Os títulos corporativos ligados ao setor agrícola caíram no gosto do investidor pela isenção do Imposto de Renda e pela escassez das já familiares Letras de Crédito Agrícola (LCA) no mercado. Esses papéis, chamados de CRA, hoje estão restritos a investidores qualificados, mas discussões em curso podem torná-los mais acessíveis - o que divide opiniões, uma vez que oferecem mais riscos.
Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) são títulos privados de dívida emitidos por uma empresa para captar recursos no mercado.
A maioria desses investimentos ainda está disponível somente para investidores que têm mais de R$ 1 milhão. No entanto, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está com uma audiência pública aberta até o dia 14 de julho que busca, entre outras propostas, delimitar os CRAs que podem ser adquiridos por investidores menores - bem como os critérios de proteção.
Um dos motivos para o CRA ficar mais acessível é o mercado aquecido. Nos primeiros quatro meses de 2017, foram registrados mais de R$ 3 bilhões em CRAs na B3 (antiga BM&F Bovespa), elevando o estoque desses papéis para mais de R$ 20 bilhões - mais que o dobro dos R$ 9 bilhões verificados no mesmo período do ano passado.
Para André Lassance, chefe de Renda Fixa da XP, a abertura para os investidores em geral vai depender da estrutura de cada certificado. “Estamos analisando a consulta pública da CVM. A abertura poderia ocorrer sob determinadas características”, diz.
A XP coordenou a oferta de CRA da empresa de fast-food Burguer King no ano passado. A decisão da CVM de permitir a oferta de uma empresa que não faz parte da cadeia produtiva do setor ajudou no aumento de emissões.
Risco
Myrian Lund, professora da FGV, explica que, apesar de a operação ter risco reduzido, já que a emissão tem garantia do grupo do qual a emissora faz parte, existe ainda o risco de mercado e o de liquidez, que exigem um investidor mais atento. “Quem tem R$ 1 milhão se preocupa mais sobre o destino do dinheiro. Já o pequeno investidor vai na onda.”
A principal diferença em relação às LCAs é não ter cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Michael Viriato, professor de Finanças do Insper, explica que o CRA pode não ser pago, por isso, não deveria representar uma parcela significativa do portfólio, “no melhor dos casos, 3%”.
Marcio Cardoso, da Easynvest, acredita que os CRAs são um bom ingrediente para a sopa de letras que compõe a carteira do investidor. “Se ele pode ter LCI, LCA e COE, porque não o CRA?”, questiona.
Cardoso lembra que esses investimentos até pouco tempo também eram desconhecidos.Os CRAs se destacam por ter menos risco que fundos multimercado, por exemplo, diz Maria Eugênia, da área de Private do Santander. Para ela, com a queda da taxa Selic os CRAs têm aparecido como boa alternativa.
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