A Copa do Mundo pode não ter terminado bem para o Japão, que foi eliminado pela Bélgica no início da semana. Mas em Bastos, no Oeste de São Paulo, cidade colonizada por japoneses, um evento tão emocionante quanto o mundial de futebol mexe com os moradores e avicultores da região: o Concurso de Qualidade de Ovos.
Exagero? Nenhum outro lugar do país produz tantos ovos quanto Bastos. O município de apenas 20 mil habitantes tem estatísticas para lá de impressionantes. Ao todo, são 25 milhões de galinhas poedeiras que produzem 20,5 milhões de ovos por dia; ou 237 por segundo. Em 2017, foram mais de 10 bilhões de unidades, aproximadamente 20% da produção nacional (40 bilhões em 2017).
Entre os dias 11 e 15 de julho (datas que coincidem com os últimos jogos do Mundial da Fifa), granjas se transformam em seleções e buscam os títulos de melhores ovos nas categorias brancos, vermelhos e de codorna. O concurso – sempre realizado durante a Festa do Ovo – está na 59ª edição e é o mais antigo do mundo.
Tricampeão consecutivo (2009, 2010 e 2011) e destaque em outros anos, o presidente da comissão do concurso é o avicultor Rodrigo Takeo Ono, da granja Ono, fundada pelo pai Yoshio há 53 anos. Ele conta que no início, a avaliação era apenas visual. “No começo nós já sabíamos quem tinha mais chance vencer. Com o aprimoramento técnico e tecnológico, ficou mais emocionante”, conta.
Neste ano, conta Rodrigo Ono, a comissão será formada por 18 pessoas, com atuação em diferentes áreas, como genética, sanidade, pesquisa, nutrição e aditivos. Também é usada uma máquina, a Digital Egger, de fabricação japonesa. Entre os critérios de avaliação estão à densidade do ovo, resistência da casca, o frescor, a consistência e cor da gema, entre outros aspectos.
“No dia da competição, o avicultor tem até o meio dia para levar as amostras. São, mais ou menos, 65 amostras de ovos brancos, 45 de ovos vermelhos e 20 de codorna. Lá, eles são codificados. Nenhum produtor ou membro da comissão avaliadora têm acesso à origem. Quando começa o julgamento começa, ele é apenas visual. São selecionados 12 ovos brancos e 12 vermelhos. Os de codorna são premiados nesta etapa. No caso dos brancos e vermelhos, depois da avaliação visual, eles são analisados externamente: formato, tamanho, textura. Depois vem a analise interna, de coloração de gema. No fim é a máquina que avalia a coloração da gema, a espessura da casca e o frescor. Somado todos esses itens, saem os vencedores”, explica.
Segundo Rodrigo Ono, o concurso é tão importante que os ovos que vão para o concurso são preparados especificamente para ele. “O ovo do concurso, em muitos casos, não é o ovo que vai para mesa. Ele demanda mais tecnologia, recursos. No entanto, assim como em outras áreas de atuação, todo o trabalho que foi empregado na confecção daquele ovo acaba sendo adaptado e usado na indústria, seja em tecnologia ou em manejo. O concurso funciona como uma espécie de laboratório para o setor”, conta.
Neste ano, o concurso acontece no dia 11 de julho, uma quarta-feira, a partir das 9h, com transmissão ao vivo pelo Facebook. A alimentação e os cuidados diferenciados com as galinhas poedeiras, no entanto, começaram bem antes.
A entrega dos troféus e prêmios às granjas ranqueadas será no sábado, dia 14. A Festa do Ovo de Bastos acontece nos dias 13, 14 e 15 de julho, no pavilhão de exposições da cidade. Além da concurso, a Feira tem representantes de diferentes elos da cadeia produtiva, shows, praça de alimentação e atividades artísticas e culturais. O evento é promovido pela Prefeitura Municipal e a Associação Cultural e Esportiva Nikkey de Bastos.
Crise? Que crise?
Diferente da avicultura de corte, a postura comercial não sofreu embargos comerciais da União Europeia, não teve taxação chinesa nem foi alvo da Carne Fraca. O setor, aliás, dentro da cadeia de proteínas, é que mais cresceu nos últimos anos. A oferta em 2017 cresceu 2% no Brasil, um pouco acima da demanda.
De acordo com o produtor Christian Maki, proprietário da Granja Maki, os grandes entraves da avicultura de postura neste ano são os preços dos grãos e a greve dos caminheiros, que também causou transtornos na cadeia. “Ao longo daqueles dez dias, muitos produtores deixaram de receber ração”, conta. Filho de Katsuhide Maki, presidente do Sindicato Rural de Bastos, Christian diz que os reflexos ainda são sentidos. “O ano passado foi muito bom, mas o primeiro semestre deste ano foi bem difícil. O tabelamento do frete travou o mercado de grãos e gerou dúvidas no setor. Alguns estavam mais preparados, outros não”.
Outra preocupação de Maki são as fake news. “Surgiu uma onda nas redes sociais sobre um ovo de brinquedo fabricado na China. Isso cria um impacto no mercado. É preocupante. Isso não existe. O Brasil tem ovo de qualidade excelente”, diz.
Em relação à demanda, ele acredita que a onda fitness e os produtos derivados do ovo, como a albumina e Whey Protein, podem alavancar o consumo da proteína, que cresceu 40% na última década. Em 2017, o consumo per capita de ovo no Brasil é de 192 unidades por habitante/ano. A média mundial é de 230. “Há espaço para crescimento”, diz Maki, que está com 130 mil aves alojadas e uma produção diária de 70 mil ovos. “Nossa capacidade é maior, mas por questões de mercado estamos produzindo menos”.
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