Em termos reais, descontada a inflação, a renda líquida de uma propriedade agrícola nos Estados Unidos será 50% menor em 2018 na comparação com 2013. A afirmação é de Robert Johansson, economista-chefe do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, na abertura do Agricultural Outlook Forum 2018, nesta quinta-feira (22), nos Estados Unidos. Em 2013 a receita líquida da atividade agrícola atingiu recorde de US$ 120 bilhões. Para 2018, Johansson citou um estudo que aponta para um desempenho de US$ 59,5 bilhões.
Em um discurso mais político-econômico e institucional, pouco antes da apresentação do economista, Sunny Perdue, secretário de Agricultura dos Estados Unidos, cargo similar ao de Ministro da Agricultura no Brasil, falou sobre reforma tributária e regulatória, investimento em infraestrutura e políticas agrícolas mais eficientes e efetivas para reverter o quadro no campo. No curto prazo, seu objetivo enquanto titular do USDA é aumentar as exportações, que segundo ele geram 20% da renda agrícola.
Em linha, Johansson coloca três questões para mudar essa perspectiva: aumento da demanda mundial, crise de oferta provocada pelo clima ou então a nova Farm Bill, a lei agrícola dos Estados Unidos que será reformulada em 2019. “Desde 1960, a produção de soja aumentou mais de 1.000% enquanto os preços reais da soja caíram 47%. E a produção de cereais cresceu em mais de 400% e os preços caíram em mais de 60%”, exemplificou para justificar os tempos difíceis ao produtor norte-americano.
Outro resultado prático, explica o economista, é a estagnação da agricultura nos Estados Unidos, que vai além da disponibilidade de área para expansão do cultivo. Os dados mostram que o cenário não está relacionado apenas a questões de conjuntura, com as safras cheias pelo mundo que aumentam os estoques e deprimem as cotações. O problema é sim de conjuntura, mas principalmente estrutural. A renda segue em baixa, o endividamento em alta e a agricultura retraída nos Estados Unidos. Esse é o ambiente que pauta as discussões do fórum.
Projeção safra 2018/19
A área total das oito principais culturas (milho, soja, trigo, algodão, sorgo, cevada, aveia e arroz) no ciclo atual deve somar 255,3 milhões de acres. No ano passado foram 252,1 milhões de acres. Ou 103,3 milhões e 102,02 milhões de hectares, respectivamente. Apesar da variação de 1,3% entre 2017 e 2018, na comparação com 2014 a área global dos principais cultivos é 1%, recorte que aponta retração na extensão cultivada no país.
A se confirmar a previsão, soja e milho devem responder por 70% da área a ser cultivada. A oleaginosa e o cereal devem ocupar áreas idênticas em 2018/19. No ciclo que começa a ser cultivado entre abril e maio, serão 90 milhões de acres ou 36,42 milhões de hectares para cada cultura. A área do milho segue em linha e estável com a de cinco anos atrás. Já a de soja cresceu 2,4 milhões de hectares, em detrimento principalmente da área de trigo, que encolheu 4 milhões de hectares.
O desafio será manter as produtividades recordes registradas nas últimas duas temporadas. Apesar da área praticamente idêntica tanto para soja como para milho em relação ao ano passado, analistas de clima e mercado apostam em uma redução na safra total das duas culturas. Em 2017 foram 119,5 milhões de toneladas de soja, com um rendimento de 3,3 toneladas/hectare e 371 milhões de toneladas de milho, com 11,1 milhões de toneladas/hectares.
Organizado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em sua 94ª edição o evento apresenta um panorama do agronegócio nos Estados Unidos e sua correlação com o mercado internacional, a considerar a posição do país como maior produtor mundial. As discussões ocorrem em Arlington, na Virgínia, dias 22 e 23 de fevereiro.