“Ao promover um relacionamento entre a criança, a comida e a produção de alimentos ensinamos aos mais jovens como estarem engajados com a própria saúde”, afirma Jaqueline Maisonpierre, diretora da New Haven Farms| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Todos os dias, meu filho de quatro anos senta à mesa e cuidadosamente inspeciona a comida: “O que é isso? Quem fez isso?” Ele não está sendo chato nem criticando, ele apenas quer saber, sinceramente, a origem do alimento.

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Essa carne veio de um frango ou de um suíno? Como o arroz chegou ao prato? Quem plantou as cenouras que estamos comendo? Como o leite foi levado da fazenda para a loja até chegar ao copo?

Meu marido e eu estamos felizes por levar ao nosso filho uma educação da “agricultura para a mesa”, explicando o que estamos comendo, de onde tudo aquilo veio e como chegou até os nossos pratos.

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“Ao promover um relacionamento entre a criança, a comida e a produção de alimentos ensinamos aos mais jovens como estarem engajados com a própria saúde e desenvolver hábitos de vida que vão servir para o futuro”, afirma Jaqueline Maisonpierre, diretora da New Haven Farms, uma organização não governamental com sede em Connecticut que transforma espaços urbanos em fazendas orgânicas.

“Ao aprender sobre nutrição e hábitos de desenvolvimento saudável ainda jovem, a pessoa pode ter impactos de longo prazo na saúde e bem-estar, levando a uma menor incidência de doenças crônicas relacionadas à dieta”, afirma a especialista.

Hortas escolares são uma boa maneira de ensinar às crianças o valor dos alimentos  

Ensinar crianças sobre a origem dos alimentos é algo valioso, mas atualmente a promoção desse tipo de educação é um desafio para muitos pais. Nem todas as famílias têm um quintal. Outras não têm sequer fácil acesso a estabelecimentos que vendam alimentos frescos. E outras não podem arcar com os custos de alta qualidade, alimentos produzidos localmente ou em participação com programas de agricultura familiar e comunitária.

Em um mundo ideal, hábitos da “agricultura para a mesa” deveriam ser possíveis para todas as famílias. Na verdade, isso parece uma meta impossível. Contudo, ensinar crianças sobre a origem dos alimentos não é impossível, apenas exige uma pequena dose de criatividade e cooperação comunitária. E aqui vão algumas dicas para começar:

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Leve as crianças para a cozinha

Quando a comida já está pronta em um pacote ou é passada através de um balcão, há um descolamento inevitável. Ao comprar os ingredientes para produzir refeições em casa - pelo menos algumas vezes - acontece um esforço extra. Afinal, o ato de cozinhar é um convite às crianças não apenas tocarem, provarem e explorarem os alimentos, mas de fazerem perguntas:

“Por que isso tem sementes? Porque não podemos comer espinhos? Por que isso foi embalado desta maneira? Quando sabemos que está pronto para comer?”

Diretora agrícola da escola de ensino médio Common Ground - especializada em agricultura urbana e meio ambiente -, Deborah Grieg recomenda um início simples. “Você pode envolver as crianças em itens básicos, como ensinar a jantar ou tentar realizar projetos como fazer manteiga, pizza, geleias ou qualquer outra coisa que elas tenham visto apenas em mercados e restaurantes”, afirma. “Cozinhas com crianças incentiva debates e ajuda a expandir o paladar delas”.

Comece com uma semente

A Common Ground está localizada na cidade de New Haven, no estado do Connecticut, nos Estados Unidos, e fica junto a um parque estadual no qual os alunos podem aprender sobre crescimento de vegetais e agricultura urbana. Há também um centro de educação ambiental para crianças e adultos. Tudo desenvolvido para incentivar a conexão da comunidade quanto à compreensão do mundo natural.

Uma grande variedade de frutas, legumes e ervas são cultivados dentro do campus do colégio. Grieg afirma que o simples ato de cultivar sementes oferece uma oportunidade de aprendizado às crianças: “Mesmo que essa não seja uma maneira de cultivar grandes árvores, é uma maneira de observar algo em crescimento”.

