Pense em como transformar uma espiga de milho num cordeiro de 18 kg. Falando assim, parece mágica. Mas, no agronegócio, isso é real e tem até nome: produção verticalizada.
“Nosso cordeiro um dia foi uma semente de milho. Fazemos o plantio do milho, que se torna a ração da ovelha, que vai gerar os cordeiros. Após desmamar, esse cordeiro entra em fase de recria, passando para a ração, e depois para a engorda. Entre quatro e cinco meses, ele vai para o abate. E essa carne chega refrigerada aqui, toda semana temos carne fresquinha”.
Quem explica o passo a passo é Rodrigo Barros, produtor rural e dono do grupo Cordeiro Macio, que tem fazendas de ovinos na região de Uraí, no Norte do Paraná.
Recentemente, o grupo comprou um dos restaurantes mais tradicionais de Curitiba, o “Ripas e Costelas”, e, assim, fechou o ciclo produtivo do cordeiro, controlando desde o grão que alimenta os animais até carne assada que chega quentinha à mesa.
O criador defende que a produção vertical apresenta duas vantagens primordiais, uma em cada ponta da cadeia. Do lado do consumidor, é uma garantia de origem daquilo que ele está comendo. Já para o produtor rural, a ausência de intermediários entre o campo e a mesa potencializa a renda. “Uma vez que eu coloco no mercado final, é cobrado um único ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços]. Se eu preciso que outras pessoas façam a distribuição e venda, esses encargos são incidentes diversas vezes”, salienta Barros. “A verticalização representa faturamento máximo possível, perde apenas para as exportações.”
No entanto, somente a origem e a rentabilidade não garantem aquilo que mais importa no prato: o sabor. Neste ponto, ser vertical também é um diferencial. Além de controlar todas as etapas do processo produtivo, o grupo tem uma noção mais precisa da demanda. Ou seja, não falta nem sobra carne no restaurante, que também funciona como um “açougue” particular, vendendo carne de cordeiro diariamente.
Os animais são trazidos do Norte paranaense e abatidos no meio do caminho. “A carne chega aqui refrigerada, e não congelada. Tudo isso dá um ganho de qualidade”, diz o empresário. “E o nosso cordeiro não entrou em fase reprodutiva, então não existe aquele mito do cheiro forte da carne. Esse é o caso de animais mais velhos, o cordeiro é muito macio.”
O sucesso se reflete nos planos de expansão. Atualmente, o restaurante – que reabriu em janeiro sob a nova direção - serve até 900 kg de carne de cordeiro por mês. “Temos uma produção em torno de 50 animais por mês e a nossa meta é chegar a 100 animais até o final do ano, isso daria duas toneladas de carne”, pontua Barros. “E tem demanda para isso. Hoje, 70% do consumo vêm da carne de cordeiro.”
Falta cordeiro para a fome do brasileiro
Embora não falte fome nem cliente, a criação de cordeiros no Brasil está longe de abastecer sequer o mercado interno. Em geral a produção é pouco tecnificada e de baixo valor agregado, o que limita os investimentos, segundo pesquisas da Embrapa.
Com pouca organização, faltam informações, inclusive sobre o consumo. Estudos apontam para números que vão desde 0,7kg/habitante/ano a 1,5kg/habitante/ano, isto é, mais que o dobro. Para comparar: no caso da carne suína, uma das que ainda apresenta maior potencial de crescimento, são 15 kg consumidos por cada habitante todos os anos.
O rebanho total de ovinos no Brasil é estimado em 18,4 milhões de cabeças conforme o levantamento mais recente do IBGE, o que, estima-se, garante apenas cerca de 20% do consumo de cordeiro por aqui. Todo o restante é trazido de países como Uruguai, Argentina Austrália e até Nova Zelândia.
Principal produtor de frango e o segundo de suínos, quando o assunto é cordeiro, o Paraná responde por apenas 3% do rebanho nacional. Embora a concentração esteja no Nordeste do país, o Rio Grande do Sul, por exemplo, tem 3,5 milhões de cabeças e 19% de participação no efetivo nacional.
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