Com a divulgação do novo Boletim Focus, do Banco Central, na última segunda-feira (10), fica a dúvida: quem irá puxar o crescimento do PIB, previsto em 0,4% pelas instituições financeiras participantes do relatório semanal do BC?
Com previsão de safra em 217 milhões de toneladas na temporada 2016/17 contra 186 milhões no período anterior, conforme o índice Indicador Brasil, da Expedição Safra, tudo indica que vai sobrar para o campo salvar a lavoura.
A estimativa do crescimento PIB do agronegócio é de 2%, conforme a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O setor representa quase 23% do total produto interno nacional.
Por outro lado, a produção industrial apresenta recuo de 4,8% nos últimos 12 meses, conforme o último relatório pelo IBGE, atualizado ontem (11) e que leva em conta dados de fevereiro. As vendas do comércio varejista também não animam: queda de 7%, com a 22ª taxa negativa seguida, pela última análise do IBGE.
Salvador da pátria
Vários fatores estão sendo determinantes para que o setor agro seja o “queridinho” da economia no momento. Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora, lembra que o segmento responde por 33% da produção nacional – incluindo a produção, cultivo, frigoríficos e outros elementos do agronegócios.
“Em termos de exportações, o setor responde por mais de 40% do total nacional. Como é muito dinâmico e exportador, quando há uma crise interna, conseguimos conquistar espaço lá fora. Além disso, o volume de áreas de plantio cresceu, a tecnologia melhorou e os preços dos anos anteriores mantinham uma boa transferência de renda para o produtor. E o mais importante: o clima contribuiu de forma definitiva”, afirma o consultor da empresa, focada na comercialização de grãos.
A opinião é compartilhada por especialistas de segmentos específicos. “Foi o clima mais favorável dos últimos anos. Todas as condições climáticas ocorreram 100%”, diz o analista-editor da consultoria Trigo & Farinhas Luiz Carlos Pacheco.
As exportações de carne também mostram números sólidos. Mesmo com a polêmica da operação Carne Fraca, houve alta de 9% nas vendas no último mês, comparado ao mesmo período do ano passado.
O total de exportações de carne foi de US$ 1,11 bilhão contra US$ 1,02 bilhão em março de 2016. “A recuperação e o retorno à normalidade estão acontecendo mais rápido do que qualquer um poderia prever”, diz. Para Motter, pesa o preço e o histórico de qualidade da produção nacional.
Mais exportações, menor transferência de renda
Se por um lado as exportações brasileiras estão em alta graças ao agronegócio, os produtores estão recebendo menos pelos produtos. “Sinceramente não sei se a produção maior vai compensar o nível de preço”, avalia Camilo Motter, da Granoeste.
No momento da conversão das vendas feitas em dólar para o exterior, há menor pagamento para o produtor, devido à valorização do real. “Com esse problema de transferência de renda, em muitos casos o produtor pode entrar no vermelho porque não terá mercado para exportar [o excedente]. Mesmo que o preço internacional não esteja ruim, continuamos limitados nas vendas por conta do câmbio”, afirma Motter.
Outro risco é a concentração da produção em soja e milho. “A produção de soja está garantida, devido até a época de colheita, mas o milho ainda tem um longo caminho pela frente. Devemos ficar atentos à safra de inverno, muito exposta a variáveis climáticas”, alerta o especialista. Em abril passado houve estiagem, causando quebra do milho safrinha, refletindo em aumentos na carne e leite, já que a ração do gado tem como base esse insumo.