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Germinar sementes é uma atividade fácil e infalível: basta colocar um feijão em um algodão dentro de um copo de vidro ou plástico. Em poucos dias, o feijão vai começar a brotar e as crianças poderão examinar o crescimento passo a passo.

O mapa dos alimentos

“É importante que as crianças saibam de onde veio seu alimento para que eles tenham mais admiração pela comida e pelos agricultores”, afirma Alexa Fiszer, especialista em educação ambiental na Commom Ground. “Esse respeito geralmente ajuda a desenvolver o aprendizado sobre como funciona o ciclo de produção agrícola e como ele evoluiu no curso da história”.

Muitos de nós não consideramos os recursos, como eletricidade e combustível envolvidos no transporte dos alimentos aos supermercados. Grieg incentiva as famílias a criarem um “mapa dos alimentos” para facilitar o aprendizado sobre as relações entre produção agrícola, nutrição e frescor.

Criança brinca com trator antigo na fazenda 

“Após as compras, podemos verificar a origem daqueles alimentos na embalagem (de onde vieram ou onde foram embalados) e traçar mapas dessas rotas”, afirma a especialista. “Você pode começar falando sobre como as longas distâncias percorridas afetam o valor nutricional e a qualidade dos alimentos, sobre quem está produzindo aquela comida, e até sobre como pode ser a vida dos agricultores, e ainda falar sobre os impactos ambientais de alguns tipos de produção agrícola”.

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Suje as mãos

Estudos mostram que crianças são mais dispostas a experimentar novos tipos de alimentos quando auxiliam no cultivo ou no preparo. Famílias que têm acesso a algum quintal, mesmo que pequeno, podem plantar tomates, cenouras ou ervas.

Uma criança que odeia feijão pode ficar tentada a experimentá-lo na refeição se ela tiver um sentimento de orgulho por fazer parte da realização ou por ter ajudado no plantio daquilo que está sendo servido.

Comunique-se com a escola da criança

Cada vez mais escolas estão percebendo o valor de conectar estudantes com o processo de produção de alimentos, seja através de hortas escolares ou mesmo nos jardins das escolas. Se a escola de seu filho ainda não pensou nisso, pode ser a hora de argumentar por mudanças, ou pelo menos incentivar um passeio por uma fazenda local.

Também há uma grande quantidade de material educacional disponível na internet para professores que querem promover o aprendizado sobre o assunto. O Netflix, por exemplo, tem uma série de documentários sobre o tema, como What the Health, Food Choices e Cooked. Essas são boas alternativas para incentivar o debate e até mesmo qualificar a merenda escolar.

Explore recursos locais

Observar onde está a produção local é uma boa alternativa. Muitas pessoas associam a ideia de “agricultura para a mesa” com comunidades rurais, mas também existem produtores no próprio meio urbano. Comunidades produtivas estão em todos os lugares, inclusive em regiões metropolitanas, e sempre precisam de voluntários.

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Mercados do tipo “direto do produtor” (no Paraná existe o Ceasa, por exemplo) podem ser uma oportunidade para olhar de perto alimentos. Visitas a produtores locais de frutas e vegetais também são outro exemplo.

Por fim, a agricultura urbana como na escola Common Ground e a incentivada pela New Haven Farms podem parecer raras, mas atualmente não são tão difíceis de encontrar. Há várias delas, e muitas são acessíveis e abertas à visitação. As famílias inclusive são convidadas a explorar e a aprender sobre a produção no local.

“Penso que as crianças estão dispostas a explorar uma variedade de alimentos quando elas veem a origem e acompanham o crescimento, e são estimuladas a escolher a comida”, confirma Fiszer. “Uma abordagem prática mostra às crianças o trabalho com a ‘mão na massa’ dedicado à alimentação, consequentemente gerando mais interesse pela comida”.

* Sarah Bradley é escritora freelancer e escreve sobre ensino criativo.

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