Lar de 3,5 milhões de habitantes (mesma quantidade de pessoas que vive somente na Região Metropolitana de Curitiba), que vivem em uma área de 177 mil km²(o Paraná sozinho tem 199 mil km²), o Uruguai pode não ser grande, mas é eficiente no campo. Na última década, o país localizado às entro o oceano Atlântico e do rio da Prata aumentou em 50% a área dedicada à agricultura e em 70% sua produção.
Nesta safra, o país pretende colher 3,5 milhões de toneladas de soja, 1 milhão a mais do que na última temporada, quando sofreu problemas com o clima no plantio e na colheita. Segundo os produtores, a marca será facilmente alcançada. “Nunca tivemos uma safra tão boa assim”, diz Andrés Feuer, que administra o cultivo de 1.080 hectares na região em Paysandu, no Departamento de Rio Negro. Segundo Feuer, enquanto no ano passado a média não passou das 45 sacas por hectare (sc/ha), neste ciclo ela está em 53 sc/ha . “O tempo se comportou de maneira surpreendente”, explica.
O agrônomo Tomás Mayol, da empresa de insumos Solaris, que atua no Departamento de Mercedes, endossa o discurso. “No ano passado tivemos secas entre os meses de janeiro e fevereiro e muita chuva durante a colheita. Neste ano o tempo foi bastante regular. Estou há seis anos na região e nunca vi nada igual”, conta.
Preços e problemas
Mas não é apenas de boas notícias que vive o país. Com custos de produção e venda calculados em dólar, o Uruguai sente diretamente os efeitos da desvalorização da oleaginosa na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT). “Aqui não é muito comum à venda antecipada, ainda mais depois do fracasso do ano passado, isso faz com que muitos produtores percam dinheiro”, conta Feuer.
Como não há consumo interno, praticamente tudo que é produzido vai para exportação. “Nós temos um problema muito grande com o frete. Aqui, ele custa US$ 26 por tonelada. Um valor altíssimo. E não temos muita infraestrutura para armazenamento, o que acaba prejudicando nossa rentabilidade”, complementa.
O gerente comercial da empresa de consultoria TerraNova, em Paysandu, Fabricio Chinazzo, também avalia que o governo mais atrapalha do que ajuda. “Aqui no Uruguai, o produtor precisa estar capitalizado ou tomar dinheiro de bancos privados, que não têm linhas especiais de crédito para agricultores”, diz.
Segundo Chinazzo, o país poderia aumentar em 1 milhão de hectares o tamanho da área dedicada à agricultura, mas isso não acontece por causa de preços e dos pecuaristas. “O Uruguai tem muitas áreas boas para serem exploradas. Mas agricultura entra em choque com a pecuária, que é uma cultura muito enraizada no país. E os pecuaristas têm receio de entrar numa atividade que pode ou não dar lucro, dependendo do ano”.