O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, acredita que o pior do escândalo provocado pela denúncia do uso de substâncias para mascarar produtos de origem animal inaptos ao consumo humano ficou para trás.
O caso deixou a população brasileira em alerta e fechou os principais mercados importadores de carne nacional ao revelar um esquema envolvendo inspetores sanitários corrompidos por frigoríficos e negócios bilionários, enquanto o país atravessa uma crise de credibilidade desde o escândalo do Petrolão e o início da Operação ‘Lava Jato’.
Maggi assegura que a carne brasileira não representa riscos sanitários e considerou que o setor pode perder 1,5 bilhão de dólares em vendas.
Veja a seguir os principais trechos de uma entrevista concedida à AFP nesta quinta-feira em Brasília.
Qual é o estado atual da crise?
R: Vivemos uma crise no Brasil pela divulgação da operação [policial] para desbaratar e tirar de circulação alguns indivíduos, alguns servidores públicos que foram corrompidos. Mas em nenhum momento tivemos acusações relativas à qualidade dos produtos, principalmente aqueles que nós exportamos. Neste momento, nossa grande preocupação é separar essas duas coisas: mostrar que a produção brasileira está bem, é forte, e que as pessoas envolvidas já foram afastadas, foram demitidas, e vão responder a processos conforme a legislação brasileira.
Espera o fechamento de mais mercados?
R: Acredito que a parte aguda do processo nós já passamos. Os países estão tendo boa vontade, estão entendendo todos os processos de anos e anos de comércio que construímos, somado ao fato de que os próprios importadores também nos auditam, assim eles têm a certeza de que nossos processos são bons.
Alguns dos lotes de carne questionados pela polícia chegaram a sair do Brasil?
R: Só havia uma planta (das 21 investigadas) que ainda estava exportando. Já pedimos a devolução de todos os contêineres que estavam em trânsito. Não há risco de que um país receba os produtos que foram embarcados recentemente dessas 21 plantas sob investigação. [ Maggi explicou em uma coletiva de imprensa que existem 5.000 contêineres com produtos de origem animal brasileiros em alto mar, principalmente com mercadorias que não estão sob suspeita, e disse esperar que sejam recebidos]
A reação dos importadores foi exagerada?
R: A reação é absolutamente normal e esperada. Não é possível que um país como o Brasil, que é um grande exportador de alimentos, comunique que tem um problema e que os outros países simplesmente fiquem olhando. Estamos dando as explicações devidas, estamos circunstanciados num problema pontual, local, e queremos levar tranquilidade aos países compradores e aos consumidores domésticos e mostrar que o problema diz respeito à conduta de algumas pessoas e não do processamento de alimentos.
Foram usados produtos cancerígenos e etiquetas adulteradas para estender a validade dos cortes?
R: Quando se discute o uso de ácidos ou produtos que são prejudiciais para a saúde, que são cancerígenos, isso não é verdadeiro. O que se utilizada na carne é o ácido ascórbico, proteínas, conservantes, são produtos autorizados.
A investigação policial começou há dois anos, o que aconteceu nesse período com os produtos reportados?
R: Essa é uma das falhas da operação, porque se uma operação tem sido conduzida há dois anos, deveria ter sido comunicado à população brasileira que havia produtos que estavam sendo produzidos de forma incorreta. Os laudos entregues pela polícia foram muito poucos, apenas um ou dois laudos. Nós não tivemos acesso ao processo como um todo. A Polícia Federal errou na hora da comunicação, exagerou em alguns exemplos e estimulou a imaginação popular: a carne que não presta, ingredientes que não podem ser utilizados. Tudo isso não é verdade, tecnicamente não é possível.
O problema é de corrupção, de saúde pública, de comunicação?
R: De corrupção e de pessoas. Não vejo neste processo qualquer possibilidade de que haja produtos que possam fazer mal à saúde das pessoas.
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