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“A picanha não vai cair para R$ 25 só porque o país deixou de exportar. É uma equação complicada, em que o produtor e consumidor são prejudicados”, diz o professor Paulo Rossi, da UFPR. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
“A picanha não vai cair para R$ 25 só porque o país deixou de exportar. É uma equação complicada, em que o produtor e consumidor são prejudicados”, diz o professor Paulo Rossi, da UFPR.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A conta parece simples. Sem o mercado internacional, que consome 20% dos 9,6 milhões de toneladas de carne bovina produzidas anualmente pelo Brasil, o excedente vai invadir o varejo e a carne vai ficar mais barata. Certo? Não é bem assim. Segundo o coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura (Lapbov), da UFPR, Paulo Rossi, desde o início da crise econômica, no fim 2014, o consumo per capita de carne vermelha no país caiu de 40 kg por habitante/ano para 35 kg. Para compensar a perda, os frigoríficos compram menos matéria-prima, o que aumenta o custo de produção dos produtores, obrigados a ficar mais tempo com o animal confinado. “A notícia da operação veio num péssimo momento. Se o embargo realmente for confirmado, o produtor vai ligar para o dono do frigorífico tentando vender o animal e o frigorífico vai responder que só tem como abater o boi em três semanas. Quem vai arcar com os custos? É o pecuarista”, explica.

Paulo Rossi conta que a cotação do arroba do boi gordo caiu 1% no Paraná apenas nesta segunda-feira (20), para R$ 147,21. Cada animal tem, em média, 18 arrobas. “O valor está muito próximo dos R$ 145 por arroba, que é o custo de produção. As margens estão muito limitadas”, afirma. O coordenador do Lapbov também cita o varejo, que ao longo da crise não diminuiu as margens. “Ninguém sabe ao certo o tamanho da margem deles. E isso não vai mudar. A picanha não vai cair para R$ 25 só porque o país deixou de exportar. É uma equação complicada, em que o produtor e consumidor são prejudicados”.

O consultor da OD Consulting,Osler Desouzart, que foi diretor de Comércio Exterior da Sadia e Perdigão (atual BRF), afirma que em um fim de semana, a Carne Fraca destruiu o que levou 40 anos para ser construído. “Uma operação que colocou sob suspeita 0,3% da inspeção e 0,45% dos abatedouros pode ser responsável por um estrago que vai durar anos. É claro que o produtor e consumidor serão punidos. Tudo por causa de 21 frigoríficos e 33 funcionários”, reclama.

Para o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Afrânio Brandão, a ação da Polícia Federal contra a corrupção precisa ser louvada e ampliada, mas não pode prejudicar todo um setor. “Quem paga por isso são os produtores”. O presidente da Associação Paranaense de Suinocultores concorda, mas teme os efeitos. “A suinocultura passou por dificuldades no ano passado, com a alta no preço do milho. Agora que nós estamos nos recuperando vem uma notícia dessa, claro que ficamos receosos com o que pode acontecer”, diz.

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