvios de colarinho branco que colocam o Brasil e o agronegócio sob suspeita no ambiente internacional. Nos últimos meses, aliás, foram inúmeros os episódios que jogaram luz sobre questões negativas envolvendo o país. Primeiro, a Operação Carne Fraca, que provocou um estrago na imagem do Brasil como fornecedor mundial de proteína animal. Em seguida veio o contingenciamento pelo governo federal dos recursos do Ministério da Agricultura. E, agora, em mais uma exposição, ministros, ex-ministros, senadores e deputados e ex-parlamentares da bancada ruralista envolvidos nos casos de caixa 2.
Algumas pessoas intimamente ligadas ao setor tentam colocar panos quentes. Como que para aliviar a responsabilidade deste ou daquele sujeito, consideram o fato de mais de 170 políticos, de vários partidos e que representam vários segmentos estarem na lista do ministro Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas isso só piora as coisas. Não dá para generalizar ou institucionalizar a situação. Que cada um olhe para o seu quadrado, que cada um fiscalize e cobre dos seus, daqueles que estão mais próximos de você, do segmento que você atua e da parte da sociedade organizada de que você participa.
O problema realmente é crônico, permeia toda a estrutura política do país. E talvez tenha que ser resolvido por partes, com cada um fazendo o seu trabalho, cobrando aquilo que lhe é direito como cidadão e eleitor, daquele que tem o dever da retidão e da satisfação para com os seus representados. Assim como faço aqui, nesta coluna, o agronegócio precisa sim se manifestar, dar sua opinião e dizer para o Brasil e para o mundo que somos mais fortes que esse lado usurpador da política brasileira.
Para não esquecer
Entre outras coisas, a lista de Fachin desviou a atenção sobre o envolvimento do ministro da Justiça Osmar Serraglio na Operação Carne Fraca. Era tudo que o governo federal queria. Até porque, perder mais um ministro, recém-empossado, seria mais um desgaste político na já enfraquecida gestão Michel Temer. Serraglio foi flagrado em interceptações telefônicas que sugerem sua proximidade e envolvimento com o líder do grupo acusado de receber propina para aliviar fiscalizações ou facilitar processos dentro do Mapa em favor de frigoríficos.
Mas nem tudo ficou esquecido. Nesta semana, a Polícia Federal deve apresentar o relatório final da operação com a lista de quem será indiciado. Acusada de ter sido negligente na maneira como deram publicidade ao caso, a expectativa é de que os investigadores tragam mais detalhes da operação.
Plano Safra 2017/18
Cresce a tensão em relação ao Plano Safra 2017/18. No ano passado as regras foram divulgadas no dia 4 de maio, pela então ministra Kátia Abreu. Agora, a duas semanas de maio, pouco se sabe sobre o plano para a nova temporada. De qualquer forma, a considerar o ambiente político-econômico do país, melhor não criar muita expectativa, pelo menos não positiva em relação ao apoio do governo ao próximo ciclo. Analistas e consultores do agronegócio acreditam que, por condições óbvias da política e da economia não haverá redução na taxa de juros e o volume de recursos deve ser o mesmo do ano passado, se não for menor.
Por outro lado, embora pouco provável, o governo pode surpreender ao reajustar para cima o montante de recursos e para baixo a taxa de juros. Seria uma jogada política para posicionar o Executivo e o Mapa e fortalecer a economia a partir da vocação natural do Brasil, que está no campo. De quebra daria uma força para Blairo Maggi na condução de um ministério um tanto enfraquecido e fragilizado pela Carne Fraca, contingenciamento e caixa 2.
No Plano Safra 2016/17 foram destinados R$ 202 bilhões à agricultura empresarial e R$ 30 bilhões à agricultura familiar.
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