“Despertei horrorizado; gotas de suor frio cobriam minha testa, batia os dentes e todos os meus membros se agitavam em convulsão: foi quando, à luz desmaiada e amarelada da lua, a qual forçava passagem pelas frestas da veneziana, contemplei a criatura – o monstro miserável que criara. Segurava suspenso o cortinado da cama; e aqueles olhos, se é que podiam assim ser chamados, estavam fixos em mim. A mandíbula se abriu e ele balbuciou uns sons inarticulados, o vinco nas bochechas marcando um sorriso. Talvez tenha falado, mas não escutei; uma das mãos, esticada, parecia querer me deter, mas escapei e voei escada abaixo. Refugiei-me no pátio interno que pertencia à mesma casa onde eu vivia; ali permaneci o resto da noite, caminhando de lá para cá na maior agitação, ouvidos atentos a captar e temer cada som, como se viesse anunciar a aproximação do cadáver demoníaco ao qual eu, num ato dos mais infelizes, dera vida.
Dividi algumas madrugadas com “Frankenstein”
Tradutor curitibano relata a experiência de verter ao português o clássico de horror da escritora Mary Shelly
Leia a matéria completa“Ah! Nenhum mortal poderia suportar o horror daquele rosto. Uma múmia a que se devolvesse a vida não seria tão horrenda quanto aquele ser miserável. Eu o contemplara antes de concluí-lo; já era feio; mas, quando aqueles músculos e juntas se tornaram capazes de movimento, transformou-se em algo que nem mesmo Dante conseguiria conceber.
“Passei muito mal a noite. Havia momentos em que meu pulso latejava tão forte e rápido que sentia a palpitação em cada uma de minhas artérias; noutros, quase desabava ao chão, tão debilitado e fraco estava. Misturava-se ao horror a amargura da decepção; sonhos que antes, e por tanto tempo, foram meu alimento e meu alegre repouso agora se transformavam num inferno para mim; e que rápida mudança, que ruína tão completa!”