Enquanto isso, aqui no Brasil, o ministro Blairo Maggi, que é político e agricultor, enfrenta dificuldades políticas e de caixa para garantir os recursos e definir as regras ao financiamento do ciclo 2017/18. Em um ambiente pouco favorável, há dúvidas e muito suspense em relação ao crédito e as taxas de juros que serão disponibilizadas. No ano passado foram R$ 183,8 bilhões. A expectativa para este ano, conforme o Ministério da Agricultura (Mapa), é de R$ 192,5 bilhões, 4,8% maior que no exercício anterior. Pela primeira vez em mais de 20 anos, no ano passado houve uma redução no valor destinado pelo governo ao Plano Safra. Em 2015/17 foram R$ 187,7 bilhões. Agora, o Mapa trabalha para retomar na próxima temporada os reajustes nos recursos destinados ao custeio e comercialização.
A preocupação está com o volume de recursos a juros controlados, que pode ser menor que em 2016/17. De pouco adianta ter mais crédito se esse crédito fica mais caro e seletivo. As linhas de crédito que não têm juros controlados são a juros livres, que seguem as regras do mercado. Ou seja, não são juros equacionados e subsidiados pelo Tesouro Nacional, o que de certa forma encarece e dificulta sua contratação pelo produtor rural. É quase como se o tomador do crédito fosse direto ao agente financeiro e não precisasse do Plano Safra, apenas de CPF sem restrição para contratar crédito a juros de mercado. Os juros de novo ciclo dificilmente terão espaço para baixar. Eles devem permanecer os mesmos, entre 8,5% e 12%.
Esse também será o primeiro Plano Safra da era Blairo Maggi. Chegou, portanto, a hora de o ministro, político e produtor dizer a que veio, por que está no Mapa e quais interesses ele defende, que não apenas do governo, mas do setor que ele representa. Outro detalhe é que, em relação ao ano passado, quando as regras foram anunciadas no dia 4 de maio, o novo Plano Safra, que começa a vigora em 1.º de junho, já vai chegar atrasado.
“Habemus” secretário nos EUA
Os Estados Unidos finalmente têm um novo secretário da Agricultura para comandar o USDA, o departamento de agricultura norte-americano. Sonny Perdue foi confirmado pelo Senado na semana passada, mais de três meses depois da sua indicação e da posse de Donald Trump ao governo do país. Isso mesmo. Os Estados Unidos ficaram todo esse tempo sem um titular para comandar o setor que faz dos Estados Unidos o maior produtor mundial de grãos e cereais.
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Doutor em Medicina Veterinária, Perdue não é necessariamente um homem do agronegócio. Suas fortes convicções nacionalistas o levaram ao Senado e depois ao governo da Geórgia. De qualquer forma, entre as indicações para o cargo foi o nome com menor rejeição pelo agronegócio. A confirmação de Perdue está em linha com o discurso também nacionalista, mais político e impulsivo do que técnico do presidente Trump.
O ex-secretário Tom Vilsack, que esteve à frente do USDA nas duas gestões do então presidente Barack Obama, veio do corpo técnico-administrativo do próprio Departamento de Agricultura, além de ser agricultor. Sempre presente no discurso de Vilsack, a questão da rentabilidade na atividade agrícola, que impacta no problema social do êxodo rural e da sucessão o campo, será um dos grandes desafios de Perdue.
Menos recursos e renda
O novo secretário assume o USDA no momento em que o governo o propõe uma redução de 21% no orçamento da pasta. E que as margens no campo estão no limite, quando não no vermelho. A renda também é a mais baixa em cinco anos. Estudo realizado pelo USDA em 2016 revela uma renda 30% menor que em 2013. O cenário é fruto de um período de safras cheias e estoques mundiais em alta ao redor do mundo, que afeta não apenas os Estados Unidos como todos os players de oferta e demanda.
Em resumo, o USDA tem um secretário mais político e menos técnico do que na gestão anterior. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos deve ter um corte acima de 20% no seu orçamento. E a agricultura do país, pelo menos naquilo que compete ao governo, está mais aparelhada politicamente. Com um viés menos técnico, com menos foco e menos recursos, o risco é de se tornar menos competitivo.
Com 550 milhões de toneladas de milho, soja e trigo, é importante lembrar que a agricultura dos Estados Unidos é grande para o mundo. Mas pequena para a economia daquele país, onde representa menos de 10% do GDP, o Gross Domestic Product, similar ao Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, o que talvez ajude a explicar a pouca atenção do empresário Donald Trump ao setor. No Brasil, a título de comparação, a participação já se aproximada dos 25%.
Mas por que o perfil, a postura e a orientação do secretário dos Estados Unidos interessa ao Brasil? Porque no agronegócio globalizado e cada vez mais competitivo, problemas nos Estados Unidos podem representar oportunidade para o Brasil e a América do Sul, principalmente no tocante à maior produção e no comércio internacional.
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