O impacto da tabela de frete rodoviário chegou às exportações e tem levado as empresas de transporte marítimo a praticarem um “overbooking” de até 200% nos navios.
O abalo também provocou uma queda das exportações -o que já foi percebido no segundo trimestre e deverá continuar ao longo deste ano, segundo relatório da Maersk Line, líder global em transporte marítimo.
O tabelamento do frete rodoviário foi uma das concessões do presidente Michel Temer para encerrar a paralisação dos caminhoneiros, em maio deste ano.
A medida sofreu críticas do agronegócio e da indústria, que questionam a constitucionalidade da tabela no STF (Supremo Tribunal Federal).
Além de provocar uma alta no custo do transporte rodoviário, estimada em 12% pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), a medida mudou a forma de negociar com os caminhoneiros.
“A negociação passou a ser diária, tanto do preço como da disponibilidade do caminhão na data escolhida. Como resultado, os clientes não conseguem prever com precisão quando a carga chegará [ao terminal portuário]”, afirma Antonio Dominguez, diretor da Maersk para a Costa Leste da América do Sul.
A partir daí, cria-se um efeito cascata: para garantir o espaço na embarcação, os exportadores fazem várias reservas para uma só carga.
Isso eleva o risco das empresas de transporte marítimo de ficarem esperando um carregamento que não vai chegar.
Com isso, as companhias passaram a fazer um “overbooking” de até 200% -ou seja, como já sabem que grande parte das cargas não chegarão, fazem duas vezes mais reservas do que de fato caberia no navio.
Mesmo com a medida, entre 15 de julho e 15 de agosto, 200 mil toneladas de mercadorias deixaram de ser exportadas por causa do problema, estima a companhia, que vai revisar para baixo suas perspectivas para este ano.
Inicialmente, a empresa previa uma alta de 1,3% nas exportações. Após a retração no segundo trimestre, porém, a empresa está mais pessimista - as novas projeções serão divulgadas em setembro.
Outros fatores também têm pressionado os exportadores, como a volatilidade do câmbio e safras fortes, como a do algodão, que ampliaram os volumes a serem enviados, aponta o relatório.
Segundo Dominguez, os grandes exportadores têm chegado aos terminais com metade da carga para a qual reservaram espaço, e muitos clientes menores simplesmente não aparecem.
Para o diretor-geral da Anea (Associação Nacional dos Exportadores de Algodão), Sérgio Mendes, o não aparecimento das cargas reservadas se deve ao forte aumento do frete, ao menos no caso das empresas menores. “Hoje, as grandes estão assumindo esses custos, as pequenas nem sempre conseguem”, diz.
A prática de “overbooking” começou em 2016, quando a crise econômica derrubou as importações. Isso levou as companhias marítimas a reduzir sua frota no Brasil, aumentando a necessidade de otimizar o espaço disponível.
À época, porém, a situação era menos grave: a reserva adicional de segurança era de 10% do espaço. O quadro se agravou a partir da paralisação dos caminhoneiros.
Por enquanto, a solução tem passado por uma maior comunicação entre exportadores e armadores, para que estes sejam pelo menos avisados quando a carga não for chegar.
O ideal para as empresas de transporte marítimo, porém, seria que o pagamento fosse feito no ato da reserva -como ocorre nas companhias aéreas, por exemplo-, para coibir essas reservas adicionais, que hoje não são cobradas, afirmou Dominguez.
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