Comerciantes e agricultores de diversas cidades brasileiras, especialmente das regiões Nordeste e Sudeste, acusam uma empresa de comercialização de grãos de Mauá da Serra, do Norte do Paraná, de dar golpe pela internet com produtos agropecuários como soja, milho, farelo e sal mineral. Ao menos dez pessoas teriam sido lesadas entre junho e julho deste ano pela Fort Grãos Associados, que, segundo as vítimas, agia sempre da mesma forma. O cliente ligava para a empresa, atraído por preços bem atrativos, fazia a encomenda do produto – geralmente milho ou soja –, depositava o dinheiro em uma conta bancária e, depois de esperar o prazo dado para a entrega, a mercadoria nunca aparecia.
Foi o que aconteceu com o agricultor Jean Marcio Gomes da Costa, que mora em Sumé, no interior da Paraíba. Ele encomendou mil sacas de milho, que com o valor do frete incluído chegava a R$ 30 a saca, um preço bastante competitivo. Costa depositou antecipadamente R$ 30.400,00 no dia 30 de junho e após uma semana de prazo para a entrega, a encomenda não chegou.
“Já viajei ao Paraná e vi que a saca de milho estava em baixa na época, e achei que os caras vendendo a R$ 26,90 a saca era um preço bem realista. Quando me mandaram os valores, tinham até um sistema que é típico desse tipo de venda, coisa de empresa grande, com todos os detalhes. Caí no golpe perfeito”, conta.
A perfeição dos detalhes é algo que comum nos relatos das vítimas. Segundo elas, a empresa passava até a numeração do pedido, a placa do caminhão que entregaria a mercadoria e o nome do motorista. O site da companhia, que ainda está no ar, detalha os tipos de produtos à venda, e indica os telefones e endereço de contato. Relata ainda que a Fort Grãos está há 18 anos no mercado, trabalhando “com honestidade e transparência” para oferecer o melhor aos seus clientes.
Nem pesquisar previamente o CNPJ da empresa adiantou para alertar os comerciantes sobre a possibilidade de um golpe, pois nada desabonador constava no cadastro de pessoa jurídica, segundo relata Tiago Vitalino da Silva, de Bacabal, no Maranhão. Ele comprou 500 sacas de milho para revender localmente, pagando R$ 13.977,00. O preço da Fort Grãos era de R$ 18 a saca (com frete incluso), ante R$ 26 no comércio local. Parecia um bom negócio.
Silva depositou em 9 de julho o dinheiro e a empresa se comprometeu a entregar o produto 10 dias depois. Até agora, nada. De acordo com Silva, por conta própria ele e outras vítimas descobriram que o responsável pela empresa provavelmente usou uma identidade falsa, de um laranja, para abrir a conta. Além disso, o dinheiro que pingava nessa conta estaria sendo transferido para uma conta de bitcoins, espécie de moeda virtual.
O comerciante, assim como outros que caíram no golpe, abriu boletim de ocorrência na delegacia local, porém, a Polícia Civil do Maranhão informou que o caso foi encaminhado, por correio, ao 1º Distrito Policial de Londrina. A 1º DP de Londrina, no entanto, afirmou que o BO – que ainda não havia chegado na ocasião em que a reportagem entrou em contato com a delegacia – seria transferido para a Delegacia de Marilândia do Sul, que é sede da comarca que abrange Mauá da Serra.
Delegacia de Marilândia
O Artigo 70 do Código de Processo Penal diz que “a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”. Ou seja, teoricamente ficaria a cargo da Delegacia de Marilândia investigar o estelionato. A reportagem tentou entrar em contato com o delegado responsável pela comarca, Felipe Ribeiro Rodrigues, mas não conseguiu localizá-lo.
Enquanto isso, a comerciante Luciana Junca e o filho, Romulo Junca Vieira, de Jaguaré, no Espírito Santo, não sabem como vão fazer para se recuperar da rasteira que levaram. Eles empenharam R$ 7.753,00 em 250 sacas de milho da Fort Grãos. Depositaram o valor na conta de empresa no dia 21 de junho. Como o caminhão com a mercadoria nunca chegava, foram checar na internet e descobriram outras vítimas do mesmo golpe.
“A gente pensa que só vai acontecer com os outros [cair num golpe]. É um dinheiro que a gente tirou de onde não podia, vendemos um carro para poder investir”, lamenta Luciana. Ela e outras vítimas montaram um grupo no WhatsApp para trocar informações. A comerciante diz que também registrou boletim de ocorrência. O caso também deve ser remetido para investigações no Paraná.
Para Carlos Eduardo Vieira dos Santos, em vez das 600 sacas de milho que deveria ter recebido, ao custo de R$ 10 mil, só restaram dívidas que acumularam após o rombo financeiro no seu comércio de rações, que fica em Nossa Senhora do Socorro, região metropolitana de Aracaju, Sergipe.
“Eu me senti muito lesado, ficou um buraco de dívidas que estou pagando até hoje. Não sei mais se vou continuar no comércio”, confessa. Ele conta que, por causa do golpe, ficou sem mercadoria na loja e as vendas despencaram.
O comerciante conta que, após um período sem receber a mercadoria e ficar pressionando a empresa, os responsáveis sumiram, não atenderam mais os telefones e nem retornaram as mensagens de WhatsApp, além de terem bloqueado os comentários na página da empresa no Facebook.
A reportagem da Gazeta do Povo tentou entrar em contato com a Fort Grãos Associados, mas, como as próprias vítimas relataram, não obteve retorno. Os telefonemas caem em caixa postal e os e-mails não são respondidos. O endereço da empresa, que ficaria às margens da Rodovia PR-340, em uma área rural do município, tampouco possui numeração específica, dificultando a localização precisa.
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