Há quatro anos, quando deixou o cargo de auxiliar de serviços gerais na prefeitura de Tijucas do Sul (RMC), Marli Carneiro de Paula, de 50 anos, não imaginava que um dia seria produtora de cogumelo Paris, também conhecido como champignon, o tipo mais consumido no país.
O primeiro contato com a cultura se deu através de vizinhos e da própria prefeitura da cidade, que oferecia o composto (formulação de insumos, que no caso do Paris, é feito de palha de trigo, esterco liquido e sólido, ureia e gesso agrícola, em que o fungo se desenvolve). “Visitei algumas pessoas, vi as estufas e me interessei. Queria passar mais tempo com meus filhos e vi no champignon essa oportunidade. Procurei cursos e comecei”, lembra a produtora.
Em 40m2 de estufa, montada ao lado da casa dela, Marli produz uma tonelada de champignon todos os anos. “Para mim virou uma terapia, além de ajudar a complementar a renda”, afirma. Toda a produção vai para a Cooperativa Agroindustrial de Produtores de Cogumelos e Demais Produtos de Tijucas do Sul e Região (Coopertijucas), onde o quilo é comprado por R$ 12. Na Coopertijucas, sete mulheres são responsáveis por selecionar, classificar, fatiar, lavar e embalar 8 toneladas de champignon por mês. Quando sobra champignon, Marli usa na cozinha. “Amo cogumelo refogado com tempero. Meu filho come até com pão. Receitas não faltam”, brinca.
8 toneladas
de cogumelo Paris são vendidos por mês pela Cooperativa Agroindustrial de Produtores de Cogumelos e Demais Produtos de Tijucas do Sul e Região (Coopertijucas). Atualmente, 70 famílias estão associadas. Os principais mercados consumidores são Paraná e Santa Catarina.
Adesão
A produção de cogumelos Paris na região começou timidamente no fim da década de 1990. Segundo o extensionista do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) Nivaldo Gomes, tudo começou quando um produtor de São Paulo gostou do clima úmido, favorável para o plantio, e iniciou a cultura. “Aos poucos, o cogumelo foi ganhando espaço”, conta.
Ao contrário do fumo e outras culturas da região que têm um ciclo anual, o champignon pode render até cinco safras por ano, uma a cada 60 dias. “Por ser uma atividade menos pesada que o fumo, as mulheres participam mais. O cogumelo virou uma alternativa lucrativa. Muitos jovens deixaram de ir para cidade para buscar emprego quando descobriram um jeito de ganhar dinheiro quase mensalmente”, afirma o extensionista. Os custos de produção também são mais baixos, já que o cultivo necessita menos mão de obra.
Para montar uma estufa entre 40 a 60 metros quadrados, atualmente, é necessário gastar em torno de R$ 20 mil. Mas na região muitos produtores transformaram os antigos armazéns de secagem das folhas de fumo em estufas climatizadas. Antigas granjas de criação de aves, que foram desativadas, também foram adaptadas para o cultivo.
O fungo precisa de temperaturas entre 17ºC e 26°C para se reproduzir e umidade relativa do ar entre 80% e 90%. Os produtores recebem o composto em sacos. Cada saco produz cerca de 2 quilos de cogumelo. Em uma estufa grande, é possível guardar até 250 unidades.
Um produto de sucesso
Criada em 2012, com o apoio do Emater e da prefeitura de Tijucas do Sul, a Coopertijucas organizou a cadeia produtiva da região.
Segundo o presidente, Eliobas de Jesus Leandro, antes da entidade, a comercialização dos cogumelos ficava na mão de atravessadores. “Muita gente chegou a falir. Existiam muitos intermediários que prometiam um preço e não pagavam”, conta.
Para mudar o cenário e ganhar competitividade surgiu ideia de criar a cooperativa. Com apenas 20 famílias e 1 tonelada mensal de produção, os negócios foram evoluindo aos poucos. “No começo, eu vendia pessoalmente para as pizzarias de Curitiba, que eram os principais clientes”, lembra o presidente. “Atualmente, são 70 famílias cooperadas. Produzimos 8 mil quilos de cogumelos por mês. Isso foi resultado de muito trabalho e profissionalização”, afirma.
Na Coopertijucas são produzidos cogumelos inteiros ou fatiados em baldes de 2 quilos em conserva e de 1 quilo in natura, para vender no atacado; e sachês de 100 gramas em conserva, para vender direto no varejo. Os principais mercados consumidores são Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. “Nosso plano é expandir o negócio e dobrar de tamanho até o fim do ano”, revela. Além de Tijucas do Sul, a cooperativa trabalha com produtores de Mandirituba, Paranaguá, Campo do Tenente, São José dos Pinhais e Quitandinha.
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