Amorexia fala do amor profundo num cabaré

• 0

É estranho que o diretor Thadeu Peronne tenha situado uma peça em que deseja falar do amor profundo num cabaré, local por excelência de “celebração da carne”. Mas no antro onde se situa Amorexia, que retorna aos palcos amanhã, a alma se desvela.

“Carnal não significa superficial. O desafio real era falar de tudo isso com comédia”, diz Peronne. Dessa intenção nasceu o espetáculo tragicômico, que ele também define como “bizarro” e “surreal”.

O ponto de partida foram quatro textos do dramaturgo Douglas Daronco, que, assim como Peronne, passou pelo Núcleo de Dramaturgia do Sesi-PR.

Ainda no hall de entrada do Guairinha, um mestre de cerimônias e sua melindrosa recepcionam o público e o convidam para entrar no cabaré, demarcando assim o espaço fictício em que serão apresentadas as atrações da noite.

Na atuação, o diretor Peronne se une a Marcelina Fialho e Marvhem HD, este último agregando às canções de cabaré um timbre considerado raro, o de contratenor.

As quatro narrativas começam e acabam sem muito alarde, mesmo tratando de temas diferentes e com personagens próprios. “Desejo” é a primeira. Com ecos de Nelson Rodrigues, os atores narram a história de um homem que sonha encontrar a própria mulher num cabaré.

“Da Natureza dos Peixes” enfia o pé no tragicômico, em que uma família se degrada mas se mantém unida.

“A Ferida” é um monólogo sobre a crueldade, momento de maior realismo do espetáculo inteiro.

Por fim, “As Cegas” procura um clima fantasmagórico.

O destaque nesse retorno da peça são participações especiais, como se fossem audições para o cabaré – uma homenagem à cena semelhante que o ator Mario Schoemberger (1952-2008) fazia em Uma Coisa Bem Bonita, de Marcelo Jorge. Na reestreia de amanhã, Luan Machado trará cenas do butô japonês.