Com margens de rentabilidade apertadas, a produção de leite em escala industrial busca cada vez mais obter a melhor performance possível das vacas leiteiras. Para minimizar as perdas, os produtores investem no monitoramento eletrônico dos animais. Com isso é possível saber tudo que a vaca está fazendo, e em tempo real.
Uma novidade que acaba de chegar no mercado brasileiro são os brincos auriculares que possuem uma espécie de chip espião para monitorar a rotina das vacas, passando informações para um software sobre a atividade animal (os movimentos mastigatórios e de ruminação); o estresse térmico (medido pela forma como a vaca respira); e o tempo que ela passa comendo.
Com base nessas informações, o computador obtém outros dados importantes, como saber se o animal está no cio e qual o melhor momento para fazer a inseminação. Pelos números é possível também saber se ele está doente e tratar os casos mais críticos primeiro, o que evita perdas na produção de leite e até, em casos extremos, a morte do animal, conforme explica o médico veterinário Jerônimo Silveira Ribeiro, técnico comercial da Allflex, empresa que trouxe o produto para o Brasil.
A tecnologia do dispositivo auricular, que já é usada em outros países, é a mesma dos colares de monitoramento, mas com a facilidade de o brinco ser mais discreto e custar 60% menos. A novidade foi apresentada durante o Agroleite 2018, evento dedicado ao setor produtivo leiteiro, que ocorreu em Castro (PR) de 14 a 18 de agosto.
O brinco espião oferece a opção de o produtor escolher quais parâmetros do rebanho quer monitorar, como por exemplo a saúde do animal ou fatores ligados à reprodução ou ainda fazer o monitoramento de grupo. Os dados são disponibilizados em diversos dispositivos eletrônicos, como PC, celular, tablet ou painel dedicado especialmente para essa finalidade.
O brinco é basicamente um acelerômetro, conforme explica Ribeiro. É como se fosse um medidor eletrônico de esteira usada pelas pessoas em exercícios físicos. Ele capta o padrão dos movimentos do animal, interpretando o que está acontecendo e o que esse movimento quer dizer. Os chips dos brincos captam os dados e enviam ao software, que através de algoritmos faz o cálculo com base num enorme banco de dados de atividade das vacas.
Apesar de custar menos que o colar, o brinco tem uma vida útil menor – 3 anos, ante 7 anos do colar. O custo do sistema no caso do primeiro gira em torno de R$ 350 por cabeça; o segundo custa R$ 565. Cada ponto de recepção (antena) consegue monitorar até mil cabeças de gado, mas o software não tem um limite de monitoramento.
A tal base de dados na qual o sistema se baseia são informações coletadas de 6 milhões de vacas ao redor do mundo que utilizam o sistema de monitoramento, atualizado mensalmente. No Brasil, mais de 20 mil cabeças de gado são monitoradas eletronicamente, mas somente por colar eletrônico.
O brinco, que é novidade, está presente em apenas 120 animais, os pioneiros no uso desse equipamento na América do Sul. As vacas escolhidas são da Associação Instituto Cristão (IC), de Castro, que pertence ao Grupo Mackenzie.
Margem de lucro
Jerônimo Ribeiro, que também é produtor de leite na região de Castro, diz que os sistemas de monitoramento eletrônico são importantes para evitar perdas na produção. “A margem de lucro da pecuária é muito pequena. Na propriedade da nossa família fizemos um levantamento da lucratividade dos últimos anos e a média foi de 8% apenas”, afirma. Por isso, segundo ele, é tão importante otimizar a produção.
A região de Castro tem uma produção leiteira bem acima da média nacional. Enquanto ali se produz ao ano 7.478 litros por vaca, no resto do país a média é de 1.709 litros ao ano. De acordo com Ribeiro, o gado pode produzir ainda mais e se aproximar, quem sabe, dos números de Israel. O país do Oriente Médio beira 13 mil litros de leite por vaca ao ano. “A tecnologia é um caminho sem volta. O monitoramento da saúde dos animais é fundamental para o produtor”, conclui Ribeiro.
Deixe sua opinião