O cantor Wesley Safadão afirmou na noite de sábado (25) que vai doar todo o cachê do show que fez em Caruaru (PE) para instituições de caridade locais. A decisão ocorre após polêmica envolvendo o valor pago ao músico -R$ 575 mil- em meio à crise econômica que afeta a cidade pernambucana.
O anúncio foi feito durante um intervalo da apresentação. “O que quero dizer para vocês agora é que tudo o que eu fiz agora, todo o meu cachê, eu não vou pegar um centavo desse dinheiro hoje”, afirmou, em vídeo disponibilizado em sua página oficial no Facebook.
“Todo o meu cachê vai ser revertido para as instituições de caridade de Caruaru (...) Então está certo, vou receber o cachê? Vou, mas vai ser todo doado”, afirmou o cantor. “E eu fiz questão de falar isso em público. Porque existe uma oposição que vai meter o cacete na prefeitura, que tem que falar mal e tal. Mas acabou sobrando para quem não tinha nada a ver com parada”, disse.
Safadão também criticou o governo. “Várias pessoas foram no meu Instagram dizer que ‘tu tá tirando dinheiro de Caruaru, Caruaru está assim, está assado’. Gente, o problema do país não é culpa minha não”, afirmou. “É o governo que tem que resolver, é o governo que tem que pagar bem aos professores, é o governo que tem que pagar bem. Não sou eu não”.
O show chegou a ser suspenso pela justiça, mas a prefeitura derrubou a liminar e manteve a apresentação.
O valor de R$ 575 mil seria 85% maior do pago pela prefeitura pelo mesmo artista na festa junina do ano passado. A cifra também é bem superior à que o cantor de forró receberá para cantar no São João de Campina Grande, na Paraíba: R$ 295 mil, sendo R$ 195 mil da prefeitura e R$ 100 mil de um patrocinador.
Em nota, a prefeitura de Caruaru diz que o cachê é compatível com o valor de mercado no artista e informa que outras cidades, como Patos (PB), pagaram cachê semelhante.
Além dos R$ 575 mil destinados ao cantor, a prefeitura de Caruaru gastará outros R$ 3,5 milhões com a contratação de artistas para o São João.
Emergência
Os gastos contrastam com a situação financeira e social do município, comandado pelo prefeito José Queiroz (PDT). Enfrentando os efeitos da estiagem, Caruaru teve situação emergência decretada pelo Ministério da Integração Nacional em maio.
A cidade de 347 mil habitantes vive uma situação insegurança hídrica: na maioria dos bairros, os moradores recebem água por quatro dias e ficam outros oito sem abastecimento, em sistema de rodízio.
A prefeitura também vive um cenário de crise financeira. Entre janeiro e abril deste ano, a arrecadação do município foi de 187,9 milhões, uma queda de 8% comparado ao mesmo período do ano passado, em valores corrigidos pela inflação.
O gasto com pessoal está em 55,4% da receita, acima dos limite previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Nesta segunda-feira (20), os gastos com cachês foram questionados pelo Ministério Público Federal, pelo Ministério Público do Estado de Pernambuco e pelo Ministério Público de Contas.