Aos poucos, o Litoral do Paraná vem deixando de ser apenas um grande produtor de bananas para se tornar referência em palmitos. Se há dez anos eram 850 produtores no estado, hoje esse número já passa dos 1.200, a maioria no Litoral.
A receita da cadeia produtiva na região chega a R$ 113 milhões por ano, segundo dados do Emater. De 2006 a 2016, a área de cultivo da pupunha teve aumento de área de quase 1000% no litoral, contra 156% no estado.
A explicação pelo interesse é simples: um palmito adocicado com disponibilidade de colheita após 18 meses, contra mais de três anos da palmeira real e oito do tipo juçara, explica Cirino Corrêa, engenheiro agrônomo do Emater.
Pupunha: a salvadora da Juçara
A pupunha, aliás, foi a “heroína” da juçara e da economia da região. “A palmeira da pupunha é típica da Amazônia brasileira e peruana e se adaptou muito bem à região do Litoral. Antes de iniciarmos o trabalho, em 1994, muitos agricultores extraiam a palmeira juçara, ameaçada de extinção”, conta o agrônomo durante seminário em Morretes, na última quinta-feira (8) para incentivar o cultivo sustentável na região.
Sebastião Bellettini, também engenheiro do Emater, complementa: “O clima aqui é propício para plantio. A região é quase isenta de geadas e tem chuva o ano todo, o que favorece a produção. Outras regiões produtoras do estado, como o Noroeste e Vale da Ribeira, precisam de irrigação”.
Com a introdução do cultivo, surgiu uma nova oportunidade de renda para agricultores da Serra do Mar e Litoral. “Apenas 20% da mata pode ser explorada, então sobram poucas alternativas para o agricultor. Além de ser um clima quente e úmido, o que favorece doenças em outros cultivos”, emenda Cirino. Os plantios se resumiam à banana, mandioca e pequenos cultivos, como gengibre.
Nos trilhos da pupunha
Pesquisador da Embrapa, Álvaro Figueiredo revela um pouco da trajetória das palmeiras. “Desde os anos 2000 percebemos que, com o aumento de produtores, a pupunha passou à atividade primária de várias famílias. Antes, era complementar,” avalia. É o caso de Gilberto da Silva. “Meu pai era agricultor de verduras, e segui o mesmo caminho com plantio de gengibre até virar ferroviário em Paranaguá”, conta.
Por sete anos, ele trabalhou como maquinista até voltar à “roça”, dessa vez aproveitando o boom do palmito pupunha. Ele começou o investimento há quatro anos com os dois irmãos. “Cada muda custou R$ 1,50”, diz. Hoje, eles já têm 60 mil plantas em Morretes.
Por quilo vendido, o agricultor conta que recebe R$ 4. “Agora queremos expandir para uma área em Guaraqueçaba, que é a principal cidade produtora da região”, diz. O objetivo é chegar a 100 mil plantas.
Além do Paraná, Gilberto e outros agricultores fornecem palmito para Santa Catarina e São Paulo.
Guaraqueçaba, aliás, é a terra dos pioneiros no cultivo das palmeiras “importadas” da Amazônia. Junto com o atual sócio, Joceni Roecker conta ter sido o primeiro a investir na cidade, ainda na década de 90. Ele largou o comércio de turismo e uma pequena produção de bananas e expandiu sua produção inicial de 500 mudas de palmeiras. Hoje, tem um “império”: 200 mil plantas em 40 hectares.
O novo passo de Roecker foi abrir uma indústria de palmito em conserva há pouco mais de um ano. “Fico contente em saber que o meu município, que vivia do extrativismo, não precisa mais disso”, conta. Atualmente, são 22 agroindústrias: 15 vendem o palmito em conserva e sete fornecem in natura.
No que depender do Emater e da Embrapa, o número tende a crescer. As entidades incentivam a cultura das palmeiras na região, fornecendo consultoria e treinamentos a pessoas como Franceli Pogrussi, que iniciou o trabalho há quatro anos. O agricultor, contudo, tem uma dica: diversificar. “Vou parar os palmitos em 9 mil pés. Quando o preço não está bom, cuido mais da banana. Produzo de tudo um pouco”, revela, fortalecendo a máxima de não colocar todos os ovos na mesma cesta.