Quando se fala em Tietê, é provável que a primeira imagem que venha à sua cabeça seja a de um rio sujo, de águas escuras, paradas e “mau cheirosas”. Não é para menos: o rio, que, na primeira metade do século 20, servia até para competições esportivas, acabou recebendo esgoto sem tratamento durante décadas, principalmente no curso pelos grandes centros urbanos, e ganhou essa triste aparência. Contudo, ela não reflete o todo. Em seus mais de mil quilômetros de extensão, o Tietê tem águas limpas, peixes e, graças a hidrovia Tietê-Paraná, que liga as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, constitui uma das mais importantes rotas para o agronegócio nacional. Tanto que, durante a crise hídrica de 2014 e 2015, a via permaneceu fechada e gerou um prejuízo de R$ 200 milhões, com cerca de mil funcionários demitidos.
Em 2016, no entanto, passada a estiagem, a hidrovia bateu o recorde em volume de cargas transportadas em seu curso. De 27 de janeiro, quando voltou a operar, até o mês de novembro, foram transportados 7,56 milhões de toneladas entre a cidade de São Simão, em Goiás, e o interior paulista, segundo o Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo (DH).
O maior volume anterior havia sido transportado em 2013, quando as barcaças carregaram 6,3 milhões de toneladas.
Animado, o setor volta a receber investimentos. O transporte na hidrovia ficou parado de maio de 2014 até janeiro deste ano. Com a crise hídrica, o nível do reservatório de Três Irmãos e da eclusa de Nova Avanhandava, no Tietê, baixou ao ponto de impedir totalmente a navegação. As barcaças carregadas com soja, milho, celulose e madeira que saíam de São Simão e Três Lagoas (MS) não conseguiam passar o trecho mais atingido pela estiagem.
Também foi prejudicada a movimentação de cargas de cana-de-açúcar e areia no trecho paulista. Naquele ano, o volume transportado caiu para 4,6 milhões de toneladas. Em 2015, com a hidrovia interrompida, o volume foi de 4,5 milhões.
Com o retorno dos comboios, os estaleiros também voltaram a receber encomendas de barcaças, segundo o Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo (Sindasp). Dos funcionários demitidos durante a suspensão do transporte, em torno de 500 já foram ou estão sendo recontratados.
A previsão do DH para 2017 é que o volume transportado apenas no trecho paulista chegue a 6,1 milhões de toneladas - 5,1 milhões de cargas de longo percurso e 1 milhão de toneladas de areia. Em toda a hidrovia o volume pode passar de 10 milhões/toneladas. Entre as cargas que mais utilizam a hidrovia estão cana-de-açúcar, farelo de soja, milho e soja a granel.
Turismo
O presidente do Consórcio Intermunicipal da Hidrovia Tietê-Paraná (CITP) e prefeito de Brotas (SP), Orlando Pereira Barreto Neto (PSL), prevê a retomada de negócios e do turismo fluvial na região. No dia 9 deste mês, o consórcio reuniu prefeitos eleitos em Brotas para discutir o potencial econômico da navegação.
A hidrovia tem 800 quilômetros navegáveis, passando por dez reservatórios, dez barragens e 23 pontes, numa área servida por 19 estaleiros e 30 terminais intermodais de carga. “O potencial a ser explorado é enorme. Vamos trabalhar com o governo para que as obras necessárias sejam realizadas”, afirmou o presidente do consórcio.
Para evitar que a oscilação no nível do rio volte a afetar o transporte, o governo de São Paulo abriu licitação para ampliar o canal de Nova Avanhandava. A previsão do DH é de que o processo licitatório seja concluído no início de 2017. A obra, orçada em R$ 286 milhões, consiste na escavação submersa de material rochoso em 10 quilômetros da hidrovia, aumentando a profundidade em 2,4 metros.
O DH informou já ter investido nos últimos cinco anos R$ 357 milhões em obras para eliminação de gargalos na hidrovia, como ampliação e proteção dos vãos entre pilares de pontes, retificação e desassoreamento de canais.
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