O sabor inigualável dos queijos de Witmarsum, tão conhecido pelos paranaenses, agora ganhou um impulso para torná-lo famoso em todo o país. A Cooperativa Agroindustrial Witmarsum acaba de receber a primeira certificação de Indicação Geográfica (IG) concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para uma indústria de laticínios que produz sob o Sistema de Fiscalização Federal (SIF). Os queijos Colonial e Colonial com Pimenta Verde, produzidos pela cooperativa, foram atestados com o selo de procedência de origem e se juntaram a uma lista de 49 produtos brasileiros certificados com IG.
A certificação é uma espécie de “carimbo de origem”, que atesta a originalidade e garantia de qualidade desses produtos. “Fizemos um projeto em parceria com o Sebrae, que ajudou na parte técnica, e encaminhamos ao INPI. Ele traz toda a rastreabilidade do produto, desde a matéria prima que vai para o queijo. Também comprovamos o aspecto sanitário do rebanho, o que o gado come e o leite que ele produz. É uma fórmula nossa, não existe outro queijo e ele só pode ser fabricado com o leite produzido em Witmarsum”, explica Artur Sawatzky, presidente da cooperativa.
O projeto ainda mapeou com coordenadas georeferenciadas uma área de 7,8 mil hectares da Colônia Witmarsum, que fica em Palmeira, onde estão os produtores dos queijos. “Agora o INPI sabe quem são os produtores e como produzem”, resume Sawatzky. Segundo ele, não foi fácil conseguir a certificação. Desde o início do projeto até receber o selo foram 4 anos.
Controle de qualidade
Para a cooperativa, de acordo com seu presidente, a IG representará um estímulo para manter os controles de qualidade dos produtos, agregar valor comercial e, quem sabe, até pensar em exportação. “É uma tendência mundial o surgimento de produtos feitos numa determinada região e ter isso como forma de valorizar a pequena e média produção regional. Isso dá uma garantia de qualidade e de procedência também.”
Durante o 3º Evento Internacional de Indicações Geográficas e Marcas Coletivas, realizado em Belo Horizonte (MG), na quinta-feira (9), além de receberem a certificação de IG, os produtores e especialistas discutiram as tendências desse mercado, que no exterior está em um estágio mais avançado. Somente a França possui cerca de 3 mil produtos certificados com indicação geográfica.
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Para Sawatzky, o mercado brasileiro de IGs ainda tem muito a evoluir. “A regulamentação de algumas coisas ainda não está muito clara. Cada produto tem a sua particularidade que é preciso levar em consideração. Precisamos usar melhor os exemplos que vêm de fora, explorar o potencial das marcas. Por exemplo, poderíamos ter marcas coletivas de indicação geográfica, com produtos diversos feitos na mesma região”, afirma.
Exigência europeia
Como parte das negociações para um acordo comercial com o Mercosul, a União Europeia solicitou ao Brasil e aos demais países membros o reconhecimento de mais de 300 indicações geográficas (IGs) registradas no bloco europeu. Com isso, os produtores brasileiros não podem mais usar termos como “gorgonzola”, “brie” e “prosecco” em seus queijos e vinhos.
Isso porque as IGs identificam produtos cujo local de produção tenha se tornado conhecido ou quando suas características estão atreladas ao meio geográfico de origem. É o que acontece com a champanhe, por exemplo, que só é chamada assim se vier da região de Champagne, na França.
A pressão europeia sobre seus produtos regionais tem feito os produtores brasileiros e o governo revejam a nomenclatura desses produtos, geralmente feitos com ingredientes locais, com paladar próximo do original, mas sem as mesmas características. Mesmo o famoso recurso do “tipo” brie, “tipo” gorgozola, que a indústria brasileira costuma utilizar, pode ser considerado uma violação dos direitos de propriedade intelectual.